Falta de
manutenção pode trazer riscos para a saúde
A Argentina confirmou recentemente a causa de
quatro falecimentos e 11 infecções por uma pneumonia até então misteriosa. A
bactéria Legionella, que pode se espalhar por encanamentos de água
doce ou dutos de ar-condicionado, por exemplo, foi identificada como fonte do
surto. O pneumologista Gleison Guimarães lembra que as resoluções de vigilância
sanitária não citam a bactéria, o que pode esconder muito mais casos do que os
relatados, não apenas na Argentina, como no mundo.
Em meados dos anos 1990, por exemplo, a limpeza dos
equipamentos de ar ganhou notoriedade na mídia brasileira, como preocupação com
a saúde da população. “Foi em meados de 1998, em rede nacional, horário nobre,
no principal programa jornalístico da televisão brasileira, que o então Ministro
da Saúde, José Serra, anunciou que iria formar um grupo de estudo para publicar
uma legislação que obrigasse os responsáveis por sistemas de ar-condicionado em
todo o País a mantê-los limpos para que não fizesse mal à saúde da população
brasileira”, relembra o especialista.
Isso porque a infecção pela Legionella
pneumophila pode trazer dificuldade para respirar, falta de
ar e dor no peito, entre outros sintomas — daí a necessidade de ser
identificada e tratada por um pneumologista ou clínico geral, evitando
possíveis complicações. Sinais como esses e outros podem surgir até dez dias
após o contato com a bactéria.
Apesar de a contaminação acontecer por diferentes
meios, o médico destaca que o aparelho de ar-condicionado sem a devida limpeza
e filtros segue sendo um dos maiores potenciais para proliferação e difusão da
bactéria. “Tem também a torre de resfriamento do sistema de água de
condensação, muito utilizada em prédios comerciais, shopping centers,
hospitais e sistemas de médio e grande porte em todo o mundo. Nesse local, o
micro-organismo encontra condições favoráveis para seu crescimento e uma grande
dispersão de vapor de água pelo processo de evaporação causado nesse
equipamento, considerado um trocador de calor”, explica. Considerando o
cenário, as torres de resfriamento devem ficar pelo menos dez metros distantes
da captação de ar exterior do sistema de climatização do prédio, conforme NBR
16.401 da ABNT, além de longe da circulação de pessoas.
Quando os cuidados são tomados e os aparelhos que
podem ser criadouros de bactérias recebem a manutenção correta, ela não cresce
e nem se prolifera. Mas, quando em contato com as pessoas, a Legionella
pode causar dois tipos de problemas. O primeiro é benigno e pode ser comparado
à gripe, com sintomas leves que desaparecem entre dois e cinco dias e sem
tratamento. O segundo é comum entre pessoas com a saúde mais fragilizada e traz
uma infecção pulmonar que chega a ser fatal em 15% dos casos.
Apesar de a negligência com o tratamento dos
equipamentos que trabalham com circulação de água ser o principal fator para
que a bactéria se desenvolva, o setor hoteleiro tem uma história antiga com o
problema. O primeiro surto documentado foi em 1976, no Hotel Bellevue
Strafford, na Filadélfia. Foi o impulso para que, dez anos depois, fosse
iniciada a colaboração internacional de vigilância na Europa, com a formação do
European
Working Group for Legionella Infections. Em 1987, foi implantada a
vigilância europeia de infecções por Legionella em viagens.
De acordo com o pneumologista, “os usos típicos em
um hotel que representam risco podem ser bastante variados. Os pontos críticos
tradicionais incluem os sistemas de resfriamento (especialmente torres e
condensadores evaporativos), fan coils, unidades de tratamento de ar
e os chuveiros (tanto os das acomodações quanto dos chuveiros para os
colaboradores). Contudo, há outros sistemas, dependendo da complexidade do
empreendimento, que também devem ter atenção. São eles duchas para piscinas, spas,
jacuzzis, fontes decorativas em lobbies e áreas externas, sistema de
irrigação para áreas ajardinadas, entre outros”.
Gleison Guimarães - médico especialista em Pneumologia pela UFRJ e pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), especialista em Medicina do Sono pela Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS) e também em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Possui certificado de atuação em Medicina do Sono pela SBPT/AMB/CFM, Mestre em Clínica Médica/Pneumologia pela UFRJ, membro da American Academy of Sleep Medicine (AASM) e da European Respiratory Society (ERS). É também diretor do Instituto do Sono de Macaé (SONNO) e da Clinicar – Clínicas e Vacinas, membro efetivo do Departamento de Sono da SBPT. Atuou como coordenador de Políticas Públicas sobre Drogas no município de Macaé (2013) e pela Fundação Educacional de Macaé (Funemac), gestora da Cidade Universitária (FeMASS, UFF, UFRJ e UERJ) até 2016. Professor assistente de Pneumologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Campus Macaé.
https://drgleisonguimaraes.com.br/
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