Além de ser crime,
agredir só irá fomentar uma violência que gera medo e mais violência
Na última semana, uma polêmica ultrapassou os
domínios do reality show “A Fazenda” e virou assunto nas redes sociais: o ator
Iran Malfitano declarou que costuma educar sua filha através de palmadas.
Os comentários e críticas ao ator foram o ponto alto da internet. Mas afinal,
devemos bater nas crianças para educar? Do ponto de visto da prática
terapêutica, esse tipo de atitude pode gerar traumas ou algum outro tipo de
transtorno psíquico? Vamos entender melhor essas questões.
Bater ou agredir, não importa a alegação, nunca será educar e nem pode ser uma
medida corretiva saudável. Essa atitude apenas serve para gerar e alimentar
emoções e sentimentos negativos na criança, além de contribuir para ensina-la
maneiras erradas de interação com o outro e com a sociedade de uma forma geral.
Sabemos que, esse hábito está enraizado em nossa sociedade do passado, na qual
nossos pais ou nossos avós, disseminavam uma crença limitante de que o educar
estava intimamente ligado ao castigo e punição pelos erros.
Um castigo, muitas vezes, precedido por pancadas ou palmadas, para corrigir os
erros cometidos. Um tipo de educação, demonstrada em diversos estudos, que
favorece o surgimento de inúmeras dificuldades emocionais e sociais nesta
criança.
Além de ser crime, agredir só irá fomentar uma violência que gera medo e mais
violência. Ao ser agredida, o cérebro da criança identifica sinais de perigo,
insegurança e ameaça.
O medo é ativado e o coração acelera. As recordações negativas começam a ser
registradas e se transformam em angústia e ansiedade e neste momento, todo e
qualquer processo de aprendizado é bloqueado.
Portanto, bater passa bem longe do objetivo de se educar. É preciso haver uma
consciência clara de que, não é porque o indivíduo foi educado com agressão que
ele deverá perpetuar esse tipo de atitude ao educar seu filho. O ciclo precisa
ser quebrado.
Educar é enxergar os erros como oportunidades de aprendizagem, não de
sofrimento. A agressão não deve ser o caminho que ultrapassa o diálogo, é mais
importante educar por via de exemplo, visto que a criança reproduz tudo que ela
é exposta.
Ou seja, se mostramos a agressão como forma de lidar com situações de estresse
e dor, ela irá reproduzir exatamente esse comportamento e irá entender que
violência é o caminho para resolver seus problemas, já que o amor também pode
ser expressado através da agressão.
E o mais comum, é que crianças agredidas carreguem para a vida adulta uma
tendência de se envolver em relacionamentos abusivos.
Uma coisa é fato: todo ser humano possui o direto de ter sua integridade física
e psíquica respeitada e quando se tenta educar com violência, você não está
ganhando respeito do seu filho, você só está o deixando com medo, pois as
palmadas geram medo, desconfiança e desconexão com os pais, além de causar
raiva e baixar a auto estima, favorecendo traumas profundos ligados à dor de
ser ferido por quem se ama.
Enfim, os impactos negativos de uma palmada no desenvolvimento da criança são
comprovados cientificamente e suas consequências psíquicas e emocionais podem
ser bastante significativas.
Educar requer carinho, diálogo, acolhimento, orientação, compreensão e
respeito. Bater para educar é agressão e de violência o mundo já está cheio.
Não se pode espelhar ainda mais agressividade, pois as coisas só mudam através
do exemplo e se somos espelhos para nossos filhos, não podemos espelhar a dor
através das palmadas.
Andrea Ladislau - graduada em Letras e
Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e
Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em
Psicopedagogia e Inclusão Digital. É palestrante, membro da Academia Fluminense
de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o
grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.
Instagram: @dra.andrealadislau
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