Ortopedista pediátrico destaca a urgência do aprimoramento da triagem neonatal para identificar a condição ainda nos primeiros dias de vida da criança
Uma
das principais preocupações dos especialistas é ter a certeza de que o
recém-nascido não tem Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ) - amplo espectro de alterações que
atingem o quadril em crescimento, desde anomalia na formação até a
luxação da articulação, como explica o ortopedista pediátrico David Nordon. “O
quadril tem a forma de uma bola e soquete, com curva na qual se encaixa o
fêmur. Nesta doença, a curva se torna uma rampa, o fêmur escorrega por ela em
diferentes graus. O grande problema é que os graus mais leves da condição podem
passar despercebidos por muitos meses após o nascimento, o que leva a doença a
se tornar cada vez mais grave.”
Ainda de acordo com o médico, que também é professor da disciplina de Saúde Pública da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Campus Sorocaba – PUC Sorocaba e supervisor do Programa de Residência Médica de Ortopedia e Traumatologia da PUC-SP, a triagem instituída em maternidades (“teste do quadrilzinho”) é insuficiente para o diagnóstico. “O exame não é 100% confiável. Estas displasias que passam despercebidas na vida adulta, podem se tornar um desgaste articular 30 ou 40 anos antes do que seria esperado para um adulto. Portanto, é pelo ultrassom a maior possibilidade de diagnóstico preciso. Com a mudança na triagem neonatal, é possível perceber grande diferença na quantidade de diagnósticos. Estima-se que a prevalência seja de aproximadamente 1% de diagnósticos com exame físico e 5% com ultrassom”, comenta Nordon.
No Brasil, de acordo com estudos publicados, a incidência de displasia está entre 0,2% e 1,7%, envolvendo quadril luxado e subluxado (instável). O médico afirma que o quadro seria diferente se a prática do ultrassom fosse considerada. “O ultrassom é um exame barato e muito acessível como método de triagem para todos os bebês”, diz.
O médico ainda destaca que as causas da DDQ não são totalmente conhecidas, mas já é sabido pelos especialistas que há relação com a genética, apontando o histórico familiar como um fator de risco importante. A condição também é mais comum em meninas, que somam aproximadamente 80% dos casos. Bebê em apresentação pélvica (sentado na barriga) e a presença de pouco líquido no útero durante a gestação são outros fatores extremamente relevantes. “O hábito que alguns povos têm de enrolar os seus recém-nascidos como um “charuto”, a utilização de andadores e alguns modelos de carregadores podem contribuir para o aparecimento da DDQ em pacientes nascidos com quadris normais. Todo cuidado é pouco”, alerta Nordon.
Como
tratamento, o médico explica que, na infância, o suspensório de Pavlik pode ser
usado até os seis meses de idade e apresenta excelentes resultados. “Casos em
que esse método não funciona, ou em crianças mais velhas que seis meses de
idade, existe a necessidade de se realizar cirurgia, que pode ser muito longa e
complicada. Por isso, o melhor é diagnosticar precocemente e iniciar tratamento
o quanto antes”, finaliza Nordon.
David Nordon - médico ortopedista pediátrico
pelo HC FMUSP - Supervisor do Programa de Residência Médica de Ortopedia e
Traumatologia da PUC-SP, Professor da disciplina de Saúde Pública da PUC-SP
(Campus Sorocaba) e de ortopedia e medicina preventiva do Estratégia MED (curso
preparatório On-line para provas de Residência Médica), Mestrando da USP,
Pesquisador do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas (HCFMUSP) e
idealizador do Projeto Pequenos Passos, projeto filantrópico de tratamento de
Pé Torto Congênito.
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