De aparentes,
as rachaduras já produzem ruínas. Ou, como diz o dito popular: “A casa caiu”. Foi anunciada na manhã
de quarta-feira (4) a renúncia da presidente da Petrobras Graça Foster e de cinco
diretores. A notícia da troca de comando da estatal, já dada como certa na
terça-feira (3), impulsionou as ações da empresa, que fechou o dia com a maior
alta dos últimos 16 anos, ofuscando os impactos do rebaixamento do rating anunciada recentemente pelas
agências de classificação de risco.
No
entanto, a euforia durou pouco. Na manhã de hoje (6), o nome de Aldemir
Bendini, presidente do Banco do Brasil, foi confirmado como o sucessor de
Foster. As ações da petroleira caíram novamente, em uma espécie de reprovação.
O mercado tem grande restrição em relação ao novo diretor, uma vez que está
envolvido em várias operações de cunho duvidoso. Enquanto na condução do BB,
aprovou, por exemplo, o empréstimo à socialite
Val Marchiori, no valor de R$ 2,7 milhões, considerado irregular pela própria
instituição. Além disso, foi condenado ao pagamento de multa à Receita Federal,
por evolução patrimonial sem justificativa de origem de recurso, equivalente a
quase R$ 122 mil. A condenação se deu por compra, em dinheiro vivo, de um
apartamento, no ano de 2010.
Apesar
da dança das cadeiras, os problemas da estatal continuam os mesmos. O navio
troca o capitão, mas mudar o rumo depende de diversas outras variantes. Os
negócios da Petrobrás vêm sendo prejudicados seriamente pela publicação das
Demonstrações Financeiras do 3º Trimestre de 2014. Ou melhor: pela falta dela.
Prorrogado por duas vezes e já com multa aplicada, o balanço contábil da
empresa foi divulgado sem o selo da auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC). O
mercado, por sua vez, está preocupado e não vê o resultado com bons olhos.
O
rebaixamento do rating, por sua vez, significa que, sobre a Petrobras, recai o
alerta de ‘perigo’ a todos os seus prospectos e futuros investidores. A este
cenário, soma-se a possibilidade do não pagamento dos dividendos aos
acionistas, devida ao estresse financeiro vivido pela companhia.
A
novela política da operação "Lava-Jato" vem, a cada momento,
revelando detalhes de manobras que jamais poderiam acontecer dentro de uma
organização de grande porte. Além de ter sido usada para evitar o aumento dos combustíveis
em ano eleitoral, também serviu de ponto de venda artificial de plataformas e
geração forçada de lucros para repasse ao Governo.
Nos
levantamentos efetuados em Pernambuco, na obra Abreu e Lima, por exemplo, os
escândalos e desvios de finalidade ficaram claros. No entanto, o pagamento de
propina eleva o custo da obra, criando um valor fictício do bem final, superior
ao tanto que vale realmente. É como se um apartamento fosse avaliado,
incluindo-se o dinheiro pago indevidamente a um terceiro. O ativo da companhia
sobe de forma artificial, o que acarreta desajustes contábeis.
Além
disso, a maior preocupação da Petrobras atualmente é o esvaziamento do caixa.
Por conta de vencimentos antecipados de títulos de dívida, a empresa está cada
vez mais vulnerável, provocando a coibição de futuros investimentos e a
paralisação de projetos em aberto. No momento, extrair petróleo está mais caro
do que importá-lo, já que o barril vale entre US$ 48 a US$ 50, menos do que no
ano anterior, quando atingiu a marca dos US$ 112.
Segundo
o mercado, a perda apurada deveria estar entre US$ 10 e US$ 20 bilhões, mas o
próprio conselho de administração evidenciou que a cifra chega a US$ 34,5 bi,
quase 88,6 bilhões em moeda nacional.
O
balancete, inutilizável sem a auditoria, é uma forma de prestar contas aos
financiadores da empresa e evitar que haja vencimento automático de dívidas.
Assim, a petroleira foge de compromissos imediatos, no montante aproximado de
R$ 45,8 bilhões, algo em torno de 65% do seu caixa.
O
EBITDA, do inglês ganhos antes das deduções em geral, também chama atenção. Com
a redução do caixa em 28% do segundo para o terceiro trimestre de 2014, o
resultado da relação dívida/EBITDA atingiu 4,63. Para uma empresa com um
portfólio de investidores igual ao da Petrobrás, este indicador não deveria
ultrapassar os 2,5.
Nos
nove primeiros meses de 2014, os financiamentos eram R$ 35,2 bilhões, quando, no mesmo período do ano anterior,
equivaliam a R$ 22,7 bilhões. O motivo? O aumento do endividamento da empresa e
pressão sobre os futuros investimentos. Analisando-se o fluxo de caixa, o que
se observa é um caos total e mais uma série de manobras criativas para
contornar as consequências inevitáveis.
Reginaldo
Gonçalves - coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa
Marcelina - FASM
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