Para 66,6% dos pacientes entrevistados não houve atendimento de telemedicina durante a pandemia
Assim como tem acontecido com pacientes que enfrentam
outros problemas de saúde, a pandemia também tem impactado a qualidade de vida
e o tratamento médico de pessoas com epilepsia. É o que aponta o estudo “Covid
19 e Epilepsia: Como estão as pessoas com epilepsia no Brasil?” feito pela
Associação Brasileira de Epilepsia (ABE), que contou com 464 participantes,
sendo 82% pacientes (PCE) e 18% cuidadores. Dos pacientes entrevistados, 26,3%
relataram aumento das convulsões, enquanto 36% relataram dificuldades na
manutenção dos tratamentos e atendimentos periódicos.
Realizada por questionário on-line,
a pesquisa ainda constata que 66,6% dos pacientes não tiveram acesso aos
serviços de telemedicina, alternativa encontrada para viabilizar muitos dos
cuidados com a saúde, no período de restrição à mobilidade social.
Outros problemas foram levantados, como a
dificuldade para conseguir receitas médicas pela interrupção nas consultas
presenciais e as preocupações psicológicas e sociais impactando no bem-estar.
Com a crise sanitária gerada pela Covid, além da necessidade de restrição
social para diminuir o contágio, houve a reestruturação emergencial do sistema
de saúde, impactando estrutura, profissionais do setor e pacientes.
Para um dos responsáveis pelo estudo, o
neurologista e vice-presidente da ABE, Dr. Lecio Figueira Pinto, a falta de
tratamento ou longo período sem cuidados pode trazer graves consequências.
“Existe risco de piorarem os quadros, com possibilidade de lesões, piora da
parte cognitiva, emocional e até mesmo risco de morte pelas crises”.
Vacinação - Para minimizar tais
problemas, a ABE enviou, em junho, uma requisição à ALESP (Associação
Legislativa de São Paulo) para a inclusão de pacientes com quadros mais
críticos no grupo prioritário da vacinação conta a Covid. “Nós tentamos
solicitar essa prioridade, o processo está em análise. Agora, a vacinação
entrou num ritmo mais acelerado. Em alguns países como Portugal, é prioridade,
outros seguem apenas a imunização por faixa etária”, conta a presidente da ABE,
Maria Alice Susemihl”. Dentre as várias justificativas apontadas estão a
incidência de casos em pacientes com epilepsia ativa, a vulnerabilidade social
e as implicações na descontinuidade do tratamento.
Em alguns casos, a epilepsia surge em decorrências de outras comorbidades graves como Acidente Vascular Cerebral (AVC), tumores, doenças imunológicas, deficiência física ou mental. Segundo o Dr. Lécio, todas essas doenças foram incluídas como prioridade na vacinação, mas, as pessoas com epilepsia não entraram no grupo. “Há uma variedade grande de casos. Para alguns pacientes, a doença não tem tanto impacto, permitindo uma vida normal, mas há casos que são graves e que exigem acompanhamento periódico”, informa o neurologista.
A doença – A epilepsia é uma doença
neurológica que ocorre quando há um aumento síncrono e excessivo nos impulsos
elétricos, gerando convulsões, perda de controle dos movimentos e, em alguns
casos, levando a perda da consciência e morte. A doença afeta 70 milhões de
pessoas, ao redor do mundo, conforme menciona a pesquisa.
Diante de um cenário em que já são previstos
represamentos de doenças como um dos impactos a serem enfrentados no
pós-pandemia, a imunização é fundamental em todos os quadros para evitar que os
problemas apontados na pesquisa permaneçam por longo tempo.
O estudo da ABE está disponível on-line em
inglês - “COVID-19 and epilepsy: How are people with epilepsy in Brazil?” - e
será publicado na edição 122 do periódico internacional Epilepsy
& Behavior, em setembro de 2021. Conduzido pelos membros da
ABE, Maria Alice Sushemi, Dr. Lécio Figueira Pinto, Dra. Laura Maria Guilhoto e
Ma. Amanda Cristina Mosini, teve como objetivo verificar a situação dos PCEs,
com relação ao acesso à medicamentos anticonvulcionantes, consultas e a
regularidade das crises, em meio ao enfrentamento da pandemia. A
Associação faz parte do International Bureau for Epilepsy.
Nenhum comentário:
Postar um comentário