Não é difícil entender o que se passa nos
grandes veículos de comunicação. É compreensível seu desalento face sucessivas
frustrações que os fazem migrar permanentemente de uma pauta para outra, com
esperanças saltitantes em busca de alegrias incertas.
Os eventos pelos quais passeavam
ansiosas suas manchetes vinham, sempre, acompanhados do adjetivo
"devastador!" porque ali adiante derrubaria o governo e silenciaria a
voz na garganta daqueles chatos afeiçoados à bandeira do Brasil. A unanimidade
monocromática dos grandes veículos era pouco convincente e seu objetivo... devastador.
Na manhã do dia 24 de abril, quando Moro
proferiu seu epílogo como ministro da Justiça, essa mídia bebeu à última gota a
taça da vitória. A nação, tanto pelo sim
quanto pelo não, quase foi, inteira, para o respirador artificial. E ali ficou
até o fim da tarde, quando o presidente expôs sua versão dos mesmos fatos e
milhões de brasileiros voltaram a respirar por meios naturais. A mídia, porém,
não se deu por achada e desviou sua atenção para o delegado Valeixo, que seria
a vítima das soturnas intenções de Bolsonaro. Não funcionou, Valeixo disse que
nunca foi pressionado. De Valeixo, os veículos pularam para o inquérito
solicitado por Aras e autorizado por Celso de Mello. Os depoimentos, tornados
públicos, deram em nada. Mudaram-se para uma presumível reação militar ante a
forma como foram tratados os três generais convocados a depor. Mais uma vez
nada. Da soma dos depoimentos, nem Celso de Mello achou algo que proporcionasse
alento ao tal efeito devastador.
Restava o vídeo. Ali, na íntegra, toda a
reunião, face to face, haveria de
emergir a devastadora verdade. E foi o que se viu. Até Janaína concluiu que
Bolsonaro saiu reeleito daquela absurda sessão de cinema.
Assim, a partir do dia 22 de maio, o
dólar caiu, a bolsa subiu e a saltitante mídia disfarça seu inferno astral
esquartejando o vídeo e submetendo-o, frase por frase, a um pau de arara
analítico, exigindo-lhes a confissão do que elas se recusam a contar.
Com quanto orgulho se dizem
comprometidos com a verdade, enquanto assim procedem! No entanto, não é a
verdade que buscam, mas uma confirmação da narrativa - devastadora! - que já
fizeram e que sumiu dos acontecimentos sob os olhos atentos do seu próprio
público.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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