Para psicóloga, cantada
deixa de ser flerte quando outra parte não corresponde à intenção de
relacionamento, podendo chegar a assédio
Um rapaz assovia “fiu fiu” e fala da
forma física da colega de faculdade, enquanto L.A., 21 anos, entra na sala de
aula. Em uma festa, um outro rapaz a puxa pelo braço, ela ressalta que não quer
conversa, apenas dançar com suas amigas. Mas ele, insiste e tenta beijá-la à
força. A cultura da cantada continua forte na sociedade, e muitas pessoas
sentem-se confusas em algumas situações, principalmente quando o assunto é
flerte ou assédio.
Segundo
Sarah Lopes, psicóloga do Hapvida Saúde, o flerte é uma paquera e o assédio
representa uma perseguição e importunação. “Para se caracterizar o flerte, as
partes devem corresponder a esta paquera. Quando isso não ocorre e uma das
partes insiste, causando constrangimento ou até mesmo um incômodo ou
aborrecimento, esta conduta já pode ser considerada assédio. Deixa de ser
flerte quando a outra parte não corresponde à intenção de relacionamento”,
explica a psicóloga.
O assunto
é delicado, mas deve ser debatido e entendido que a partir do momento que
incomoda ou constrange, a pessoa está sendo assediada. “Muitas vezes o flerte
pode iniciar sendo correspondido, porém, por algum motivo, não há mais a troca.
Neste caso, apenas uma das partes permanece na intenção de iniciar uma relação
de paquera”, esclarece. Portanto, assim que perceber que não está sendo
correspondida, a investida deve ser parada imediatamente, para não causar
situações desapropriadas e impertinentes.
O debate
não gira em torno do fim da paquera, e sim do limite entre o cortejar saudável
e uma insistência inadequada, que acontece, muitas vezes, quando o indivíduo
não aceita a possibilidade de receber uma negativa ou, até mesmo, como modo de
forçar uma condição de autoridade e poder. “O assédio deve ser assim
considerado quando uma das partes ocupa lugar de desequilíbrio em relação ao
outro. Este desequilíbrio pode ser financeiro, emocional ou social. Assim, para
que a paquera seja saudável, deve deixar bem claro que respeita os limites do
outro”, enfatiza a especialista.
Conforme o assédio se comprova, é
necessário ser expressamente anunciado para que a pessoa entenda que suas
atitudes são consequência de um comportamento inadequado que não será aceito,
independente se a intimidação ocorreu mediante força física ou emocional. Caso
o assediador for alguém próximo, como por exemplo, um amigo ou colega de
faculdade ou de trabalho, a conduta não deve ser levada adiante para que a
situação não se prolongue e perca o controle. “É importante que a decisão de
quem foi assediado seja compreendida e que não se aceite nada que não queira”,
ressalta Sarah.
Portanto,
vale ressaltar que qualquer relação deve ser estabelecida com limites e baseada
no respeito. A paquera, quando acontece de maneira correta, tenta criar um elo
para compreender na atitude da outra pessoa se ela corresponde na mesma medida,
respeita seu espaço, seu limite, seu corpo e suas vontades. Ao contrário do
assédio, a paquera não provoca sensações de medo ou angústia por apresentar-se
de forma consentida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário