Os jogos olímpicos e paralímpicos são forjados na superação dos desafios e no legado para as futuras gerações. Porém, engana-se quem pensa que os desafios se limitam às práticas esportivas, pois, em essência, os jogos sempre procuraram promover a união entre os povos e celebrar a paz. Enquanto atletas e equipes buscam impor novos recordes olímpicos, os países que sediam os jogos também procuram superar seus antecessores na implementação de novas tecnologias e, mais recentemente, na defesa da sustentabilidade. Por essa razão, Tóquio 2020 se apresenta como a olimpíada mais sustentável da história.
O uso crescente de novas tecnologias impôs uma nova
marcha para as sedes olímpicas, desde o uso da internet (Barcelona 1992) até a
computação em nuvem e a inteligência artificial (Tóquio 2020). Com relação à
sustentabilidade, é preciso destacar Londres 2012, que levantou essa bandeira
ao propor critérios de construção sustentável para as sedes olímpicas, entre
outros feitos exemplares em relação ao meio ambiente. No entanto, sofreu
críticas ao não garantir o controle sobre a poluição e pela baixa utilização de
energias renováveis.
Em 2016, os jogos do Rio de Janeiro avançaram na
temática a partir de três eixos: Planeta, Pessoas e Prosperidade, reforçando
compromissos firmados desde a Rio-92. Contudo, medidas como o turismo
sustentável e o combate à exploração infantil, que garantiriam o lugar mais
alto do pódio da sustentabilidade, foram ofuscadas pelas críticas diante dos
problemas socioambientais presentes no Brasil.
Agora, os olhos do mundo se voltam para Tóquio, que
apresenta medidas que focam em carbono neutro, desperdício zero, coexistência
entre cidade e natureza, diversidade, parcerias e equidade. Mais que isso, o
Japão compartilha com as olimpíadas outra característica relevante: ser ponte entre
passado e futuro. Com o tema “A esperança ilumina nosso caminho”, a olimpíada
iniciou na metade de 2021 após ter sido adiada por um ano devido à pandemia da
covid-19. O Japão foi um dos países mais tecnológicos do século XX e é
promissor na defesa de medidas sustentáveis para o século XXI.
A tocha olímpica, por exemplo, é feita de alumínio
e possui na composição 30% de material reciclado a partir de metal originado de
moradias temporárias que abrigaram vítimas do terremoto do leste do Japão, em
2011. Da mesma forma, o combustível da tocha é o hidrogênio, que emite apenas
água como resultado de sua combustão.
Os organizadores lançaram um outro slogan: “Sejam
melhores, juntos – pelo planeta e pelas pessoas.” Seguindo os objetivos de
desenvolvimento sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), o
Japão deseja fazer uma olimpíada com emissão zero de poluentes. Para isso, um
dos incentivos é o uso de modais movidos a eletricidade, como patinetes,
ônibus, trens e carros elétricos. Lembrando que a energia gerada naquele país,
similarmente ao Brasil, é predominantemente hidrelétrica – de nada ajudaria ao
meio ambiente usar eletricidade advinda da queima de combustíveis fósseis.
Além disso, cerca de cinco mil medalhas foram
feitas a partir de celulares - que possuem placas de metais como cobre e zinco
- e os pódios, de plástico, dos mesmos celulares. E qual a origem dos
celulares? De uma campanha que o governo local fez para que a população doasse
celulares que não eram utilizados em casa. Foram arrecadadas 79 mil toneladas
de aparelhos eletrônicos. E o resultado pode ser, de fato, uma olimpíada verde.
Aproveitando o diálogo proposto aqui, podemos
pensar na sustentabilidade como uma maratona, que exige planejamento e
disciplina para que seus resultados possam se concretizar. Os desafios
ambientais devem incluir agendas de luta pela igualdade de gênero, respeito à
diversidade, condições de vida digna, economia circular e redução de consumo,
entre outras. O tempo provará o legado sustentável de Tóquio, mas, desde logo,
é um convite para que o espírito olímpico possa ser compartilhado em busca de
um mundo melhor, juntos.
Alexandre
Nicoletti Hedlund - advogado, doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR),
é professor do curso de Direito e do Mestrado e Doutorado em Gestão Ambiental
da Universidade Positivo (UP).
Alysson
Nunes Diógenes - , engenheiro eletricista, doutor em Engenharia Mecânica
(UFSC), é professor do Mestrado e Doutorado em Gestão Ambiental da Universidade
Positivo (UP).
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