Um bom plano de negócio, escolher o time e o cliente certo são algumas das orientações levantas
Foi-se o tempo em que um
empresário poderia se dar ao luxo de pensar em um produto, uma estratégia de
vendas e divulgação, e, com calma, aperfeiçoar os pilares do seu negócio. As
redes sociais, e a internet como um todo, colocaram fim nesses tempos e criaram
um ambiente de negócios muito mais agressivo e que exige muito mais competência
estratégica e conhecimento de um empreendedor. O importante é sair na frente
dos seus competidores antes que eles abocanhem a sua parcela de mercado.
No entanto, tanta hostilidade
não parece ser obstáculo para empreendedores de startups no
Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Startups
(Abstartups), o número de empresas com esse perfil teve um aumento de 207%
entre 2015 e 2019, saltando de 4.151 para 12.727. Entre essas, pelo menos 20 já
são consideradas unicórnios, com valor de pelo menos 1 bilhão de
dólares.
O cenário, que pode parecer
delicado, é também muito promissor. Em agosto desse ano, o Brasil se viu
frente a um recorde de aportes e investimentos que somam mais de 3,5 bilhões de
reais. Com esse contexto em vista, Gustavo Oliveira, Doutor em
Políticas Públicas, Docente e Coordenador na Faculdade Santa Marcelina, lista
algumas dicas para quem se interessa em mergulhar nesse mar bravo de
oportunidades.
Plano de
negócio
O começo de um bom
planejamento está focado na estruturação de um bom plano de negócios, que
permite que a ideia inicial se torne escalável e com potencial de crescimento.
“Em tese, o modelo de negócios é quem irá delinear as diretrizes para
conhecimento de mercado, investimento e concorrência”, explica o docente.
O plano de negócio é uma
ferramenta de gestão usada por empreendedores durante todo o ciclo de vida de
uma empresa e de seu produto, com a premissa de alcançar os objetivos traçados
por seus idealizadores. “Para o empreendedor, o plano de negócio é uma bússola,
um elemento norteador, pois dentre outras características, detalha o negócio, o
setor de atuação, oferta de produtos e serviços, potencial de mercado e geração
de valor, capital a ser investido inicialmente, retorno operacional e
estimativa de custeio e faturamento mensal, além de despesas fixas e correntes”
afirma Gustavo. “Complementam este cenário, o modelo societário e composição do
capital aportado no negócio”.
Investimentos
Para dar o pontapé
inicial na startup, o empreendedor irá precisar de capital. Para conseguir
esse investimento, além do aporte por meio de patrimônio próprio, o
empresário poderá contar com fundos de investimento, crowdfundings, rodadas de investimentos (onde
empresas entrantes apresentam seus projetos), projetos de pesquisa
patrocinados, a incorporação em ambientes de aceleradoras e incubadoras, que
constantemente atraem capital de investidores externos ao negócio, ou ainda o
modelo mais clássico de investidores anjo, que assumem essas diversas funções
listadas. “Existem também sites especializados que negociam a compra total ou
parcial do produto antes mesmo de entrar em produção. Este tem sido, no período
da pandemia, um dos meios mais procurados e que impulsionaram o setor nos
últimos 18 meses”, completa.
Ambiente
online ou físico?
É verdade que o ambiente
online oferece uma entrada no mercado mais segura e com maior controle de
riscos, mas isso não necessariamente pode ser traduzido em resultados melhores
e mais produtivos. “O ambiente online requer conhecer de forma minuciosa o
mercado, público, concorrência e canais de marketing para contato. Sem
eficiência nos canais de marketing, o investimento na presença digital torna-se
arriscada e com grande possibilidade de gerar um prejuízo alto inicialmente”, alerta
o professor. No entanto, o mesmo vale para os investimentos nos espaços
físicos, porque a forma de pensar, avaliar e comprar do
consumidor mudou. “Isso é especialmente verdade em razão de
vivermos num ambiente econômico instável e extremamente desfavorável aos
microempreendedores e empresários de pequeno e médio porte”.
Marketing
E já que falamos em marketing,
Gustavo Oliveira completa que a falta de investimento nesse setor pode tardar a
chegada do sucesso do negócio, além de envolver muito mais riscos e perdas, não
somente financeiras, mas também de tempo e estratégia. “Os profissionais
de marketing são essenciais e podem apontar muitos e valiosos
caminhos para conduzir o desenho de uma trajetória mais
assertiva e com altas doses de criatividade. Há questões especificas
que somente esses especialistas podem traduzir em resultados imediatos”.
Aprender
com os erros
Os erros são uma ferramenta
importante de aprendizado, de vontade de acertar e depositar mais energia e
engajamento no projeto, desde que sejam corrigidos
e replanejados rapidamente. No entanto, o especialista aponta que
tudo em exagero pode ser prejudicial e que o melhor é aprender com os erros dos
outros. “A segurança está na observação de outros empreendedores, numa escuta
atenta e qualificada, nos exemplos exitosos, mas todo erro gera um aprendizado,
não somente no sentido de não fracassar novamente, mas de gerar uma
oportunidade de melhoria”, explica.
Começar
pelos nichos
A opção de criar um produto
voltado às grandes massas ou aos nichos de mercado vai depender da estrutura
que o empresário tem disponível e do investimento inicial do negócio. Porém, o
professor Gustavo indica começar com uma parcela menor de mercado como
uma estratégia de negócio. “É sempre preferível prototipar, isto é, testar
em ambientes com menor número de pessoas, com maior controle das variáveis
externas, porque nesses nichos será possível enxergar se é possível gerar valor
ao mercado e ainda definir fluxos e processos indispensáveis para alavancar a
startup”.
O time certo
Para o sucesso de uma
startup, é muito importante que o empresário tenha como aliado um time que
entenda os processos e características desse tipo de empresa para que não haja
desentendimento que possa atrapalhar o desenvolvimento do negócio. “O time é
formado por profissionais que tenham comportamentos não convencionais, baseados
em inexistência de hierarquia delimitada, com perfil de senso crítico,
autoconhecimento e, acima de tudo, empatia e rede de contatos. São
profissionais de iniciativa de mudança e resolutividade, com exímio senso de
urgência”, explica o docente.
O cliente
certo
Para ter uma estratégia de
vendas afinada, a empresa deve saber quem são seus clientes.
Para isso, existem algumas boas práticas que podem ajudar, como o
desenvolvimento da persona do negócio e estar em contato
constante com os potenciais compradores. “É necessário ter um
diálogo constante com os clientes, ou seja, participar de eventos,
debates, rodas de conversa, dentre outras ações de inserção, além de conhecer
as dores, pontos fracos e necessidades deles”, afirma Gustavo.
Em uma fase inicial, um
período de testes de produtos, com escuta ativa, pode ser uma ferramenta de
avaliação dos clientes quanto à geração de melhorias e crescimento. “Neste
início, mais que volume e velocidade, contam o crescimento escalável, com
adesão aos propósitos da marca, as ideias e endosso de simpatizantes e
consumidores satisfeitos, ainda que em fase embrionária”, completa.
Valor
O professor Gustavo
Oliveira conclui ressaltando a importância do valor que a
marca deseja transmitir e aquele que vai ser percebido pelo
cliente. “Há muitas marcas que pregam e usam um apelo popular, de
afinidade com o coletivo e com a comunidade, mas, num primeiro contato, os
valores não se sobressaem. A marca deve expressar paixão e verdade,
traduzidos numa relação de proximidade e transparência com o
cliente”, alerta o professor.
O diferencial competitivo da
marca está na forma como ela representa a expressão de satisfação do cliente,
elevando sua condição a um patamar de exclusividade e pertença. “Marcas que não
estão dispostas a se tornar flexíveis e compreender o cliente, em suas
necessidades mais genuínas, e apenas lutam por preço como forma de garantir sua
fidelização, estão fadadas ao fracasso e esquecimento. Há um valor dentre os
mais percebidos que é a verdade contida na informação”.
“Um legado histórico de
resultados longínquos não converte nem garante adesão a uma realidade
contemporânea, longe de um diálogo aberto, franco e dedicado às causas das
pessoas, do coletivo e movidas por um sentimento consistente de conquista das
pessoas pela emoção e por sua contribuição no processo de construção da marca”,
finaliza.
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