O estudo usou um sistema semelhante a uma touca de natação, para produzir
imagens do cérebro com alta resolução - Revista NeuroImagem - Volume 265 - 01-2023
A médica pós-graduada em Pediatria e sono infantil, Dra. Ana Jannuzzi explica que por meio da tecnologia usada no estudo, foi possível analisar o cérebro dos recém-nascidos e correlacionar com as fases do sono
Quando o assunto é o sono dos bebês recém-nascidos,
o que se sabe é que eles dormem bastante. Isso porque, os padrões de sono nessa
fase podem variar entre 10 e 18 horas por dia, espaçado durante as 24 horas,
sem muita diferença entre o dia e a noite. Mas o que pesquisadores do Reino
Unido descobriram é que os dois períodos de sono identificados nos
recém-nascidos servem para que eles aprendam a reconhecer pessoas e espaços,
além de fornecer ajustes no funcionamento de regiões do cérebro de forma
individual. A descoberta foi publicada, recentemente, no periódico científico
NeuroImage, abrindo portas para fornecer “pistas” do porquê os bebês dormem
mais, além de informações sobre a maneira como eles aprendem.
“Para bebês recém-nascidos, nos classificamos o
sono em ativo e tranquilo. O primeiro é o que chamamos também de sono REM, onde
há movimentação ocular e de membros. O segundo é o que se tornará o sono profundo,
com suas fases, tal como conhecemos no adulto. Um estudo com esta tecnologia,
que permite analisar a hemodinâmica de cada área do cérebro e correlacionar com
a fase do sono em que a criança se encontra é riquíssimo, já que é muito
difícil fazer essas análises de forma convencional em bebês recém-nascidos. A
integração cortical mais evidente que ocorre no sono ativo (que chamaremos
também de sono REM) está de acordo com os resultados anteriores de diversos
estudos em diferentes faixas etárias: o sono ativo do bebê é fundamental para
seu desenvolvimento cognitivo. Vale lembrar que este sono ativo corresponde a
cerca de 70% do tempo total de sono de um recém-nascido. Isso conversa
diretamente com o padrão de sono do bebê, polifásico e com muitos despertares”,
explica a médica pós-graduada em Pediatria e sono infantil, Dra. Ana Jannuzzi.
Ana Jannuzzi ressalta ainda que o sono do bebê vai
modificando sua arquitetura conforme ele cresce e se desenvolve. “No início da
vida, fase de maior desenvolvimento cerebral, ele tem cerca de 70% de sono REM
(ou sono ativo). Este valor vai diminuindo até chegar a cerca de 30% no adulto.
O sono ativo é justamente onde as memórias são consolidadas e também as
conexões são formadas. Se você vê uma caneca azul e depois descobre uma bola
vermelha, com as conexões formadas entre as memórias poderá, em algum momento,
abstrair que existe uma caneca vermelha e uma bola azul. Essas conexões entre
conhecimentos são fundamentais para a vida”, pontua a médica.
Sono dos recém-nascidos faz com que eles reconhecem
pessoas e espaços, e ajustem o funcionamento do cérebro:
Estudos de eletroencefalografia (EEG) apontaram que
esses estados demonstram dinâmicas funcionais distintas. Para monitorar e
identificar essas fases, os estudiosos britânicos usaram um equipamento
desenvolvido pelos cientistas da Universidade de Cambridge. O sistema é
semelhante a uma touca de natação, e pode produzir imagens do cérebro com alta
resolução. A touca foi conectada a um computador através de um único cabo e filmaram
os bebês durante o monitoramento cerebral, para comparar os dados
posteriormente.
De acordo com o estudo, foram identificadas
diferenças no cérebro durante as duas fases: sono ativo e sono tranquilo. Dessa
forma, os bebês ficaram mais inquietos na fase do sono ativo, com o estímulo de
regiões dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro ao mesmo tempo e da mesma
maneira. Além disso, observaram a formação de novas e longas conexões em toda a
estrutura do cérebro. Já durante o sono tranquilo, foram observadas conexões
mais curtas nas regiões cerebrais. Com isso, o estudo avalia que o sono ativo é
momento fundamental para que o cérebro, por exemplo faça o reconhecimento de
pessoas ou de espaços. Já no sono tranquilo a conclusão é que ele serve para ajustar
o funcionamento de regiões do cérebro de forma individual.
Por fim, o estudo britânico avalia que as
descobertas podem abrir caminhos para o desenvolvimento de técnicas de
aprimoramento de recém-nascidos prematuros. Isso porque, o design da touca foi
pensado para não incomodar o bebê e ser facilmente transportado, para que por
exemplo, durante o monitoramento o bebê possa permanecer no berço ao lado de
sua mãe. Com isso, os pesquisadores acreditam que, isso pode facilitar o
monitoramento de recém-nascidos vulneráveis, como bebês prematuros em UTIs.
A íntegra do estudo pode ser lido aqui.
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