Crianças mais distraídas e desinteressadas? O que está por trás da mudança de comportamento de crianças e adolescentes? Entenda.
Você certamente já percebeu que as crianças não são mais como eram antes. Se por um lado muitas vezes são ultra estimuladas, em outros momentos se mostram desinteressadas por tarefas simples do dia a dia, sobretudo as que não envolvem tecnologia ou algum tipo de recompensa.
A
infância é o período em que formamos uma espécie de “pacote de referências” que
usaremos por toda vida, dentre eles, muitos aspectos de regulação do
comportamento ao contexto ambiental.
A neurocientista do SUPERA, Livia Ciacci,
explica que as habilidades comportamentais dependem das diversas situações de
interação. “Quando o contexto ambiental varia entre relações presenciais e
virtuais, precisamos incluir isso nos aprendizados de competências e atitudes
da criança. Ela precisa começar a entender como regular seu comportamento em
uma conversa pessoal ‘olho no olho’ e em um meio digital”, detalhou.
Um
mundo cada vez mais digital para as novas gerações
É bastante comum percebemos educadores
desatualizados, sem tempo dedicado para estudar as vantagens de cada tecnologia
e com receio de incluí-las nas suas práticas, além de pais que usam e
disponibilizam o acesso às essas tecnologias em casa, mas eles mesmos têm
dificuldades em autorregular o tempo que gastam ou como fazem uso.
Imagine agora: qual é a experiência da
criança que alterna entre um ambiente onde acessa vários dispositivos com
vídeos, cores, sons e interações instantâneas e outro ambiente onde tem que
lidar pacientemente com papel, lápis e outras crianças?
“É muitíssimo provável que ela se interesse bem mais pelo universo digital. A escola não pode ficar à margem do avanço tecnológico, o uso crítico e construtivo das Tecnologias de Informação e Comunicação deve ocorrer a partir da Educação Infantil. E as famílias devem dedicar um tempo para refletirem sobre como lidam com mídias e tecnologias digitais e se tornarem exemplos de um uso responsável e controlado, auxiliando a criança a entender como adequar seu comportamento também”, detalhou.
A neurocientista do SUPERA – Ginástica para o
Cérebro explica ainda que mídias passivas são ruins para as habilidades
interpessoais, criatividade, resolução de problemas, imaginação e
desenvolvimento da empatia, porque a criança não precisa “fazer algo”, está
tudo pronto ali na tela. Com o uso excessivo, ela ficará ansiosa sempre que
estiver longe dessas mídias e terá muito menos tolerância e paciência cognitiva
para lidar com situações novas e “mais lentas”.
O uso constante de tecnologia está mudando o cérebro das
crianças?
A exposição exagerada a esses meios pode também trazer alguns riscos à saúde das crianças, como por exemplo: problemas de visão (exposição próxima à luz das telas); distração das tarefas cotidianas, como ir tomar banho, dormir e se alimentar na hora certa, o que afeta a rotina e diminui o aprendizado do autocuidado.
A maior mudança percebida e discutida até o
momento por especialistas está no circuito de leitura no cérebro. Como os
seres humanos não nascem leitores, mas capazes de identificar formatos e
atribuir significados, esta habilidade precisa ser construída. Não temos um
programa de base genética para reorganizar os circuitos neurais em prol da
leitura.
Assim como não temos um padrão prévio de leitura no cérebro, também não temos um circuito de leitura ideal ou estático com o passar das gerações.
Os neurônios são originalmente dedicados à
atividade de responder a estímulos visuais, na alfabetização e no hábito de
leitura esses neurônios se engajam na nova tarefa de reconhecer letras e
palavras.
Se nessa fase de alfabetização existe um uso
aumentado de telas, esse circuito terá uma configuração diferente. Segundo
Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA – Ginástica para o Cérebro, cada mídia
de leitura trabalha mais certos processos cognitivos em detrimento de outros.
“Quando lemos nas telas digitais fazemos movimentos em zigue-zague com os
olhos, como em um caça-palavras. Captamos o contexto, pulamos para as
conclusões, e isso atrapalha a compreensão em profundidade e a noção de
continuidade do texto”, alertou.
Preciso me preocupar?
A neurocientista Maryanne Wolf explora bastante as diferenças da tela para o papel em seu livro “O cérebro no mundo digital”, apontando que a atenção e foco são totalmente diferentes e incrementados pela leitura impressa.
“Como os avanços tecnológicos são um caminho
sem volta e isso pode afetar diretamente a capacidade do ser humano de receber
informações, é importante que os pais busquem um equilíbrio entre o mundo
virtual e físico como um caminho mais seguro. Neste contexto, a ginástica para
o cérebro oferece grande suporte para trabalhar a concentração, memória e
raciocínio da criança, colaborando para o seu desenvolvimento integral e para
além das telas”, concluiu.
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