Publicada na consagrada revista Bone Marrow Transplantation, pesquisa revela que o uso de células tronco não criopreservadas é seguro e eficaz em comparação com pacientes que receberam o enxerto criopreservado, além de reduzir o tempo de internação e toxicidade
O transplante de medula
óssea (TMO) pode ganhar um novo capítulo no tratamento de mieloma múltiplo. O
uso de células-tronco hematopoiéticas (CTH) não criopreservadas pode ser uma
alternativa às tradicionais infusões criopreservadas em transplante autólogo,
quando as células transplantadas são do próprio paciente. É o que aponta um
estudo conduzido por um grupo de hematologistas da BP – A Beneficência
Portuguesa de São Paulo, dirigido pela médica Juliana Matos Pessoa, que acaba
de ser publicado no grupo da revista Springer Nature, BMT (Bone Marrow
Transplantation), uma das principais revistas de publicações científicas em
transplante de medula óssea do mundo.
“O transplante de medula
óssea a fresco, sem criopreservação, se mostrou bastante eficaz e é uma grande
conquista, pois viabiliza a realização do procedimento em instituições de sáude
que hoje não possuem bancos de sangue estruturados e equipamentos de
criopreservação”, explica a médica.
O estudo “Cryopreserved versus non-cryopreserved stem cell autografts in
multiple myeloma a restrospective cohort study” foi realizado com 105
pacientes da BP com mieloma múltiplo entre março de 2018 e dezembro de 2019.
Cinquenta e um pacientes receberam células-tronco criopreservadas e os 54
restantes receberam enxertos a fresco. As características clínicas gerais foram
semelhantes entre esses dois grupos, como idade, sexo, estadiamento clínico e
respostas aos tratamentos anteriores. A viabilidade celular foi maior em
enxertos não criopreservados (95% vs. 86% p < 0,01). A incidência cumulativa
de enxerto de neutrófilos e plaquetas em D+25 foi maior no grupo não
criopreservado em comparação com o grupo criopreservado (98% vs 90% p < 0,01
e 96,2% vs 72,54% p < 0,01 respectivamente).
A hematologista da BP
lembra que o transplante autólogo de medula óssea para o mieloma múltiplo é uma
peça importante no tratamento dessa doença em todo o mundo, uma vez que melhora
a sobrevida livre de progressão e a sobrevida global do paciente. “Seu
benefício foi demonstrado pela primeira vez há 25 anos e continua sendo uma das
modalidades de tratamento mais importantes, apesar da introdução de novas
classes de drogas (inibidores de proteassoma, imunomoduladores e anticorpos
monoclonais). E agora podemos viabilizar o tratamento para um número maior de
pessoas com o uso de células tronco não-criopreservadas”, diz.
De acordo com a pesquisa,
o tempo de internação hospitalar foi reduzido em quatro dias para pacientes que
fizeram o transplante de medula óssea com células-tronco não criopreservadas,
além de gerar menos toxicidade relacionada à infusão. “Ainda não temos uma
análise econômica, mas provavelmente o procedimento traz uma economia para o
sistema de saúde, além de confirmar que o uso de células-tronco não
criopreservadas no transplante autólogo se mostra seguro e eficaz em comparação
com pacientes que receberam enxerto criopreservado”, finaliza a médica da BP.
BP – A Beneficência
Portuguesa de São Paulo
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