Antes da crise econômica provocada pelo
coronavírus, a maior preocupação dos brasileiros era com os ajustes e política
econômica que colocaria o país no rumo da expansão do mercado. Mas, de repente,
tudo mudou nos últimos meses, colocando em xeque planos e objetivos estipulados
para o ano. Agora, o mundo inteiro se vê diante do maior tombo financeiro desde
a Grande Depressão, em 1929, o qual é bem provável que ficará conhecido na
história como a Crise do Coronavírus.
Ocorre que o mundo mudou de lá para cá, e nenhuma
economia está parada. O Reino Unido, por exemplo, vai pagar 80% dos salários de
todos os trabalhadores para evitar demissões. Na Alemanha, o pacote econômico
atingirá 30% do seu PIB (Produto Interno Bruto) e nos Estados Unidos, o valor
do pacote vai ser maior que todo o PIB do Brasil, somando 2 trilhões de
dólares.
No Brasil, as medidas adotadas até aqui parecem
insuficientes e ineficazes para dar conta do recado, a exemplo do auxílio
Coronavoucher, de R$ 600, que não atinge os que precisam e nem chega na
velocidade ideal.
O que vemos são empresas com dificuldade de acessar
o crédito, algumas por não ter uma contabilidade eficiente, outras por
burocracia e despreparo do mercado financeiro para viver em ambiente de guerra.
E as medidas de proteção do emprego mudam a todo momento com a publicação de
Portarias, prejudicando sua utilização efetiva, gerando insegurança jurídica e ansiedade
em toda sociedade.
Entendo que está na hora do Brasil levar realmente
a crise a sério, do ponto de vista sanitário e econômico, e utilizar todas as
ferramentas disponíveis de forma eficiente e estruturada. Na perspectiva
econômica, temos as políticas monetárias, há tempo negligenciadas por causa do
combate à inflação. É claro que ninguém quer a volta da inflação, mas, com
queda no consumo de 20% neste ano, é loucura pensar que a inflação irá voltar
tão cedo. Além disso, a taxa de juros, que já está no menor patamar das últimas
décadas, não será suficiente para qualquer reação ou retomada da economia.
Temos um cenário de incertezas. E, geralmente, o
que as pessoas fazem nesse momento? Freiam o consumo. As empresas, por sua vez,
ou demitem preventivamente para guardar caixa ou ainda fecham as suas portas.
Isso tratado de forma isolada é um problema, mas imagine todos os agentes
econômicos tento essa postura ao mesmo tempo?
Então, é preciso ampliar o dinheiro disponível,
para que ele chegue a quem precisa e, mais do que isso, para que esse dinheiro
retorne a economia pelo seu multiplicador. E como se faz isso? Lógico,
“imprimindo dinheiro” – em outras palavras, permitindo o dinheiro circular.
Esse imprimir é o significado para recompor a base
monetária. Não significa ligar a impressora e fazer a cédula de papel, até
porque em tempos de cartão de crédito e conta digital, o papel moeda não vale
nada nessa guerra econômica.
O Tesouro e o Banco Central devem fazer essa
recomposição monetária pelos instrumentos de dívida e recompra de títulos
públicos. E, para fazer isso, as políticas devem atingir realmente o mercado
real, e não financeiro. Entre as medidas que precisam ser tomadas temos:
ampliação do diferimento dos impostos nas empresas, Tesouro atuando mais
diretamente para conceder empréstimos diretos para as Pequenas e Médias
Empresas. Pode-se devolver 100% do FGTS dos saldos de contas dos trabalhadores,
diferir os pagamentos das prestações da casa própria e emprestar dinheiro para
pessoas físicas com base no Imposto de Renda, utilizar as ferramentas
disponíveis para garantir uma renda mínima aos informais e autônomos e revisar
a tabela do IR.
Essas medidas elevaram a dívida pública sem
dúvidas, porém utilizando a expansão monetária e o próprio mercado é possível
evitar um colapso, que no caso brasileiro elevará a quantidade de vítimas para
além daquelas que morrerão por causa do coronavirus.
Leandro
Batista de Oliveira - contabilista e economista
formado pela PUC-SP, especialista em finanças e projetos Six Sigma. Atualmente,
é diretor de Operações na Capital Social Contabilidade e Gestão.
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