Neste mês, o governo britânico divulgou uma análise da guerra na Ucrânia e afirmou que foi o primeiro dia, desde o início do confronto, em que as forças russas não conseguiram avançar e tomar território das forças ucranianas. Assim, ao chegar aos seis meses de conflito, ao que tudo indica, a situação vai entrar em uma fase de estagnação.
O exército russo parece ter chegado ao limite da
capacidade de tomar mais territórios, ao que tudo indica, os ucranianos estão
conseguindo interromper o fluxo logístico do inimigo. Com os novos equipamentos
ocidentais, em especial o sistema de artilharia de longa distância e de alta
precisão americana HIMARS (High Mobility Artillery Rocket System), a Ucrânia
tem causado grande estrago em depósitos e estradas de ferro utilizados pelos
russos.
Os ucranianos foram capazes de ameaçar as forças
russas na cidade de Kherson, o que levou o comando russo a desviar tropas da
região do Donbas, também na Ucrânia. Como foi a única cidade na margem direita
do rio Dniepre a ser ocupada, o local é um ponto estratégico para qualquer
plano de avanço para o oeste do país, e o alto comando russo não poderia perder
a cidade e seus soldados. As pontes foram danificadas o suficiente para ameaçar
o abastecimento de alimentos e combustíveis das tropas russas. Por isto a
retirada do exército russo e o enfraquecimento do avanço no Donbas.
Há ainda um aspecto psicológico importante a
ressaltar. Os ataques a bases e depósitos russos na Crimeia. As recentes
explosões nesta região fizeram com que muitos civis russos fugissem do local
durante as férias de verão. Foram publicados vídeos em redes sociais, causando
embaraço ao Kremlin, ao ter que afirmar que todos foram por motivos de incêndio
e não de ataques ucranianos. De qualquer forma, isto indica que forças
especiais ucranianas estão conseguindo operar atrás das linhas inimigas, e
devem continuar a fazê-lo, causando mais estragos.
Mesmo assim, não é de se esperar que as forças
ucranianas consigam recuperar o território perdido. Primeiro, porque a
capacidade militar para uma ofensiva é muito mais complicada do que ações
defensivas, e, tanto pela perda de soldados quanto do treinamento dos novos
recrutas, é muito difícil os ucranianos conseguirem tal avanço. Além do mais,
um cálculo básico é que, para uma ofensiva, normalmente se considera adequado
ter uma superioridade de três para um em números de soldados, o que
dificilmente os ucranianos conseguirão reunir.
O que se deve esperar para os próximos seis meses,
no mínimo, é uma guerra de atrito como foi a frente ocidental da primeira
guerra mundial. E quem mais vai sofrer com isto são os civis ucranianos, já que
o inverno se aproxima e a infraestrutura elétrica e de gás foi danificada. Isto
pode levar milhares ou milhões, a passar um frio congelante, literalmente. Por
isto, que Kyiv deve começar uma campanha de remoção dessa população em breve.
No âmbito geral, as perspectivas não são nada boas para os próximos meses, ou
até mesmo para o próximo ano, para os ucranianos.
Gunther
Rudzit - professor de Relações Internacionais da ESPM e
coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios em Oriente Médio (NENOM/ESPM). É
doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, mestre em National
Security por Georgetown University (USA), mestre em Geografia Humana -
Geopolítica pela Universidade de São Paulo.
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