A inovação sempre foi vista com muito bons olhos pela área da saúde. De criações aparentemente simplistas às mais sofisticadas, grandes transformações estão, cada vez mais, viabilizando uma prestação de serviços mais eficaz e assertiva. Mas, mesmo diante de tamanhas revoluções, são poucos os que conseguem desfrutar qualitativamente deste cenário – uma disparidade que necessita ser discutida em prol de um acesso mais justo à toda a população.
Em âmbito privado, os investimentos globais em
tecnologia aplicada ao setor ultrapassaram a marca dos US$ 34,7 bilhões em 2021
– vistos como ações essenciais para a melhoria do atendimento ao paciente e,
ainda, ao cuidado prestado pelo especialista. Dentre os maiores impulsionadores
desta demanda, a emergência sanitária imposta pela pandemia foi um dos mais
importantes, exigindo uma adaptação veloz e de máxima qualidade possível ao
redor do mundo para minimizar, ao máximo, os impactos da disseminação do vírus
na população.
Como consequência deste cenário e de todos os
empecilhos enfrentados nos últimos anos, surpreendentes avanços foram notados.
Em um dos maiores exemplos notados recentemente, o avanço da oferta do 5G
trouxe ganhos muito além do que apenas a conectividade telefônica. Através de
uma maior interligação entre os maquinários, a quinta rede permite que
cirurgias robóticas e de extrema precisão sejam realizadas à distância, sem a
necessidade da presença de um médico na sala cirúrgica.
A globalização é imensamente favorecida, permitindo
que os pacientes consigam realizar qualquer tipo de procedimento com
especialistas de qualquer lugar do mundo. Tudo isso, sem a perda da qualidade
dos contatos presenciais. Em conjunto à essa novidade, a realidade aumentada
também se tornou uma poderosa aliada, possibilitando que os profissionais
possam acessar e interagir com exames precisos de seus pacientes, por meio de
óculos especiais desenvolvidos para essa visualização.
Nos bastidores de tamanhos avanços, os altos
investimentos na inteligência artificial no setor foi um dos principais
favorecedores deste cenário tecnológico. Muito além de viabilizar o desenvolvimento
de ferramentas cada vez mais inteligentes, possibilitou que os profissionais de
saúde pudessem ter uma comunicação e troca de informações muito mais próxima e
aprofundada – compartilhando um banco de dados extenso e detalhado sobre as
mais diversas doenças já registradas na história, seus sintomas e tratamentos
realizados ao longo do tempo.
Usando a própria Covid-19 como exemplo, mesmo ainda
não tendo uma cura definitiva, todos os procedimentos e testes realizados desde
o início da pandemia, podem ser consultados pelos profissionais em tempo real –
cruzando todos os dados e os utilizando como base para desenvolvimento de
medicamentos e tratamentos cada vez mais assertivos para quaisquer doenças ou
surtos que possam vir a surgir em nossa história.
Os benefícios da inovação na saúde são
incontestáveis, mas, infelizmente, não são todos que conseguem usufruir dessa
qualidade. Por se tratar de investimentos que dependem, em sua massiva maioria,
de um suporte tecnológico significativo, apenas as grandes metrópoles abrigam a
infraestrutura adequada para gerenciar e ofertar esta rede.
Sua distribuição fora dos centros urbanos deve ser
uma ação prioritária para os próximos anos, evitando que a grande maioria da
população continue deixada de lado frente a avanços que, certamente, trarão uma
maior qualidade e prolongamento da expectativa de vida. Essa falta de
prioridade também é um fator extremamente prejudicial para a retenção de
talentos, visto que cada vez mais jovens estão deixando o país em busca de melhores
oportunidades no exterior.
Ainda temos muitos ganhos a serem sentidos em uma
sociedade fortemente pautada em trazer crescentes investimentos de inovação
para a área da saúde, mas que dependerá, obrigatoriamente, de uma mudança de
mentalidade voltada para o papel estratégico da ciência e tecnologia em nosso
país. Caso contrário, continuaremos vendo o gap social na área, onde só quem tem
recursos financeiros é capaz de prover os custos de uma saúde de alta
qualidade.
Alexandre Pierro - engenheiro mecânico, físico nuclear e sócio-fundador da PALAS, consultoria pioneira na ISO 56002 na América Latina.
PALAS
www.gestaopalas.com.br
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