O machismo não afeta apenas as mulheres, mas, também, aos homens
Deixar de abraçar quem gosta,
esconder seus sentimentos, não chorar ou não falar que ama um amigo são algumas
das ideias que foram reforçadas aos homens por muito tempo. Desde muito cedo se
aprende que quem não segue as “regras da masculinidade” é visto como “menos
homem” e é associado à feminilidade.
A presença dos homens em filmes e
desenhos animados é, geralmente, a do protagonista, fortalecendo ainda mais aos
garotos que o domínio e a superioridade é o que eles devem buscar. Ainda que
essa masculinidade seja imposta desde sempre, não são todos que podem se
identificar com esses personagens. Haja vista que, essa narrativa valoriza,
geralmente, homens brancos, heterossexuais e com condição econômica favorável.
Nas palavras do psicólogo Alessandro
Scaranto, “entender a maneira como os meninos são criados faz toda a diferença
para compreender o porquê um homem pode possuir tendências machistas e não
qualificar os seus próprios sentimentos. Trata-se de um contexto psicológico
que aparece na clínica inúmeras vezes.”
Em geral, por se ter uma criação de
maneira inadequada, estimulando o machismo, os meninos entendem que devem se
calar quando se trata de sentimento. Com isso, o homem adulto tem dificuldade
em se expressar, gerando um comportamento violento quando vivenciam momentos de
tristeza, raiva, medo ou insegurança. Ou seja, a agressividade acaba se
tornando uma fuga para aqueles que não conseguem se manifestar. “O 'músculo' e
a violência simbolizam todos esses sentimentos e as emoções que estão
naufragadas dentro de cada um” – afirma Scaranto.
A violência na sociedade atual tem
como um dos seus pilares o machismo uma masculinidade tóxica e frágil que
atinge principalmente e diretamente as mulheres, podendo levar a vários tipos
de violência (física, psicológica, moral, patrimonial etc.) e em casos
extremos, ao feminicídio.
Todavia, tal conduta afeta os
próprios que executam, isso porque, de acordo com os dados do Atlas da
Violência, os homens são os que mais matam, morrem e se suicidam. “A pressão
para que o homem seja sempre onipotente, onipresente, não falhe e não demonstre
os seus sentimentos é enorme e leva a condições extremas e perigosas.” – alerta
o psicólogo.
Segundo Scaranto, “os homens têm
muita resistência para buscar ajuda para cuidar da sua saúde mental porque,
segundo muitos, quem busca pelos psicólogos é uma 'pessoa fraca e quem vai de
encontro a seus maiores medos e questões a serem elaboradas é o verdadeiro
'forte'" – pontua Scaranto.
Em vista disso, buscar apoio para
resolver essas questões e se autoconhecer é necessário.
Mesmo que na geração atual existam
debates para não contribuir com o machismo e, em comparação à geração anterior,
esse problema já não seja mais tão reforçado, ele ainda existe. O
acompanhamento psicológico pode auxiliar no entendimento de que o homem não
precisa ser agressivo para obter respeito e, muito menos, acreditar que aquele
que chora é “menos homem” e não será compreendido como uma pessoa singular e
única dentro da sociedade.
“É muito importante construir uma
sociedade aberta a debates sobre essa questão e entender, também, que homens
podem sofrem dentro desse padrão de conduta imposto que precisa ser sempre
desconstruído para uma sociedade mais igualitária e saudável, dessa toxicidade
masculina”, finaliza Alessandro Scaranto.
Alessandro
Scaranto - Psicólogo - Especialista em Saúde Pública e Saúde da família Acupunturista
@scaranto_psicologia
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