Nesta semana, na
cidade de Nova York e em todo o território francês, começa a exigência de
vacinação completa para frequentar lugares fechados
Conforme vamos entrando num estado mais controlado
da pandemia por meio da disseminação da vacina, vão surgindo diferentes
preocupações que teremos que enfrentar em um mundo onde convivemos com a
Covid-19 no dia a dia.
Em muitos países, os casos da doença vêm diminuindo
e quem é infectado não desenvolve um quadro grave. Segundo dados do Estado de
São Paulo divulgados no último sábado, por exemplo, a média móvel de
internações e óbitos diminuiu em 70%, com menos de 5 mil pessoas nas UTIs, o
que não era alcançado desde janeiro deste ano.
Porém, isso não quer dizer que o vírus foi extinto.
Com o avanço da variante Delta e o fato de que a maior parte da população
mundial ainda não se vacinou completamente, em certos locais do mundo vem sendo
implementados documentos que comprovam a imunização completa, com o objetivo de
controlar o acesso a locais fechados como restaurantes, museus ou academias.
A medida foi colocada em vigor em Nova York esta
semana, primeira cidade americana a realizar a averiguação, assim como em todo
o território da França. “Acredito que seja uma medida responsável e necessária,
do contrário será muito difícil alcançarmos o fim da pandemia,” explica Malek
Imad, especialista em medicina de urgência e emergência, que foi coordenador de
um dos hospitais de campanha do Estado de São Paulo.
A medida é vista como polêmica por muitos, que
dizem ser contrária ao direito de ir e vir, mas Imad explica que nenhuma dessas
políticas públicas quer proibir pessoas de se movimentarem, mas sim incentivar
a imunização.
“A pessoa que transita por espaços fechados sem as
duas doses da vacina não é só um risco para ela mesma, mas também para toda a
comunidade a sua volta,” comenta o médico. “Ela pode contrair o vírus de forma
assintomática e transmiti-lo para muito mais pessoas, já que o imunizante
também diminui a carga viral emitida.”
Ele destaca ainda o quanto o momento é delicado, já
que a maioria das vacinas não tem 100% de garantia contra casos graves e é
provável que precisaremos de uma vacinação anual, já que estudos mostram que
não existe efeito duradouro, e por isso precisamos de medidas que complementem
a campanha de vacinação. “Caso contrário estaremos pulando de uma onda para
outra, sem previsão de um fim”, explica.
Imad acredita que aplicar um ‘Passe de Vacinação’
seja ainda mais urgente no Brasil, com apenas 21,42% de vacinados, segundo
dados das secretarias estaduais de Saúde, em um país de 211 milhões de pessoas.
“Com o afrouxamento das restrições para locais como restaurantes e bares em
muitos lugares, garantir que pelo menos quem esteja lá está imunizado é essencial
para continuar freando o número de mortes,” complementa.
Para o especialista, isso é uma compensação que não
seria obrigatória caso houvesse um comprometimento geral da população em se
vacinar e aderir aos protocolos de segurança, mas devido à falta de políticas
de incentivo à vacina durante um período da pandemia e o consequente movimento
negacionista, é necessário que o estado se responsabilize por quem procurou se
preservar durante este último ano.
“Devemos encarar a vacinação como um semáforo. Somos
obrigados a parar no sinal vermelho porque coloco a minha vida e a vida do
outro em risco,” exemplifica Imad. “Posso não o fazer, mas se eu passar no
sinal errado, pagarei com as consequências do meu ato.
De qualquer maneira, ele acredita que será impossível
‘fugir’ da vacina, já que muitos lugares, como a União Europeia e países como
Japão, Israel e Coréia do Sul já pedem o comprovante da vacinação completa para
receber viajantes estrangeiros. Muitas empresas no Brasil também exigem o mesmo
para aceitar empregados e a tendência é isso se expandir cada vez mais.
“Acredito que o ‘Passe da Vacina’ seja um reflexo
de como essa doença se comporta e como nós nos agimos em relação a ela,” diz
Imad. “Ela nos envolve como comunidade e em retorno devemos parar de olhar para
o individual e entendermos que cada vacina conta para todos nós,” finaliza o
especialista.
Dr. Malek Imad - médico especialista de
Gestão em Saúde, com pós-graduação em Medicina de Urgência e Emergência. Passou
o último ano administrando o hospital de campanha de Ribeirão Pires, SP,
durante a pandemia. Criador de um dos primeiros ambulatórios de atendimento
pós-covid 19 do Estado de São Paulo.
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