“Interação, estímulo, resposta, trocas afetivas e sensoriais”, aposta Ana Cristina Gatti, coordenadora da educação infantil do Colégio Domus Sapientiae, de São Paulo
Férias escolares, crianças e adolescentes
em casa, pais trabalhando... Como buscar o equilíbrio? Como evitar o uso
excessivo de telas pelos pequenos? Como trazer leveza para as famílias com
diversão, afeto e interatividade longe de celulares, televisão e tablets?
Conversamos com Ana Cristina Gatti, coordenadora da educação
infantil do Colégio Domus Sapientiae, que fica no Itaim, em São
Paulo para encontrar as respostas para essas perguntas. Confira!
“Contato
excessivo com as telas afeta o bem-estar mental de crianças e jovens”
A profissional está em contato com crianças e
adolescentes boa parte do tempo e, com isso, pela própria experiência, enxerga
que o desequilíbrio pode ser nocivo para os pequenos e jovens:
“É fato. Contato excessivo com as telas afeta
o bem-estar mental de crianças e jovens. A comunicação que se estabelece é só
da tela para a criança, da criança para a tela não há resposta, não há
interação. Nesta fase, o ser humano está com o cérebro em pleno desenvolvimento
e, para tal, é preciso interação, estímulo, resposta, trocas afetivas e
sensoriais. Para amadurecer, esse processo leva, em média, 20, 25 anos”,
explica Ana Cristina que complementa sendo ainda mais enfática no quanto o
excesso pode prejudicar os jovens, principalmente:
“Adolescentes, por exemplo, caracterizam-se
por serem mais impulsivos e predispostos a explorar e experimentar. Com um
cérebro ainda em formação, com o córtex pré-frontal imaturo, região cerebral
responsável por controlar impulsos, fazer julgamentos, resolver problemas,
manter a atenção e tomar decisões, os adolescentes estão mais propensos a buscar
o prazer sem pensar nas consequências. Simples assim, um ciclo vicioso, quanto
maior o prazer, maior a frequência na atividade. E hoje em dia já é consenso
entre especialistas de que é possível criar uma dependência não apenas de
substâncias químicas, mas também de comportamentos, como os jogos de azar ou o
uso de dispositivos eletrônicos”.
Riscos
reais, equilíbrio necessário
Muito se fala que o uso de telas, traz
problemas, mas quais são eles? Ana Cristina Gatti enumera:
“Os riscos são inúmeros, vão desde o
sedentarismo, uma vez que as crianças assumem uma postura mais passiva diante
das telas, se movimentado menos, aumentando o risco para doenças que
anteriormente não faziam parte do universo infantil, tais como problemas
cardiovasculares, obesidade, dentre outros”, fala a coordenadora do Colégio
Domus que vai além e traz um dado importante para jovens do sexo feminino,
principalmente, os transtornos alimentares e ansiedade:
“Seja porque o padrão alimentar foi alterado
pela permanência de horas nas telas ou por acesso a informações que incentivam
um ‘corpo idealizado’ e conteúdos sobre emagrecimento. Além disso, temos
transtornos do sono, onde a luz emitida pelas telas inibe a produção da
melatonina, um hormônio essencial para a indução do sono; problemas auditivos,
pelo uso de fones de ouvido num volume alto; de visão, pela falta de
vivência em espaços abertos, que estimulam uma visão de longo alcance;
transtornos psiquiátricos, que vão desde os Transtornos Ansiosos, passando pela
Depressão Infantil até transtornos mais graves que necessitam de intervenção
multiprofissional”, explica a profissional que lembra do perigo do uso sem
monitoramento de telas por crianças:
“A criança não possui senso crítico
suficiente para filtrar o que é certo e o que é errado, outro risco, é que ela
acaba sendo manipulada por pessoas perigosas e de má fé. São os diversos casos
de pedofilia que tomamos conhecimento pela mídia”.
Como
identificar o vídeo nos jovens e crianças?
“A primeira coisa é observar se a prática está
prejudicando algum aspecto da vida daquele indivíduo. Se ele apresenta
dificuldades nos âmbitos social, educacional ou familiar. Alguns exemplos
práticos desse prejuízo são a queda no rendimento escolar, a substituição do
dia pela noite, a ausência do jovem nas refeições e a falta de uma rotina
estabelecida, comportamentos irritadiços com baixa tolerância, crianças
imediatistas, querem tudo na hora, não sabem esperar, não sabem brincar com
seus pares, têm seu desenvolvimento psicomotor alterado, criam comportamentos
tipo dependência e isolamento. Pessoas que preferem ficar sozinhas com o
celular/tablet/jogos eletrônicos ao invés de interagir pessoalmente. Em
crianças, são aquelas que preferem sempre as telas ao invés da brincadeira no
parque ao ar livre ou mesmo em casa com brinquedos educativos”, diz Ana
Cristina.
A coordenadora do Colégio Domus ressalta que
as férias são um ponto crítico no uso excessivo, principalmente porque muitos
pais não conseguem conciliar o período de descanso com os filhos. “Os pais de
crianças menores não podem usar o celular ou o tablet como a babá que entretém,
enquanto eles fazem outras atividades. Já para as crianças mais velhas é muito
importante mesclar as atividades online com outros momentos”.
Ana Cristina Gatti dá alguns exemplos de como
segui de forma leve, divertida e longe das telas:
“Primeiramente criar regras, limitar o tempo
e, principalmente fazer programas mais interativos: andar de bicicleta, pular
corda, jogar bola, passeios pela natureza, brincar com tinta, massinha de
modelar, argila, jogos etc. São recomendações importantes para crianças de
qualquer idade, inclusive adolescentes. Uma ótima opção é criar um calendário
com horário durante as férias em que o pai e/ou a mãe consigam se dedicar aos
filhos. Sabemos que não é fácil, mas necessário. Cozinhar com o filho, incluir
ele no que você está fazendo, dar tarefas que o entretenha, além de buscar
passeios divertidos nas folgas, vai minimizar os danos e trazer interação e
conexão entre as famílias”, finaliza.
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