Ao contrário do que muita gente pensa, médicos não trabalham sozinhos quando atuam em consultório. Em qualquer situação, o sucesso do nosso trabalho depende das mais diversas parcerias. Com o paciente, com a família, com profissionais como enfermeiros, especialistas em exames específicos e, principalmente, com outros médicos.
No caso
da psiquiatria, que é a minha área e uma especialidade que tem foco total na
saúde mental dos pacientes, a parceria com outros médicos é mais do que
importante, ela é fundamental. Isso porque a saúde mental se relaciona
diretamente com a saúde física das pessoas, o que nos move a falar em saúde
global.
Neste Mês
da Mulher, vale falar da parceria de ginecologistas e obstetras, responsáveis
pelo pré-natal de gestantes, e de psiquiatras – que, juntos, ajudam as pacientes
que apresentam qualquer tipo de transtorno mental, inclusive depressão. Esses
dois profissionais podem atuar de forma proativa no sentido de identificar
antecipadamente possíveis casos de depressão pós-parto – que atinge de 10 a 15%
da população de mulheres em todo o mundo – e aqueles casos ainda mais
complexos, que chegam a resultar em psicose puerperal. Atualmente, ela pode
acontecer em um a cada mil partos no Brasil. Quase 3200 casos por ano se
considerarmos a média de nascimentos entre 2010 e 2020. É preocupante.
Por isso,
eu defendo veemente essa atenção que começa no ginecologista/obstetra em forma
de observação e acolhimento, e vira acompanhamento e tratamento adequado nas
mãos do psiquiatra em situações em que se pode antecipar possíveis quadros de
depressão ou psicose pós-parto. Embora ter filhos seja maravilhoso, levar uma
gestação a cabo, parir e cuidar de um bebê nos primeiros meses de vida colocam
a saúde mental de qualquer mulher à prova, mesmo quando ela tem um parceiro que
a apoie. É desafiador, estressante, mexe expressivamente com os hormônios, com
o peso, com a saúde em geral da paciente. Isso sem mencionar outras
dificuldades importantes em muitas situações, como pais ausentes, falta de
dinheiro, alimentação, acesso a condições dignas de saúde e apoio
familiar.
A
depressão pós-parto é uma condição tratável, mas também prevenível quando se
conhece bem a paciente. Com o ginecologista e obstetra atuando nesta frente,
sendo que muitos acompanham suas pacientes por muitos anos, a parceria com o
psiquiatra pode reduzir muito a incidência dessa condição, favorecendo a
qualidade de vida e a saúde mental das mães nesse período de adaptação à
maternidade – seja a primeira ou outras.
A saúde
mental da mulher merece essa atenção, principalmente nesse momento de tanta
vulnerabilidade.
Kalil
Duailibi - psiquiatra, e Gabriel Monteiro, ginecologista e obstetra, são
professores do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa.
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