Tabagismo, segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), é a doença da dependência da droga nicotina, presente em qualquer
derivado do tabaco, seja cigarro, cigarrilha, charuto, cachimbo, cigarro de
palha, fumo de rolo, narguilé ou vaporizadores eletrônicos. A dependência
ocorre porque a nicotina, após ser absorvida e chegar ao cérebro, libera
substâncias químicas que levam a uma sensação passageira de prazer e bem-estar,
fazendo com que os fumantes repitam o processo várias vezes ao dia. Embora o
cigarro seja o representante mais conhecido desse mal, todos os demais meios
utilizados no hábito de fumar devem ser considerados como nocivos, uma vez que
o dano é causado pela inalação das mais de 4700 substâncias nocivas contidas na
fumaça do tabaco, não existindo, portanto, uma quantidade segura para o seu
consumo.
Considerado a principal causa de morte evitável no
mundo, o tabagismo é tido como um dos grandes problemas em saúde pública do
planeta, estando diretamente relacionado com a morte de mais de 7 milhões de
pessoas mundialmente a cada ano, sendo mais de 200 mil somente no Brasil. Além
disso, estima-se que os problemas decorrentes do fumo custem cerca de US$ 1 trilhão por ano à economia
global. Com a exposição frequente, as substâncias nocivas podem levar a mais de
50 problemas graves de saúde, dentre os quais destacam-se os respiratórios
(enfisema e fibrose), circulatórios (hipertensão arterial e insuficiência
vascular), cardíacos (infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca),
neurológicos (infarto cerebral e demência), neoplásicos (câncer e tumores),
reprodutivos (impotência masculina e infertilidade feminina), obstétricos
(prematuridade e baixo peso), odontológicos (gengivite e perda de dentes),
psiquiátricos (dependência química e psicoses), além de comprometer a qualidade
de vida do fumante.
Devido a esses males, estima-se que uma pessoa
tabagista tenha redução de até 20 anos em sua expectativa de vida. De fato, a
associação entre tabagismo e doenças é tão forte que cerca de 90% dos cânceres
de pulmão diagnosticados apresentam o fumo como o principal responsável. Além
disso, 30% de todas as doenças que acometem a população fumante estão, direta
ou indiretamente, ligadas ao hábito de fumar. Infelizmente, a fumaça do tabaco
não é um risco apenas para quem fuma, pois os fumantes passivos possuem, quando
comparados a grupos que não possuem contato com o tabaco, risco aumentado de
desenvolver câncer de pulmão, além de doenças cardiovasculares e respiratórias.
Pensando na proteção desse grupo de pessoas, foi
estabelecida a Lei Antifumo (lei nº 12.546/11), que proíbe o tabagismo em
ambientes coletivos públicos e privados, incluindo locais parcialmente fechados
com divisória (os chamados fumódromos), bem como restringe as propagandas de
cigarro. Essas e outras medidas, ancoradas do Programa Nacional de Controle do
Tabagismo, fizeram com que o número de fumantes no Brasil tenha diminuído ao
longo das últimas décadas. Nas capitais, segundo o Ministério da Saúde, o
índice de adultos fumantes caiu de 16,2% em 2006 para 9,1% em 2021.
Embora seja uma queda expressiva, ainda hoje a
mortalidade associada ao tabagismo é considerada alarmante, comparada somente
às atingidas pelas grandes pandemias, como a do novo coronavírus. Portanto, com
o objetivo de estimular os setores formadores de opinião da sociedade e
conscientizar a população sobre os riscos decorrentes do hábito de fumar, o
país se mobiliza todo dia 29 de agosto no Dia Nacional de Combate ao Fumo, data
instituída em 1986 pela lei nº 7488. Tendo como tema Tabaco: Ameaça
ao Nosso Meio Ambiente, a campanha desenvolvida pela
OMS este ano alerta não apenas sobre os prejuízos que o uso do tabaco e a
exposição ao fumo passivo causam na saúde dos indivíduos, mas também alerta
sobre o impacto ambiental causado pelo tabaco, desde o cultivo, passando pela
produção, distribuição e os resíduos, como meio de promover uma razão adicional
para o abandono do hábito de fumar.
Também como forma de encorajar aos que pretendem
parar de fumar, o Sistema Único de Saúde (SUS) garante tratamento gratuito para
o processo de quebra da dependência química da nicotina, inclusive com
medicamentos e acompanhamento profissional. Embora o abandono deste vício nem
sempre seja algo fácil de conquistar, o esforço vale à pena, pois os benefícios
da abstinência do tabaco vão aumentando proporcionalmente na medida em que ela
seja mantida, chegando até mesmo ao ponto de uma pessoa abstinente há 10 anos,
voltar a ter os mesmos riscos para câncer e infarto que uma pessoa que nunca
fumou. Portanto, nunca é tarde para iniciar o tratamento.
Convidemos nossos amigos, familiares, colegas de trabalho que são tabagistas a ingressar nesta cruzada contra o tabagismo, encorajando-os a iniciar o movimento por eles mesmo. O benefício é para todos e para toda a vida!
Pedro
Henrique de Almeida - médico emergencista e professor no Curso de Medicina da
Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná -- FEMPAR.
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