Conselho se posiciona sobre movimento originado nos Estados Unidos que se coloca contrário ao uso do flúor
As fake news estão cada vez mais presentes e o
setor da saúde também tem sido bastante impactado por elas. Recentemente,
pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram mais de 300
publicações falsas na área da Odontologia. São notícias que modificam o
contexto de fatos com argumentos verdadeiros, mas totalmente alterados,
inclusive por meio de alegações de fundo religioso.
Diante da preocupação de autoridades sanitárias e
dos riscos negativos à saúde bucal, o Conselho Regional de Odontologia de São
Paulo (CROSP) posiciona-se sobre uma nova temática de notas divulgadas por meio
de um movimento (originado nos Estados Unidos), que se coloca contrário ao uso
do flúor na água e em produtos odontológicos.
De acordo com o Cirurgião-Dentista e Doutor pela
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Dr. Marco Antonio
Manfredini, é importante esclarecer que o flúor vem sendo aplicado na
Odontologia há pelo menos 80 anos.
Na água de abastecimento, seu uso iniciou-se no
final dos anos 1940, na cidade Grand Rapids, nos Estados Unidos. Durante todo
esse período, a sua utilização tem se mostrado segura tanto na água de
abastecimento público como nos cremes dentais fluoretados ou na forma de outros
produtos que atuam dentro dos materiais odontológicos.
Para se ter uma ideia da importância e da segurança
da utilização do flúor, o Cirurgião-Dentista cita uma pesquisa realizada pelo
Centro de Controle de Doenças Americano (CDC). Segundo ele, por meio dos
estudos realizados pela agência foram identificados os dez principais fatores
que beneficiaram a saúde pública no século XX. Um deles foi a fluoretação das
águas de abastecimento público. “No Brasil, temos tido uma redução expressiva
da cárie. Não temos dados mais recentes, contudo, o último Levantamento
Epidemiológico Nacional, que foi feito em 2010, constatou uma redução de cárie
nas crianças de 5, de 6 e de12 anos, assim como nos adolescentes e nos
adultos”.
O índice de CPOD é usado pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) para avaliar a prevalência da cárie dentária em diversos países.
A sigla CPO tem origem nas palavras "cariados", "perdidos"
e "obturados" e o D indica que a unidade de medida é o dente.
No Brasil, o valor do CPOD era de quase 7 em 1986.
No levantamento feito em 2010 baixou para 2, ou seja, as crianças de 12 anos
têm o CPO igual a 2. Um dos principais fatores para essa redução, segundo o
Cirurgião-Dentista especialista em saúde pública, é o uso do flúor na água, no
creme dental e também as ações preventivas que são feitas nos consultórios
públicos e privados.
Uso do flúor e os seus benefícios
Com relação à utilização do flúor, Dr. Manfredini
ratifica sua segurança, mas lembra que seu uso em crianças com menos de 5 anos
necessita de atenção e alguns cuidados, pois ele tem que ser utilizado de
acordo com as orientações profissionais. “Se associarmos, por exemplo, o flúor
na água com creme dental fluoretado numa grande quantidade em uma criança de
até 5 anos de idade, pode vir a gerar fluorose (manchas brancas nos dentes). O
que se recomenda para crianças nessa faixa etária é que o creme dental
fluoretado seja colocado no sentido transversal da escova, e não no sentido
longitudinal, que acompanharia o tamanho da escova. O equivalente a um grão de
ervilha, mais ou menos, é suficiente para que não haja risco de fluorose e se
obtenha o benefício do creme dental”.
Com relação à água de abastecimento público, o
Cirurgião-Dentista lembra que não há esse risco e, portanto, as pessoas podem
ingerir diariamente.
Vale ressaltar que a utilização do flúor é uma
medida barata, como comprovou o estudo conduzido no município de São Paulo pelo
professor da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), o
Cirurgião-Dentista Dr. Antonio Carlos Frias, a qual abrangeu o período de
1985-2003. Por meio da pesquisa, constatou-se que a fluoretação de água custa
R$ 1,00 por habitante por ano. Segundo Dr. Manfredini, trata-se de um valor
muito baixo e que permite ter um grande impacto do ponto de vista da saúde
coletiva e da saúde pública.
Portanto, quando utilizado da forma e na quantidade
corretas, o flúor não apresenta qualquer contraindicação, seja na água ou no
creme dental (observando-se a recomendação para crianças com menos de 5 anos de
idade). Já o flúor de uso profissional, esse sim necessita de indicação precisa
do Cirurgião-Dentista.
Quanto às fake news com relação à fluoretação, Dr.
Manfredini recorda que elas começaram no século passado. Naquele período, já
existiam ideias como a de que o flúor na água influenciaria as pessoas em diversos
aspectos. Para o especialista em Saúde Coletiva, o fato de existirem movimentos
antifluoracionistas é extremamente grave para a saúde pública, já que essas
pessoas estão impedindo que muitos tenham acesso e se beneficiem dos efeitos
positivos do flúor. Os estudos científicos, inclusive evidências científicas,
são muito claros e bem estabelecidos com relação aos benefícios que o flúor
pode trazer e também aos aspectos de segurança quanto à sua
utilização.
Dr. Manfredini reforça a importância do fluoreto e
deixa um alerta: “O flúor é importante aliado na melhoria da saúde bucal das
populações. É oportuno destacar que milhares de pesquisas feitas no mundo
inteiro atestam sua importância na redução da cárie dentária, bem como sua
segurança. Sendo assim, não acreditem em fake news. Se quiserem buscar por
informação correta, acesse o site do CROSP”.
O que é o flúor e como ele age na boca
O flúor é um elemento químico da família dos
halogênios, um mineral natural encontrado facilmente na natureza, por toda a
crosta terrestre. O material pode ser sintetizado em laboratório e ser
adicionado a uma série de produtos, como os cremes dentais e a água fornecida
pelas companhias de saneamento público.
Sua utilização é recomendada pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), pelo
Ministério da Saúde e também pelo Conselho Regional de Odontologia de São Paulo
(CROSP). A indicação do flúor se deve aos benefícios e à sua atuação na saúde
bucal.
O fluoreto trabalha nos processos de
desmineralização e remineralização que ocorrem naturalmente na boca. Além
disso, possui efeito antienzimático, antimicrobiano e bactericida, eliminando
algumas bactérias e impedindo a multiplicação das mesmas.
Vale ressaltar que uma higiene bucal adequada deve
conter escovação três vezes ao dia, com a utilização de um creme dental
fluoretado. Além disso, o Cirurgião-Dentista poderá indicar, caso seja
necessário, tratamentos complementares com o flúor. Independentemente da
maneira usada para obtenção do flúor - seja por meio das águas fluoretadas,
pasta de dente ou aplicação de um profissional - o produto segue como essencial
no combate à cárie, um mal que continua a ser um desafio para o Brasil.
Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP)
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