A maior proximidade dos animais de companhia com seus tutores vem
contribuindo para o avanço da obesidade entre os pets. Apesar da falta de dados
oficiais sobre a doença, a estimativa é que pelo menos 20% dos cães no Brasil
estejam acima do peso recomendado. Em países desenvolvidos, o excesso de peso
já é considerado o segundo problema de saúde mais comum entre os felinos.
Neste contexto, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de
São Paulo (CRMV-SP) faz um alerta aos tutores quanto aos cuidados necessários
para manter a saúde e o bem-estar dos animais.
Assim como nos humanos, a falta de atividade física e o consumo de
calorias em excesso estão entre as principais causas da obesidade em cães e
gatos. Animais castrados e de idade mais avançada são os que têm maior
propensão a engordar, pois possuem menor necessidade energética, já que tendem
a ser menos ativos.
Algumas raças caninas são também mais predispostas à obesidade, como
Labrador, Beagle, Teckel, Basset Hound, São Bernardo, Cocker Spaniel, Golden
Retriever, dentre outras. Da mesma forma, os gatos machos e castrados são os
mais suscetíveis ao aumento de peso.
Alimentação equilibrada
Apesar da aparência de um gato ou cão mais rechonchudo agradar alguns
tutores, o excesso de gordura aumenta os riscos de o animal desenvolver
patologias graves, como diabetes, doenças cardiorrespiratórias e ortopédicas,
além de diminuir a sua expectativa de vida em aproximadamente dois anos. Sendo
assim, os cuidados com a alimentação são fundamentais.
Além da quantidade e da qualidade, o teor de energia do alimento é um
fator importante para ser avaliado, explica o médico-veterinário Yves Miceli de
Carvalho, presidente da Comissão Técnica de Nutrição Animal do CRMV-SP. "A
falta de informação pode contribuir para que ocorram equívocos no manejo
nutricional por parte do dono", observa.
Como muitos tutores desconhecem a quantidade ideal de alimento que o
animal deve consumir por dia, é importante contar com a orientação de um
profissional médico-veterinário. "A quantidade recomendada nas embalagens
é baseada no cálculo de energia média que o animal necessita para se manter
saudável, de acordo com seu peso, idade e atividade. A margem de segurança
desta recomendação é de 20% para mais ou para menos", explica Carvalho.
Após a castração ocorre a queda dos hormônios sexuais que promovem gasto
energético metabólico. Por isso, animais castrados devem ter uma dieta com
baixa densidade calórica, não necessariamente comer em menor quantidade, como
informa o Prof. Fabrício Lorenzini, Coordenador do Programa de Residência
Médico-Veterinária do Hospital Veterinário da Universidade Anhembi Morumbi.
"Quanto menos calórico for o alimento, maior volume poderá ser
oferecido."
Para manter ou voltar ao peso ideal, normalmente o cão ou gato deve ser
submetido a uma dieta específica. De acordo com o médico-veterinário Yves
Miceli de Carvalho, existem alimentos com calorias reduzidas (light) -
indicados para animais com tendência a engordar - e também os alimentos que
estimulam o emagrecimento. "São alimentos distintos e que necessitam de um
acompanhamento profissional", diz.
É necessário que o animal passe pela avaliação de um médico-veterinário e que
seja diagnosticado o percentual de sobrepeso, que pode ser de 15 a 20%, de 20 a
30% e acima de 30%, índice já considerado como indicativo de obesidade mórbida.
"Após determinar esse percentual, o médico-veterinário irá orientar a
conduta nutricional a ser aplicada e o tempo do tratamento" reforça o
presidente da Comissão Técnica de Nutrição Animal do CRMV-SP.
O médico-veterinário irá estipular o peso ideal, calcular a necessidade
calórica diária do animal e, consequentemente, a quantidade em gramas da ração
específica que o animal deverá ingerir por dia, para que ocorra a perda de peso
de forma saudável. "Também é fundamental que o animal seja estimulado a
praticar atividade física. São indicados passeios, no caso de cães, e
brincadeiras, para cães e gatos", complementa a médica-veterinária Profa.
Dra. Viviani De Marco, Presidente da Associação Brasileira de Endocrinologia
Veterinária (ABEV) e docente do Curso de Mestrado Strictu Senso em Medicina
Veterinária da Universidade Santo Amaro (UNISA/SP).
A avaliação do médico-veterinário inclui uma boa inspeção visual e
palpação do animal, levando em consideração o acúmulo de gordura sobre as
costelas, na região abdominal e na base da cauda. "Cães com peso ideal
devem ter as costelas facilmente palpáveis, com discreta camada de gordura,
contorno lateral visível, cintura aparente e proporcional", diz Viviani.
A professora informa também que há um sistema de escore utilizado nos
consultórios que avalia a condição corpórea e estima a porcentagem de gordura e
massa magra do indivíduo. "O sistema vai do 1 ao 9, sendo que o escore 5
significa o peso ideal. Desta forma, fica fácil para o tutor do animal
reconhecer o problema."
Comportamento animal e humano
Os tutores devem ter como prioridade atender as necessidades do pet no
que diz respeito à manutenção da sua saúde e bem-estar. Agrados são bem-vindos
desde que não haja excessos na oferta de ração ou petiscos, por isso é preciso
resistir à tentação de dar o alimento toda vez que o animal pede.
Mesmo domesticados e vivendo em ambientes urbanos, os animais trazem em
sua genética comportamentos da vida selvagem, como associar o alimento à
sobrevivência. Mas, de acordo com o Prof. Fabrício Lorenzini, os animais também
respondem as táticas de condicionamento e, desta forma, podem entender o
alimento como um reforço positivo ou negativo, validando ou não sua atitude.
"Nesta linha de raciocínio, o alimento pode sim representar afeto ou
situação de prazer ao pet", salienta.
Síndrome de Cushing
O excesso de calorias não é o único fator da obesidade, como lembra a
Profa. Dra. Viviani De Marco, que também é responsável pelo Serviço de
Endocrinologia de Cães e Gatos e sócia-proprietária da NAYA Especialidades, em
Campo Belo (SP). "É importante que o tutor do animal procure um
médico-veterinário para uma avaliação clínica completa e realização de exames
laboratoriais para investigar possíveis alterações metabólicas, como
hiperglicemia, hiperlipidemia, alterações hepáticas, mensuração da PA e
distúrbios hormonais" orienta.
O aumento de peso, sobretudo nos cães, também pode estar relacionado à
Síndrome de Cushing. "Trata-se de uma condição clínica caracterizada por
concentrações persistentemente elevadas de cortisol na corrente
sanguínea", explica Viviani.
Os principais sintomas do excesso de cortisol incluem: aumento do
apetite, aumento da sede, aumento da frequência e do volume urinário, atrofia e
fraqueza muscular, cansaço fácil, ofegância e diversas alterações
dermatológicas. "A obesidade na Síndrome de Cushing é tipicamente central
ou abdominal, e o animal adquire um abdômen abaulado e distendido", esclarece.
Esta doença pode ser causada por um tumor na hipófise, um tumor na
glândula adrenal ou pelo uso abusivo e crônico de glicocorticoide, utilizado
como forma de terapia para várias doenças. Para que a síndrome possa ser
diagnosticada e tratada adequadamente, um médico-veterinário deve ser
consultado.
Sobre o CRMV-SP
O CRMV-SP tem como missão promover a Medicina Veterinária e a Zootecnia,
por meio da orientação, normatização e fiscalização do exercício profissional
em prol da saúde pública, animal e ambiental, zelando pela ética. É o órgão de
fiscalização do exercício profissional dos médicos-veterinários e zootecnistas
do Estado de São Paulo, com mais de 34 mil profissionais ativos. Além disso,
assessora os governos da União, Estados e Municípios nos assuntos relacionados
com as profissões por ele representadas.