“Como um modelo de linguagem avançado, o ChatGPT é
uma tecnologia fascinante que tem o potencial de transformar a maneira como as
pessoas interagem com a tecnologia”, diz o ChatGPT sobre si mesmo. Em seguida,
a ferramenta, que virou febre em praticamente todos os meios em que é possível
falar sobre algum assunto atualmente, lembra que tem a capacidade de
“compreender e produzir linguagem natural”, o que permite que seja aplicada de
diversas formas, “desde assistentes virtuais até chatbots de atendimento ao
cliente”. Não é mentira, mas também está longe de ser uma verdade absoluta.
O próprio ChatGPT sabe disso e, no segundo
parágrafo de sua ‘auto análise’, faz questão de ressaltar que, como qualquer
outra tecnologia, “tem suas limitações e deve ser usado com responsabilidade”.
Não é à toa, afinal, que a moda do momento é discutir quais as implicações de
seu uso indiscriminado no meio acadêmico, médico, legal, da engenharia, enfim…
cada área está olhando para si mesma e, em alguns casos, colocando em xeque a
própria capacidade de lidar com a inteligência artificial.
Do ponto de vista da comunicação, não é de hoje que
se escuta que a tecnologia vai substituir profissionais e extinguir funções que
sempre foram desempenhadas por nós, mortais pensantes. De acordo com inúmeras
previsões, a televisão substituiria os jornais impressos e, por sua vez, seria
substituída pela internet. Por essa lógica, a esta altura da história,
jornalistas já não deveriam ser necessários para absolutamente nada. E, no entanto,
cá estamos, com jornais impressos ainda circulando, programas de televisão
firmes o bastante para gerarem um mercado ilegal conhecido como “gatonet” e
jornalistas desempenhando seu papel fundamental para a democracia mundial.
Isso acontece porque não há, até aqui, nada capaz
de emular com perfeição características puramente humanas, como a empatia, a
criatividade (em muitos graus) e a capacidade de avaliar situações distintas
sob variados aspectos. Não será diferente com o ChatGPT e outras ferramentas de
inteligência artificial que aparecerem daqui em diante. Mas é preciso ter
cuidado com a “urgência” em se criar concorrentes para todas as novas
plataformas.
O Google, há poucos dias, correu para lançar sua
própria ferramenta de inteligência artificial, o Bard. Esse desespero por não
perder o timing fez com que, logo no lançamento do recurso, uma resposta errada
causasse a perda de mais de US$ 100 bilhões em valor de mercado da gigante da
tecnologia.
As discussões são, claro, importantes para compreender
cenários possíveis e antecipar os prós e contras de se adotar esse tipo de
ajuda, qualquer que seja o setor ao qual uma empresa pertença. “É importante
lembrar que o ChatGPT é apenas tão bom quanto os dados com os quais é treinado.
Se os dados forem tendenciosos ou limitados, ele pode reproduzir essas mesmas
tendências ou limitações em sua linguagem”, acrescenta, sobre si, o próprio
ChatGPT. Problema parecido já aconteceu com o algoritmo do Twitter, por
exemplo, há poucos anos. Sempre que uma imagem na vertical é postada naquela
rede, ela é cortada de forma aparentemente aleatória para que apareça na timeline
dos usuários no formato horizontal. Twitteiros por todo o mundo começaram a
notar, entretanto, que esse corte não era assim tão aleatório. Se havia uma
pessoa branca e uma negra na imagem, por exemplo, a tendência do algoritmo era
deixar apenas a branca em evidência. Tratava-se de um vício moral que, pasmem,
estava instalado no algoritmo do Twitter devido à forma como esse algoritmo foi
treinado.
Questões éticas como essa tendem a ser uma
constante sempre que a tecnologia estiver envolvida em qualquer atividade
humana. Afinal, embora hoje seja relativamente fácil fazer esse processamento
de linguagem natural, por trás dos algoritmos sempre haverá ao menos um ser
humano, com suas próprias crenças, percepções e tendências pessoais. Mas isso o
próprio ChatGPT é capaz de dizer melhor que eu mesmo. “O ChatGPT é uma
tecnologia empolgante que tem o potencial de melhorar significativamente a
maneira como as pessoas interagem com a tecnologia. No entanto, é importante
usá-lo com responsabilidade e reconhecer suas limitações e considerações
éticas. Se esses aspectos forem cuidadosamente considerados, o ChatGPT pode ser
uma ferramenta poderosa para melhorar a vida das pessoas em todo o mundo.” Quem
somos nós para discordar?
Cristiano Caporici -
jornalista, cientista da comunicação e diretor de Marketing da Tecnobank.
Nenhum comentário:
Postar um comentário