Quando começamos a falar de um ambiente de negócios, precisamos entender que saber argumentar e debater é um dos principais requisitos para se tornar um bom líder dentro de uma empresa. Isso também se mostra através de números que apontam a necessidade de saber conversar com as pessoas para ser um bom chefe. Para se ter ideia, de acordo com um estudo realizado pela Gallup, empresa global de pesquisas, os líderes respondem por, pelo menos, 70% da variação nas pontuações de engajamento dos funcionários.
Entretanto, os debates não se restringem à vida profissional. As pessoas podem se encontrar debatendo no dia a dia da sua vida pessoal. Uma questão importante é: quais tipos de perguntas você se faz ao debater?
O autor Adam Grant publicou uma pirâmide de hierarquia dos estilos de pensamento. Ela nos mostra as diferentes maneiras de pensar e os tipos de personalidade relacionadas a elas. A partir disso, conseguimos identificar quem somos e quem queremos ser num debate.
Abaixo, segue a análise de Adam Grant:
1. Cientista: É aquele que debate usando a lógica de pensamento que Grant nomeia como sendo do cientista. Ele pode ser identificado com frases como: “Eu posso estar errado”, e suas iscas de atenção geralmente costumam ser dados e números. É o tipo que está mais alto na pirâmide, porque é mais raro e, também, mais ideal.
2. Pensador crítico: Do tipo que se engaja com diversas fontes de informação, lê os jornais de direita, da esquerda, de centro. Esse tipo questiona viés de credibilidade das fontes e pesquisas. Em geral, é quem diz algo como: “Isso deve estar errado” ou “Tem certeza?”. Gosta de apontar diversas vertentes para responder sobre um mesmo tema.
3. “Do contra”: Esse é o famoso chato. Rebate e procura falhas no raciocínio do outro, mas ignora as falhas do próprio raciocínio. É aquela pessoa que adora cortar os outros dizendo algo como “Você está errado", “Não é nada disso”. Geralmente usa ad hominem, a falácia do ataque pessoal, nas suas argumentações. Desqualificar o argumento do outro é mais importante do que qualificar o seu.
4. Político: Pega a sua crença e persegue a crença ideológica dos outros. Usa a ferramenta do nós versus eles o tempo todo: nós do Partido X, eles do partido Y. Nós que acreditamos em X, eles que acreditam em Y. Você consegue identificá-lo porque cria argumentos do tipo: “Vocês estão errados, nós é que estamos certos”.
5. Líder de culto ou seita: Trata o próprio pensamento e crença como verdade absoluta. Sua argumentação é marcada por afirmações do tipo: “Eu estou sempre certo”, “Eu conheço a verdade” etc. Como apela para o divino em alguns casos, seus ultimatos não podem ser justificados com provas lógicas, o que torna esse tipo de discurso ainda mais difícil de contra-argumentar.
Porém, há alguns
tipos específicos de debatedores que extrapolam a pirâmide do Adam Grant. É que
o Adam Grant não conhece o Brasil, e no Brasil temos uma fauna e uma flora
diferente.
Debatedor solipsista
Sabe aquela pessoa que justifica todas as suas opiniões no microcosmo e nas experiências individuais dela? Em geral, esse espécime adora dizer frases como: “Comigo, foi assim”, ou “Mas o meu pai conseguiu”, ou ainda “É eu nunca vi nada disso que você está falando”.
O solipsista é aquele que vê o mundo pelo próprio umbigo, sobretudo baseado nas próprias experiências. É como se o universo fosse seu quintal, e os acontecimentos que ocorrem com ele ou com pessoas do seu círculo imediato fossem paradigmáticas de fenômenos coletivos. Ele não costuma se interessar por estatísticas ou outros dados, porque enxerga as coisas pelo prisma individual.
A regra de ouro para ousar argumentar com solipsistas é pedir dados e confrontar suas falas. Muitas vezes a pessoa não faz por mal, ela simplesmente ignora uma realidade fora da própria bolha.
Além disso, temos o debatedor abusivo
O debatedor abusivo mal merece o nome, porque é do tipo com o qual não há, de fato, um debate, muito menos um diálogo. Porém, é importante reconhecer seus mecanismos, sobretudo a marca distintiva da alternância de abordagem de comunicação, para identificar se estamos numa discussão com alguém desse tipo.
Em geral, o abusivo passa da sedução - parece ser charmoso e intrigante, enaltecendo as qualidades do interlocutor - para a intimidação - ganha contornos assustadores e agressivos, apresentando-se como uma ameaça -, e da intimidação para a sedução. É importante entender como essa dinâmica funciona na prática, porque ela pode aparecer de diferentes maneiras. Uma delas é o famoso “se você não fizer o que eu quero, você vai ver”, ou seja, ou você obedece, ou sofrerá uma retaliação.
O debatedor
abusivo pode, e provavelmente vai, misturar a sedução com a intimidação, num
modelo híbrido que pode não ser tão explícito. Abusadores costumam criar
dilemas que não são dilemas, e decisões que poderiam ser acompanhadas de um
“também” e não só “ou”. É possível sair com as amigas e também estar num relacionamento
amoroso. É possível amar o trabalho e também se dedicar aos filhos. O principal
é que nem todo abusador vem com um porrete na mão. Ele pode ter um sorriso
doce. Pode ser extremamente sedutor.
Maytê Carvalho - escritora,
professora, comunicóloga e autora do livro “Ouse Argumentar: Comunicação
assertiva para sua voz ser ouvida”
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