Número de
mamografias feitas no SUS, que limita acesso a maiores de 50 anos, voltou a
subir em 2022 depois de forte queda no período mais intenso da pandemia, mas
segue baixo. Entidades médicas, incluindo a Sociedade Paulista de Radiologia e
Diagnóstico por Imagem (SPR) recomendam que o exame esteja disponível a partir
dos 40 anos, com repetição anual - ou antes - em caso de história pessoal ou
familiar
photography33_depositphotos |
O câncer de mama é o mais comum entre as mulheres,
precedido apenas pelos tumores de pele não-melanoma. Para o triênio 2023-2025,
são esperados cerca de 74 mil novos casos/ano, segundo o Instituto Nacional de
Câncer (INCA), ligado ao Ministério da Saúde. No país, cerca de 60% desses
tumores ainda são descobertos em estadiamento avançado, exigindo tratamento
mais agressivo.
A mamografia é o primeiro exame a ser feito para
detectar a doença, principalmente por seu potencial de identificar lesões ainda
não palpáveis. “Os tumores malignos de mama se apresentam na forma de nódulos
ou de microcalcificações. A mamografia é o único método diagnóstico existente
que é capaz de identificar a presença dessas microcalcificações e nódulos que
podem estar associados ao câncer. Ela é a nossa bússola e norteia a realização
de exames complementares”, diz a médica.
A conduta padronizada no país é fazer a mamografia
seguida por uma ultrassonografia das mamas. “A ultrassonografia das mamas é
importante para melhorar a detecção de nódulos, principalmente em mamas mais
densas ou glandulares, que são o tipo mais comum nos dias atuais”, diz a
radiologista. Segundo a médica, muita gente não sabe que a mamografia consiste
em uma radiografia da mama. Durante o exame, cada seio é acomodado e comprimido
entre duas placas acrílicas em um equipamento chamado mamógrafo. “Quando o seio
está na posição certa, o mamógrafo emite um feixe de Raios X que atravessa o
tecido mamário”, descreve a radiologista Camila. A compressão é fundamental
para radiografar a mama em toda a sua extensão e garantir a qualidade da
imagem, mas pode causar desconforto.
“A intensidade dessa sensação dolorosa, que dura
aproximadamente quatro segundos, varia a cada pessoa. E não importa o tamanho
da mama: há mulheres que não sentem nada ou têm desconforto leve, enquanto
outras relatam grande mal-estar”, diz a médica. Se não houver urgência, a
orientação é evitar a realização do exame no período pré-menstrual ou em fases
de maior sensibilidade física e emocional. Até o momento, não foram
desenvolvidos aparelhos com a mesma finalidade que descartem a compressão da
mama durante o exame.
A cobertura mamográfica no Brasil é considerada
muito baixa. Apesar da carência e da variação de dados sobre o número total de
mamografias feitas na rede pública e suplementar no país, as informações
disponíveis mostram que ainda estamos distantes do padrão recomendado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS). A entidade preconiza que ao menos 70% das
mulheres com idade entre 40 e 69 anos sejam inseridas em programas de
rastreamento.
Os números de mamografia no
Brasil - Em 2022, o SUS realizou 3.246.960 de mamografias
(SISCAN/Datasus). O volume foi maior do que no ano anterior, quando foram
feitas 2.680.472 mamografias (1), e do que em 2020, primeiro ano da pandemia de
covid-19, quando apenas 1.868.352 mulheres se submeteram ao exame na rede
pública. Todos os exames realizados no ano passado na rede pública
corresponderam a uma cobertura de cerca de 28% da população feminina com idade
entre 50 e 69 anos, estimada em cerca de 11,4 milhões (10,49%) pelo IBGE para
2022 (108,7 milhões ou 51,1% do total de 212,7 milhões de habitantes).
Por uma determinação do Ministério da Saúde, o SUS
só oferece a mamografia de rotina (quando não há sinais ou sintomas
relacionados ao câncer de mama) a mulheres com idade entre 50 e 69 anos e a
pacientes de risco elevado, como mostra a tabela abaixo.
Brasil 2022
População brasileira estimada
em 2022 (IBGE)
212,7 milhões
Mulheres (toda as idades)
108,7 milhões (51,1%)
População-alvo da mamografia
de rastreamento entre 40 e 69 anos
19.359.470 (17,81%)
População entre 50 – 69 anos
11,4 milhões (10,49%)
Mulheres
40 a 44 anos – 3,88%
45 a 49 anos - 3,44%
Total – 7,32%
50 a 54 anos – 3,12%
55 a 59 anos – 2,87%
60 a 64 anos – 2,49%
65 a 69 anos – 2,01%
Total 10,49%
Fonte: Projeção IBGE
A opção das brasileiras que têm menos de 40 anos
sem sinais ou sintomas associados à doença ou fatores de risco é buscar o exame
na rede privada ou suplementar. As sociedades médicas, como a SPR, divergem
dessa orientação e recomendam a primeira mamografia, para fazer um mapeamento
das mamas, a partir dos 40 anos. Segundo a radiologista Camila, é consenso
entre os profissionais da saúde que o Ministério da Saúde precisa atualizar
suas diretrizes. A expectativa é de que a ministra da Saúde recém-empossada,
Nísia Trindade, reveja essa orientação. “As evidências científicas apontam que
25% das mulheres brasileiras que terão câncer de mama estão na faixa etária
entre 40 e 49 anos de idade”, diz a especialista. Quando há casos de câncer de
mama ou ovário em parentes próximas, o rastreamento deve começar aos 30 anos.
Diversos fatores contribuem para que a mamografia
siga menos acessível do que deveria. Além das limitações do SUS, há as filas de
espera por consultas e exames (o que se agravou com a covid-19), o alto custo
do exame na rede privada para quem não tem plano de saúde e a desigualdade na distribuição
dos equipamentos de mamografia no país, mais concentrados nas grandes cidades e
nas regiões Sul e Sudeste.
Referência
- Fonte:
SISCAN – Mamografia – Por Local de Residência – Brasil/ Exames por Tipo
Mamo rast segundo Ano competência 2018-2022. Acessado em 24/01/2023.
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