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sábado, 12 de outubro de 2024

Crianças almoçando com telas: um vício que causa malefícios

Ganho de peso, paladar seletivo, consumo de ultraprocessados, isolamento, má relação com a comida e tantas outras consequências, ao permitir que crianças comam diante de telas. Uma pediatra e uma fonoaudióloga indicam o caminho para a família reverter essa dependência nociva 

 

Nada como estar em frente a uma tela para que a criança estabeleça uma relação ruim com a comida e leve isso para toda a vida adulta. Em tempos de alimentos ultraprocessados, é só adicionar o celular ou um tablet e tem-se a fundação de um território inóspito para a saúde. Diante desse vício da contemporaneidade, a Prof. Dra. Elisabeth Fernandes, pediatra com doutorado pela FMUSP e médica da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e Carla Deliberato, fonoaudióloga especialista em motricidade oral com enfoque em alimentação oferecem informação e caminhos para a família trilhar uma nova e saudável direção. 

Segundo a Prof. Dra. Elisabeth, o hábito de usar telas enquanto come pode desviar a atenção da criança dos sinais naturais de fome e saciedade, levando ao consumo excessivo ou insuficiente de alimentos. “Quando a criança está focada em um desenho ou jogo, ela perde a percepção de quando está satisfeita, o que pode resultar em uma ingestão desequilibrada", explica, mencionando ainda o aumento no consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, gordura e sódio. 

Carla Deliberato complementa, destacando que o aprendizado alimentar é um processo que requer interação e atenção. “Diante da tela, a criança não explora os alimentos, não toca, não sente os aromas e sabores, e isso impacta na forma como ela se relaciona com a comida”, afirma.

 

Seletividade 

Outro ponto destacado pelas especialistas é a relação entre o uso de telas e a seletividade alimentar. A Prof. Dra. Elisabeth explica que a distração com as telas nas refeições pode tornar mais difícil a introdução de novos alimentos. “A criança tende a ficar mais focada no entretenimento da tela do que em experimentar diferentes sabores e texturas, o que reforça uma dieta monótona e limitada.” Carla reforça essa ideia, afirmando que a atenção voltada à tela impede que a criança veja o que outras pessoas estão comendo, reduzindo suas chances de experimentar novos alimentos e contribuindo para comportamentos alimentares seletivos.

 

Ganho de peso 

Dra. Elisabeth Fernandes alerta que o uso excessivo de telas pode levar ao sedentarismo e ao consumo de alimentos não saudáveis, influenciados pela publicidade voltada ao público infantil. “Esse hábito reduz o gasto energético e incentiva o consumo de alimentos ultraprocessados, aumentando o risco de obesidade”, explica. 

Já Carla reforça que a ausência de atenção durante as refeições pode prejudicar a autorregulação da criança em relação à fome e saciedade, levando a excessos. “É fundamental que a criança aprenda a identificar quando está satisfeita, e o uso de telas impede essa dinâmica.”

 

Há salvação! 

Para ajudar pais e cuidadores a contornarem o problema, as especialistas sugerem práticas que promovem uma relação mais saudável entre a criança e a alimentação: 

  1. Estabeleça uma rotina de refeições com horários regulares em um ambiente calmo e sem distrações;
     
  2. Envolva a criança no preparo dos alimentos, permitindo que ela participe de atividades simples na cozinha e monte seu prato, conquistando autonomia
     
  3. Ofereça uma variedade de alimentos e respeite o tempo da criança para experimentar novos sabores;
     
  4. Incentive refeições em família, conversando sobre o dia de cada um, e seja exemplo, não usando telas nessa hora;
     
  5. Use pratos e utensílios coloridos ou temáticos para despertar o interesse pelos alimentos.
     
  6. Estabeleça horários para o uso de telas e deixe claro que elas não serão permitidas durante as refeições;
     
  7. Escolha um local específico para guardar celulares e controles durante as refeições;
     
  8. Nunca associe o uso de telas como recompensa para a criança comer. 



Dra. Elisabeth Canova Fernandes – Pediatra - CRM 94686 - RQE 105.527. Médica formada pela Faculdade de Medicina do ABC. Residência médica em pediatria pela FMUSP. Complementação especializada em reumatologia pediátrica pelo Instituto da Criança – FMUSP. Título de especialista em Pediatria pela SBP. Título de especialista em reumatologia pediátrica pela SBP e SBR. Mestrado e doutorado em pediatria pela FMUSP. Pós-graduação em nutrição infantil pela Boston Umjversity e também pela Ludwig Maximilian University of Munich. Professora de graduação em Medicina na Universidade São Caetano do Sul. Médica proprietária da Clínica Pediátrica Crescer Participação ativa em diversos congressos nacionais e internacionais em pediatria voltados para alimentação infantil, amamentação, cuidados com o bebê e doenças comuns da primeira infância. Palestrante frequente nos temas de amamentação, alimentação infantil e primeiros cuidados com o bebê.


Carla Cristina Ribeiro Deliberato-CRFa:2-13919. Fonoaudióloga graduada pela PUC-SP (2003). Especialização em Motricidade oral com enfoque em disfagia (CEPEF- SP). Atuação fonoaudiológica em motricidade oral com ênfase em alimentação infantil (disfagia, recusa e seletividade alimentar) -Formação internacional nas abordagens: "Assessment and Treatment Using the SOS Approach to Feeding", ministrado por Kay A. Toomey e Erin S. Ross e “Feeding The Whole Child A Mealtime Approach” ministrado por Suzanne Evans Morris. Idealizadora e proprietária da Clínica Care Materno Infantil
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