No mesmo dia em que o
Senado Federal, por um triz, não acabou com os aplicativos de celular para o
transporte privado de passageiros, o
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) divulgou estudo que os
qualifica como benéficos ao consumidor por aumentarem a concorrência e
possibilitarem a redução de falhas que ocorriam no mercado. Por isso,
acrescenta o Cade, "regulamentações muito restritivas podem impactar
negativamente o setor".
É
impressionante a capacidade do poder público brasileiro de jogar contra o
interesse da sociedade! Os aplicativos criaram um vasto mercado consumidor,
que, em grande parte, não era usuário de taxis. Esse novo mercado abriu
oportunidades de trabalho, com a autonomia própria das atividades privadas,
servindo como renda ou complementação de renda para milhares de operadores do
modelo. Por outro lado, revolucionaram o transporte urbano, assegurando aos
usuários o prévio conhecimento do preço, a possibilidade de avaliar o
atendimento recebido, a estimativa do tempo de chegada do transporte e do tempo
de rodagem até o destino, o débito automático em cartão de crédito, e um padrão
de cortesia que modificou para melhor o atendimento prestado pelos taxistas lá
no outro nicho do mercado de transporte urbano.
Estes
últimos vinham, de longa data, abusando de uma reserva tutelada pelo poder
público, que acabou transformando a licença para operar em uma forma de
patrimônio com elevado valor comercial, dado ser a oferta inferior à demanda.
Nas horas de maior solicitação, o taxi se tornava um serviço indisponível.
No
estudo preliminar que divulgou, o Cade constata algo que os liberais sempre
souberam: havendo competição, as falhas se corrigem sem necessidade de regulação.
Em viés oposto, quando o governo começa a regulamentar, os preços tomam o
elevador para cima e a qualidade desce rapidamente para o nível do chão.
Chega
a ser irritante saber que os representantes do povo brasileiro na Câmara dos
Deputados aprovaram e enviaram ao Senado um projeto que, na prática, tornaria
irreconhecível um serviço ao qual a população dera tão efusivas boas-vindas.
É a
velha compulsão para o retrocesso, que nos empurra do "Espírito das
Leis" para as assombrações legislativas, sempre pronta a criar
espantalhos, a complicar o que pode ser simples, a onerar o que pode custar
barato e, de quebra, taxar, tributar, multar, controlar, autorizar ou não,
liberar ou não, conferindo importância à burocracia às custas da criatividade e
do trabalho alheio. A sociedade dispensa esse tipo de zelo intrometido,
abelhudo, dos poderes públicos.
Com
as emendas aprovadas no Senado, o projeto volta para a Câmara. Esperemos que
seja a câmara mortuária do arquivo.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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