Estudo publicado preliminarmente na revista
Neuro-Oncology foi conduzida por grupo internacional de pesquisadores contou
com a participação do Hospital Sírio-Libanês
Um dos tipos mais comuns de câncer do sistema nervoso central é o
glioblastoma, que representa quase metade de todos os casos. Estima-se que 11
mil novos casos serão diagnosticados este ano, segundo o Instituto Nacional do
Câncer. Esse tipo de tumor acomete células do sistema nervoso central
localizadas no cérebro, chamadas de células gliais, daí o nome glioblastoma. O
tumor é bastante agressivo, tende a se espalhar rapidamente pelo cérebro, e tem
uma média de sobrevida de apenas 15 meses, figurando entre os tumores humanos
mais mortais. Apesar de ser o tipo mais frequente de tumores cerebrais, o
tratamento para essa doença avançou pouco nas últimas décadas.
Conhecer o funcionamento da doença é a melhor forma de encontrar novas
avenidas de tratamento. E um passo muito importante nesse sentido foi dado
recentemente, com a publicação na revista Neuro-Oncology de um estudo
conduzido por um grupo internacional que contou com a participação do time de
pesquisadores do Hospital Sírio-Libanês. Pela sua importância e potencial
implicação na prática médica, o artigo com o estudo foi disponibilizado em
pré-print, online, com previsão de publicação nos próximos meses.
O trabalho descobriu que o gene ELF4 é crítico para o processo do
glioblastoma. Esse foi o primeiro estudo a fazer a associação desse gene a esse
tumor. Ele já havia sido relacionado a câncer de fígado, mama, próstata e
colorretal. Esse gene tem, entre suas várias funções, mediação de duas vias
celulares – como se fossem duas ruas controladas por um mesmo farol. “Como esse
gene atua em diversos processos, é muito difícil controlar o ELF4 diretamente,
pois essa ação não terá um efeito específico apenas no glioblastoma”, explica o
Dr. Pedro Galante, pesquisador do Sírio-Libanês que fez parte da pesquisa. “Com
o conhecimento científico, podemos focar diretamente nas vias celulares,
aumentando a especificidade e eficácia de novos possíveis tratamentos”, diz.
São duas as vias celulares que foram associadas ao glioblastoma. A
primeira, atua como parte da sinalização que regula a progressão do tumor. Ao
interromper o ciclo celular, portanto, é possível evitar que uma célula
cancerosa se multiplique de forma descontrolada, impedindo o avanço do câncer.
A segunda via é de lipídios, que forma a parte externa (membrana) da célula. O
gene atua na mudança da composição dos lipídios da membrana celular. Essas
alterações acabam ajudando a promover a multiplicação das células tumorais.
Conhecer a ciência básica por trás dos processos de carcinogénese tem
gerado resultados extraordinários no avanço do tratamento de diversos tipos de
cânceres, com a criação de terapias-alvo que permitem atingir em cheio os
mecanismos que levam à origem e progressão da doença. A boa notícia do estudo é
que já existem medicamentos que atuam justamente nessas vias celulares
associadas ao gene ELF4, são drogas inibidores das vias celulares de
tirosina-kinase e também drogas relacionadas ao metabolismo de lipídeos. “Nosso
trabalho sugere que um reposicionamento de medicamentos que já existem, aliado
a combinação de medicamentos para atuar nessas duas vias moleculares, podem se
mostrar muito benéficos para os pacientes em estudos clínicos.”, informa Pedro
Galante. “Do ponto de vista molecular, nossa pesquisa indica que esse pode ser
um novo e promissor caminho para se tratar esse tumor ainda tão mortal que é o
glioblastoma.”
Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital
Sírio-Libanês
Portal IEP (hospitalsiriolibanes.org.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário