As mulheres enfrentam inúmeros desafios para serem reconhecidas em nossa sociedade. Com muita luta conquistaram direitos e avançaram nas políticas públicas.
Porém, no primeiro semestre de 2022, o discurso
mais denunciado foi o de misoginia, que é a aversão a mulheres, com mais de
sete mil casos, de acordo com a SaferNet.
Nesse caso, o discurso de ódio compreende textos e
imagens que incitam a discriminação ou a violência contra as mulheres.
Há grupos de homens que estão promovendo discursos
contra o avanço de direitos da mulher, tentando mostrar para homens e mulheres,
que o homem precisa resgatar sua virilidade e a mulher a submissão.
Essa linha de pensamento que cresceu a partir da década
passada, em cantos obscuros e anônimos na internet, se chama “red pill” (pílula
vermelha, em inglês), que faz referência ao filme Matrix de 1999. Nesse
sentido, os "red pills" são homens que se opõem ao "sistema que
favorece as mulheres", por terem alcançado um conhecimento privilegiado
sobre isso. Já os "blue pills" continuariam vivendo em ilusão e,
portanto, seriam usados pelas mulheres. Esse pensamento prega que é necessário
se aproveitar das mulheres e torná-las submissas para recuperar a virilidade
perdida.
O que podemos analisar sobre isso? Quando
necessitamos desvalorizar alguém para nos sentirmos melhor, isso fala de uma
insegurança nossa. Algo que nego em mim, não olho e não trato, quero extinguir
o meu incômodo através da tentativa de controlar o comportamento do outro. Em
vez de eu mudar em mim, vou tentar fazer com que o outro mude.
Sendo assim, me parece que grupos de homens que vão
pela corrente do red pill sofrem de complexo de superioridade.
Foi o psicólogo Alfred Adler que descreveu pela
primeira vez o complexo de superioridade. Ele destacou que o complexo é um
mecanismo de defesa para sentimentos de inadequação com os quais todos lutamos.
Para ele, o complexo de superioridade é uma situação que se cria quando uma
pessoa supercompensa o complexo de inferioridade que sente, uma maneira de
encobrir sentimentos de fracasso ou falha.
E sabemos que esses homens que se enquadram no
papel de macho, acreditam que devem ser fortes, protetores, provedores, autoridades
e vigorosos. Portando, eles não podem demonstrar sua vulnerabilidade, pois
sentir e chorar é coisa de "mulherzinha", inferiorizando mais uma vez
a mulher, que sente e se expressa. A condição humana envolve a sensibilidade
que esse homem insiste em reprimir por conta dessa cultura machista que o
adoece e, consequentemente gera todo esse ódio ao feminino. Não se deve odiar
ou matar o feminino, precisa haver aceitação de sua vulnerabilidade, acolher e
expressar os seus sentimentos para se curar.
Assim, penso que precisamos repensar a educação de
nossas crianças, trabalhando a educação socioemocional delas desde a primeira
infância, as acolhendo e permitindo a expressão dos seus afetos, principalmente
na tratativa de meninos, que são os que mais sofrem com a repressão dos seus
sentimentos.
Lendo sobre os malefícios e toxicidade da cultura
patriarcal e a importância de cuidarmos da saúde emocional, de incentivamos a
expressão dos sentimentos e não diferenciarmos o que é de menino e de menina,
contribui para uma cultura de prevenção de problemas mentais, cultivando a
saúde emocional. Diante dessas leituras e minha maternagem como mãe de menino,
escrevi o livro "Eu só quero brincar", que atua
exatamente sobre essa temática para filhos e pais, para cada um refletir o seu
lugar e atitudes dentro e fora do sistema familiar - expressão/repressão dos
afetos; acolhimento dos sentimentos; repetição de padrão comportamental herdado
de gerações anteriores; diálogo familiar; preconceitos e estereótipos; a
importância do brincar livre; brincadeira não tem gênero.
Com leitura, conhecimento, debates, conversas,
podemos contribuir para maior igualdade de gênero, proporcionando mais harmonia
individual e entre si.
Luana Menezes – Psicóloga
clínica, palestrante e autora do livro “Eu só quero brincar” (Literare Books
International). Instagram: @luanamenezespsi
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