Em 1953, o psicoterapeuta Rollo May publicou uma
obra memorável com o título O homem à procura de si mesmo, quando a
humanidade, ainda sob os efeitos dos horrores da Segunda Guerra Mundial, estava
em pessimismo profundo, debatendo Alberto Camus, para quem “a vida não tem
nenhum sentido”. Tendo iniciado seus estudos em Viena, o dr. May completou seu
doutorado em Nova York com louvor e buscava encontrar respostas para o vazio da
vida.
Rollo May se perguntava: “Como é possível alcançar
o bem-estar interior numa sociedade tão dilacerada?”. Para ele, o homem do
século 20 trazia em sua essência um vazio existencial e a sensação de solidão,
e asseverava que esse estado tinha a ver com o declínio da religião, mas também
com as mortes, as torturas e as várias formas de agressão entre os humanos,
fazendo mesmo parecer que a vida não tem sentido algum.
O dr. May anota, como dito pelo psicólogo William
James, que o maior desejo do ser humano é ser amado e apreciado. Mas, nessa
busca, a competição individual transforma o outro em adversário – quando não em
inimigo – e bloqueia em grande parte as possibilidades de amar o próximo. Já
naquela época, ele criticava o que hoje é visto como virtude nas organizações:
a extremada competição, a necessidade de superar o próximo e o descarte dos
menos capazes.
A sociedade moderna exalta os geniais e os de alta
performance, o que é bom para a produtividade econômica. Mas a maioria da
humanidade não é brilhante nem genial, senão apenas normal. Um dos desafios do
mundo do trabalho no século 21 será como incorporar os fracos e os menos
capazes, já que eles não poderão ser descartados nem abandonados.
Assim como a alavanca de Arquimedes de Siracusa foi
o recurso que permitiu a um homem franzino de 50 quilos mover uma pedra de uma
tonelada, a tecnologia e a inovação deverão propiciar que os menos capazes
tenham elevado desempenho. E, quando isso ocorrer, a competição individual
mudará o foco; o outro deixará de ser um inimigo a ser derrotado e o espaço do
amor ao próximo crescerá, permitindo, assim, que a solidão e o vazio
existencial sejam reduzidos.
Em seus estudos, Rollo May refere-se a outro notável
psicólogo: o dr. Viktor Frankl, que estivera nos campos de concentração de
Hitler e fizera acuradas observações a respeito do comportamento humano em
situação de tortura e sofrimento. Ele próprio vítima dos horrores da guerra,
perguntava-se por que os prisioneiros submetidos a terríveis dores físicas e
mentais não optavam pelo suicídio.
Tendo sobrevivido e retornado a seu consultório em
Viena, quando um paciente se apresentava no limite da dor, ele perguntava: “Por
que não opta pelo suicídio?”. Após estudos científicos acurados, ele publicou
sua obra Em busca de sentido, para dizer que mesmo aqueles
prisioneiros castigados até o limite da dor se apegavam a um fio de esperança,
e o faziam porque suas vidas tinham sentido. E o dr. Frankl propõe a logoterapia,
isto é, a busca de sentido, de uma razão por que viver. Eis aqui um desafio
para cada um de nós.
José Pio Martins - economista,
é reitor da Universidade Positivo
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