Os aparatos de manipulação da opinião pública difundem que a
corrupção é um fenômeno cultural e que nada se consegue fazer contra ela. Isso
é uma grande mentira, que tem por objetivo preservar a roubalheira generalizada
dos grandes poderosos que dominam o País.
Todo mundo sabe que a corrupção aqui foi implantada
sistematicamente com a chegada dos europeus. No dia em que lancei meu livro O jogo sujo da corrupção (maio/17), uma
jornalista disse que estava impressionada com a atualidade do tema. Eu observei:
desde 1500 esse tema é muito atual. Falei isso porque se sabe que a corrupção
aqui se tornou sistêmica depois das caravelas de Cabral.
Todos os países que reduziram drasticamente a corrupção nos
últimos 50 anos (Hong Kong, Singapura, Ilhas Maurício, Botsuana, Alemanha
depois dos anos 90 etc.) combinaram duas coisas: repressão com educação
(ensinando, sobretudo, ética).
Mas no plano cultural, além da ética, a grande mudança nos costumes
(nas tradições) decorre do sentimento de vergonha. Quando todos nós sentirmos
vergonha do “jeitinho” e da corrupção, eles começarão a desaparecer.
Foi a vergonha
(como diz Kwame Antony Appiah) que historicamente eliminou o duelo (tão
corriqueiro nos séculos XVII-XVIII), que libertou os pés das chinesas do grupo
han (pés que antigamente eram cruelmente amarrados), que colocou fim na imoral
escravidão (sendo o Brasil o último a fazer isso nas Américas, em 1888).
Há duas décadas as pessoas ainda fumavam nas mesas onde se
comia. Hoje tornou-se impossível acender um cigarro onde estamos tomando refeições.
Esse é mais um exemplo de que os costumes se alteram.
Não é verdade, portanto, que nada se pode fazer para mudar
profundamente a cultura da corrupção.
Quando todos sentirmos vergonha da corrupção, da divulgação
de fatos que revelem sérios desvios de conduta, do ato da prisão, do processo,
da condenação e de eventual encarceramento, com certeza deixaremos de ser o 4º
país mais corrupto do mundo (depois da Venezuela, Bolívia e Chade), segundo o
Fórum Econômico Mundial (Suíça).
É fundamental que o corrupto sinta vergonha de ser corrupto,
sobretudo diante dos filhos, dos parentes, dos amigos, dos conhecidos. É o fim
da impunidade dessa delinquência nefasta que começa a gerar vergonha.
Todos temos que ter vergonha, não orgulho, de dizer que “nós
não vai (sic) ser preso”, que sintetiza a cultura perversa da impunidade.
A vergonha decorrente
do império da lei para todos (isso é o correto numa República) constitui
ferramenta muito útil para a prevenção da corrupção.
Repressão (iniciada pelo mensalão e pela Lava Jato),
educação (ética) e vergonha. Nessa trilogia reside a cura para a cultura do
“jeitinho” e da corrupção. Nenhum corrupto pode ter orgulho de dizer que sabe
como escapar das consequências da lei.
LUIZ FLÁVIO GOMES - jurista. Criador do Movimento Quero Um
Brasil Ético. Estou no F/luizflaviogomesoficial
Nenhum comentário:
Postar um comentário