Ganho de peso, paladar seletivo, consumo de ultraprocessados, isolamento, má relação com a comida e tantas outras consequências, ao permitir que crianças comam diante de telas. Uma pediatra e uma fonoaudióloga indicam o caminho para a família reverter essa dependência nociva
Nada como estar em frente a uma tela para que a criança estabeleça uma relação ruim com a comida e leve isso para toda a vida adulta. Em tempos de alimentos ultraprocessados, é só adicionar o celular ou um tablet e tem-se a fundação de um território inóspito para a saúde. Diante desse vício da contemporaneidade, a Prof. Dra. Elisabeth Fernandes, pediatra com doutorado pela FMUSP e médica da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e Carla Deliberato, fonoaudióloga especialista em motricidade oral com enfoque em alimentação oferecem informação e caminhos para a família trilhar uma nova e saudável direção.
Segundo a Prof. Dra. Elisabeth, o hábito de usar telas enquanto come pode desviar a atenção da criança dos sinais naturais de fome e saciedade, levando ao consumo excessivo ou insuficiente de alimentos. “Quando a criança está focada em um desenho ou jogo, ela perde a percepção de quando está satisfeita, o que pode resultar em uma ingestão desequilibrada", explica, mencionando ainda o aumento no consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, gordura e sódio.
Carla Deliberato complementa, destacando que o
aprendizado alimentar é um processo que requer interação e atenção. “Diante da
tela, a criança não explora os alimentos, não toca, não sente os aromas e
sabores, e isso impacta na forma como ela se relaciona com a comida”, afirma.
Seletividade
Outro ponto destacado pelas especialistas é a
relação entre o uso de telas e a seletividade alimentar. A Prof. Dra. Elisabeth
explica que a distração com as telas nas refeições pode tornar mais difícil a
introdução de novos alimentos. “A criança tende a ficar mais focada no
entretenimento da tela do que em experimentar diferentes sabores e texturas, o
que reforça uma dieta monótona e limitada.” Carla reforça essa ideia, afirmando
que a atenção voltada à tela impede que a criança veja o que outras pessoas
estão comendo, reduzindo suas chances de experimentar novos alimentos e
contribuindo para comportamentos alimentares seletivos.
Ganho de peso
Dra. Elisabeth Fernandes alerta que o uso excessivo de telas pode levar ao sedentarismo e ao consumo de alimentos não saudáveis, influenciados pela publicidade voltada ao público infantil. “Esse hábito reduz o gasto energético e incentiva o consumo de alimentos ultraprocessados, aumentando o risco de obesidade”, explica.
Já Carla reforça que a ausência de atenção durante
as refeições pode prejudicar a autorregulação da criança em relação à fome e
saciedade, levando a excessos. “É fundamental que a criança aprenda a
identificar quando está satisfeita, e o uso de telas impede essa dinâmica.”
Há salvação!
Para ajudar pais e cuidadores a contornarem o problema, as especialistas sugerem práticas que promovem uma relação mais saudável entre a criança e a alimentação:
- Estabeleça
uma rotina de refeições com horários regulares em um ambiente calmo e sem
distrações;
- Envolva
a criança no preparo dos alimentos, permitindo que ela participe de
atividades simples na cozinha e monte seu prato, conquistando autonomia
- Ofereça
uma variedade de alimentos e respeite o tempo da criança para experimentar
novos sabores;
- Incentive
refeições em família, conversando sobre o dia de cada um, e seja exemplo,
não usando telas nessa hora;
- Use
pratos e utensílios coloridos ou temáticos para despertar o interesse
pelos alimentos.
- Estabeleça
horários para o uso de telas e deixe claro que elas não serão permitidas
durante as refeições;
- Escolha
um local específico para guardar celulares e controles durante as
refeições;
- Nunca associe o uso de telas como recompensa para a criança comer.
Carla Cristina Ribeiro Deliberato-CRFa:2-13919. Fonoaudióloga graduada pela PUC-SP (2003). Especialização em Motricidade oral com enfoque em disfagia (CEPEF- SP). Atuação fonoaudiológica em motricidade oral com ênfase em alimentação infantil (disfagia, recusa e seletividade alimentar) -Formação internacional nas abordagens: "Assessment and Treatment Using the SOS Approach to Feeding", ministrado por Kay A. Toomey e Erin S. Ross e “Feeding The Whole Child A Mealtime Approach” ministrado por Suzanne Evans Morris. Idealizadora e proprietária da Clínica Care Materno Infantil
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