Há muitos anos, em um dos
shows que periodicamente apresentava na linha do "Eu sou o
espetáculo", o comediante José Vasconcellos parodiava o ator Gary Cooper subitamente
cercado de índios inamistosos. Eram dez mil índios à frente, dez mil à
retaguarda, outros dez mil de cada lado. "O que farei?" perguntava,
em inglês, simulando o astro hollywoodiano em diálogo consigo mesmo. "O
melhor é tornar-me índio também!", concluía.
Lembrei-me do saudoso comediante e do
impasse de Gary Cooper ao ponderar nossa situação como cidadãos no quadro
político em que nos emolduraram. Nunca vivi cena assim. Ela está bem expressa
na imagem que me chegou pelas redes sociais solicitando marcar com
"x" a instituição em que mais se poderia confiar. Apresentava, para
isso, quatro alternativas: governo, parlamento, judiciário e ... jogo do
bicho. Impossível negar que estamos
literalmente cercados!
Se buscarmos saídas pelo padrão
universal, ou seja, dentro do binômio governo/oposição, salta aos olhos a
ausência de alternativas. O que acontece no Brasil é inusitado! Sabe-se, agora,
fora de qualquer dúvida, que havia uma organização criminosa dentro do governo
e outra na oposição. Com o impeachment, uma parte da que estava no governo
juntou-se aos quadrilheiros à espreita nas cavernas da oposição e formou o novo
governo. Havia gente boa no anterior? Sim, claro; pouca, mas havia. Há gente
boa no novo governo? Sim, claro, pouca, mais há. O problema é que os interesses
se polarizam em torno da disputa pelo poder, fazendo com que deixe de existir
uma alternativa política respeitável, na qual a nação possa confiar.
Com a cisão da organização criminosa que
governava o país foi como se uma cápsula de guerra bacteriológica se rompesse.
A peste se alastrou. E o fez com intensidade, atingindo os tribunais
superiores, que confundem dignidade com indignação ante qualquer dedo virado
para seu lado. Não, cavalheiros, arrogância nunca foi sinônimo de virtude e não
é o pedestal que faz o santo.
No curto prazo, nosso rumo está traçado
pelo GPS da Constituição. Seremos governados por uma quadrilha, pelo menos até
31 de dezembro de 2018. A situação também não se altera mudando-se a
Constituição, como quer o PT com suas joint
ventures para eleger Lula. Oportuna e felizmente, logo ali, em outubro do
ano que vem, ou seja, dentro de 16 meses, o poder volta às mãos do povo
viabilizando a higiênica faxina eleitoral que poderá encurtar, para muitos, a
distância entre a Praça dos Três Poderes e a porta da cadeia. E saneando o
quadriênio vindouro. No presidencialismo, dia de eleição é a bala de prata
quadrienal. Errou, se ferrou.
Enquanto não forem melhorados, assim são
os passos da democracia e do Estado de Direito dos quais este colunista não
arreda pé. Quem quiser alternativa diferente vá beber noutra caneca.
Somos como Gary Cooper parodiado por
José Vasconcellos. Estamos entre dois bandos que se enfrentam. Graças a Deus
não precisamos aderir a um deles. Aliás, se me recuso a apontar qualquer um
como merecedor de adesão, não hesito em identificar o pior. Muito
resumidamente, porque a lista seria imensa, refiro-me ao bando formado por
aqueles que:
· apreciam, reverenciam e apoiam financeiramente
os regimes cubano e venezuelano;
· sonham com um "marco
regulatório" da imprensa, com um "marco civil" da Internet e com
um Conselho Federal de Jornalismo para cercear quem os incomode;
·
promovem a luta de classes, conflitos raciais,
conflitos de gênero, invasões de terra, violência sindical;
·
são contra privatizações e responsabilidade
fiscal;
·
se puderem, criarão os sonhados
"Conselhos populares" (sovietes) para esterilizar a representação
parlamentar;
·
dão refúgio a terroristas, fundaram e comandam
o Foro de São Paulo;
·
apoiam quaisquer políticos ou filósofos
adversários da cultura e da civilização ocidental;
·
chamam bandidos de "heróis do povo
brasileiro", dão nomes de ruas e constroem memoriais a líderes comunistas;
·
têm fobia a órgãos de segurança pública;
·
dedicam preferencial atenção aos direitos
humanos dos bandidos;
·
promovem a ideologização da educação e
defendem o direito de fazê-lo;
·
são contra a redução da maioridade penal e a
favor do desarmamento;
·
apoiam a agenda de gênero nas escolas, criaram
o kit gay, defendem a liberação do aborto, financiam a marcha da maconha;
·
criaram, compreendem e utilizam movimentos
sociais como milícias a serviço de suas causas políticas.
Cadeia para todos os corruptos,
independentemente das letrinhas partidárias em que estejam acantonados! Toda a
atenção para o esclarecimento dos eleitores com vistas ao pleito do ano que
vem! Todo empenho por uma reforma institucional com parlamentarismo, voto
distrital e cláusula de barreira! O poder não pode voltar às piores mãos!
Estamos cercados, mas lutando o bom combate!
Percival Puggina - membro da Academia
Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões;
A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.