Há
grandes especulações sobre a origem do coronavírus. Alguns dizem que o vírus
veio de morcegos, outros mencionam o pangolim — um animal que vive na região da
China e cuja carne e pele são altamente apreciados pela gastronomia local, além
de suas possíveis propriedades afrodisíacas. Há quem diga que ele é uma quimera
(um monstro mitológico com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente,
ou ainda, a combinação heterogênea ou incongruente de elementos diversos) entre
um vírus selvagem e o vírus do HIV. O fato é que a maior parte dessas doenças é
de origem animal e muitas delas vindas de animais silvestres.
Independentemente
de valores culturais e éticos de alguns povos, vale ressaltar que a natureza é
uma grande caixa-preta de microrganismos que nem sequer sabemos (ainda) que
existem. Neste caso, ao adentrarmos esse grande quarto escuro, nós estamos
sujeitos a encontrar vírus, bactérias e fungos que podem causar enfermidades para
as quais nosso corpo não possui defesas.
Estudos
publicados nos últimos 15 anos mostravam que havia enorme tendência do
surgimento de novas doenças em função do tipo de alimentação de algumas
populações, da destruição de habitats dos animais silvestres, do desmatamento,
do crescimento populacional desordenado, da pobreza e do aquecimento global.
Pois bem! É isso que estamos vivenciando. São as chamadas doenças emergentes em
função desses fatores. Dentre essas doenças, podemos destacar Ebola,
AIDS/HIV, SARS, H1N1, gripe aviária, febre amarela, a famosa COVID-19, entre
outras.
Por
outro lado, temos uma boa notícia em meio ao caos. Podemos notar uma recuperação,
uma sobrevida da natureza, mostrando sua enorme capacidade de resiliência.
Vimos o reaparecimento de animais silvestres em algumas cidades em quarentena,
melhoria da qualidade da água, redução da quantidade de poluentes na atmosfera
e a consequente melhoria da qualidade do ar que respiramos. A pandemia da
COVID-19 fez com que as atividades industriais diminuíssem consideravelmente.
Há inúmeros cancelamentos de voos, reduzindo em cerca de 40% (de acordo com a
Agência Espacial Europeia) as emissões de gases de efeito estufa e a poluição
do ar em todo o mundo. Se há algo de positivo a tirar dessa terrível crise,
pode ser o gostinho do ar puro que poderemos respirar em um futuro de baixo
carbono.
O
que podemos fazer para evitar situações como essas? Potencializar a comunicação
entre ciência/cientistas com a população em geral. Implementar políticas
públicas de saneamento básico, atuar no ensino com ênfase em educação
socioambiental e em saúde pública desde os anos iniciais do ensino. Buscar o
equilíbrio com o meio ambiente, respeitando a natureza e seus recursos e
compreendendo que deve haver uma harmonia entre nós. Caso contrário, estaremos
fadados a ser uma espécie em vias de extinção.
É
sempre bom lembrar que nós, cidadãos, somos corresponsáveis pela disseminação
da doença e, portanto, devemos nos cuidar e também pensar de forma coletiva.
Para isso, adotar o uso de máscaras, evitar sair de casa sempre que possível,
higienizar as mãos e tudo o que entra em nossos lares (cuidando para não gastar
muita água) são formas de “achatar a curva” e determinar que esse período não
se prolongue tanto.
Rodrigo Silva -biólogo,
doutor em Ciências e coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Gestão
Ambiental do Centro Universitário Internacional Uninter
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