“Nada
como um dia após o outro”. Na economia teríamos que usar o termo “nada como uma
década após a outra” para constatarmos com precisão fatores como a alternância
de planos econômicos, revisões de metas de crescimento do PIB anual brasileiro,
oscilação com máximas históricas do câmbio, recordes de pontos e fechamentos de
negócios batidos na Bovespa.
Recentemente,
em um evento do Banco BTG em São Paulo, o secretário especial de Comércio
Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo,
propagava em alto e bom som que o Brasil passa a rever a política de
substituição às importações, o que, se observarmos ao longo da história da
economia brasileira, é possível compreendermos que um ciclo se encerra
exatamente em período de grandes inovações tecnológicas, propagação das
facilidades conquistadas a partir dos resultados práticos da Indústria 4.0.
Não
obstante, além das demandas por produtos mais tecnológicos, com maior
capacidade de competitividade, de qualidade a preço, também nos deparamos com a
necessidade de adequação aos novos sistemas de negociação internacional, novas
ferramentas e opções de apresentação das marcas e empresas como um todo nas
transações além-fronteiras. Por exemplo, ao considerarmos o Programa AEO –
Authorized Economic Operator (Operador Econômico Autorizado) — do
qual o Brasil é signatário desde 2015 e fazem parte 77 das nações mais
significativas no comércio internacional —, vemos um cenário que permite às
empresas certificadas a otimização de tempo e, principalmente, a redução nos
custos logísticos, pois os exportadores e importadores certificados no programa
gozam de privilégios como a prioridade absoluta nas liberações alfandegárias
nos portos do Brasil, reduzindo e até eliminando custos de armazenagens e
permitindo, assim, a redução no preço final do produto vendido.
Acompanhando
essas novas práticas globais de negócios em que a transparência e o compliance são
fatores mais presentes e necessários, o governo brasileiro claramente sinaliza
para novas definições sobre as entradas de bens estrangeiros no país, com o
propósito de permitir que a indústria brasileira esteja em escala igual as
observadas nos mercados asiático, europeu e americano.
A
possível entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico), criada logo após a 2ª Guerra Mundial para
fomentação de negócios e reestruturação das nações mais prejudicadas nos
conflitos, descortina cenários mais propensos à criação de oportunidades a
partir de programas que demonstram, inclusive — segundo a fala do secretário
Marcos Troyjo —, a possibilidade de redução de alíquotas de alguns
produtos importados, exatamente para o aquecimento do setor, fazendo com que a
concorrência cresça e apresente novas oportunidades aos consumidores e
consequentes práticas de novas tendências de produção local com preço mais
competitivo. Isso porque a tributação tenderia a acompanhar os possíveis
benefícios a serem concedidos aos importados.
Além
desses fatores técnicos e de planejamento estratégico, o Brasil apresenta-se
como um interlocutor direto e protagonista em novas frentes de desenvolvimento
de negócios globais, como a confirmação do acordo Mercosul x União Europeia em
meados de 2019, tema que demandará muitas oportunidades de novos negócios aos
dois blocos. Porém, segundo o secretário Marcos Troyjo, vale a percepção de que
“não adianta fazer uma zona de incentivo, como a Zona Franca de Manaus, sem garantir
o acesso a um grande mercado, os benefícios em troca dos incentivos são
pequenos”.
Assim,
é compreensível que seja necessário criar mecanismos com novas formas e
oportunidades de negócios internacionais, mas que também o empresariado
brasileiro tenha onde expor seus produtos, ou seja, a possibilidade de, além de
vender no Brasil, também possa fazer em mercados atrativos, como o europeu e
outras regiões da América Central. Esse cenário é objeto de negociação de novos
acordos com o Brasil, conforme afirmação do secretário no mesmo encontro do
Banco BTG em São Paulo.
Essa
conjuntura só é possível porque o Brasil figura no mercado internacional sob os
olhares das grandes corporações, que percebem a possibilidade de obter
segurança em um mercado em crescimento, porém sem a necessidade de estar refém
a um sistema que exija contrapartida em retribuição a investimentos e
concessões. A economia vive novos tempos em pilares sólidos sob o ponto de
vista da transparência, confiança e, principalmente, do compliance,
fato extremamente presente e validado nas companhias dirigidas com base na
governança corporativa, em que resultados são exigidos, mas não podem ser
obtidos a qualquer custo; eles são fundamentados em raízes germinadas em solo
estruturado a partir da confiabilidade, segurança jurídica e perspectivas de
crescimento econômico.
João Marcos Andrade -
professor de Comércio Exterior e Global Trading no Centro Universitário
Internacional Uninter.
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