Para Fabio Bentes, economista da CNC,
processo de desaceleração de preços visto no terceiro trimestre de 2022 ficou
para trás, e comerciantes precisam ficar de olho na inadimplênciaTânia Rêgo/Agência Brasil
Após três anos e meio de
pandemia do novo coronavírus, dois indicadores econômicos devem permanecer no
radar dos varejistas durante todo o ano de 2023: inflação e juros.
Cenário traçado por Fábio
Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio), revela um ano
nada favorável aos negócios e ao consumo.
O ano começou com expectativa
de alta de inflação. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do
IBGE, de trinta dias encerrado em 15 de janeiro, bateu em 0,55%.
Os setores que mais
contribuíram para essa alta de preços foram comunicação (2,37%), saúde e
cuidados pessoais (1,10%) e alimentos e bebidas, 0,55%.
“O processo de desaceleração de
preços verificado no terceiro trimestre do ano passado ficou para trás. A
inflação voltou, e em ritmo preocupante”, diz Bentes.
A alta de preços preocupa, de
acordo com ele, porque tudo indica que o novo governo deve manter uma política
fiscal expansionista, com menos compromissos com cortes de gastos.
“Isso faz com que as
expectativas de inflação subam. Há seis semanas a projeção de inflação para
este ano, que hoje está em 5,48%, está em alta”, diz.
Essa projeção está acima do
teto, 4,75%, e do centro da meta, de 3,5%. “Há dois anos há descumprimento do
teto e da meta de inflação.”
JUROS
Com inflação em alta, afirma
ele, as expectativas para a taxa básica de juros (Selic), hoje de 13,75%,
também são de alta.
A última projeção do Relatório
Focus, que reúne estimativas do mercado financeiro, é de uma taxa básica de
juros (Selic) de 12,5% para este ano.
“Com este cenário, um processo
para estimular a economia por meio de crédito fica bem mais difícil, pelo menos
na primeira metade deste ano”, afirma.
Como consequência, diz, o
varejo brasileiro deve crescer menos de 1% neste ano, ou 0,8%, de acordo com a
sua projeção.
Para o economista da CNC, a
taxa de juros média para o consumidor, que hoje é de 59% ao ano, deve subir
para 76% neste ano.
Hoje, a maior taxa de
financiamento para o consumidor é cobrada no parcelamento do cartão de crédito,
de 180% ao ano, segundo último dado do BC. “Uma dívida de R$ 1.000, com esta
taxa de juros, sobe para R$ 2.800”, diz Bentes.
Nas modalidades de crédito
pessoal, aquisição de veículos, e financiamento de outros bens, as taxas são de
44,5%, 27,7% e 78,9%, respectivamente, ao ano, de acordo com dados do BC.
INADIMPLÊNCIA
Com essas taxas de
financiamento, Bentes recomenda que os lojistas prestem mais atenção nos
atrasos de pagamentos de clientes.
“Inflação e juros altos devem
pressionar os indicadores de inadimplência.”
Em novembro do ano passado, a
taxa média de inadimplência no país era de 5,9% nos atrasos acima de 90 dias, a
maior taxa desde janeiro de 2017, de acordo com o BC.
Um mercado de trabalho em
expansão, afirma Bentes, poderia contribuir para a melhora deste cenário. “Mas
não podemos contar com isso em um ano em que a expectativa é de um crescimento
do PIB (Produto Interno Bruto) menor do que 1%.”
Para a equipe econômica da CNC,
a taxa de desemprego no país deve fechar 2022 em 9,5% e, neste ano, em 8,2%.
“Portanto, não será um ano fácil.”
BOLSA
FAMÍLIA
O Bolsa Família, recursos que o governo dará para as famílias mais pobres, na avaliação do economista, deve ter efeito limitado na economia. “Não são recursos capazes de fazer o consumo bombar.”
O economista da CNC recomenda
aos lojistas adequar o mix de produtos, considerando um mercado de trabalho
mais fraco e uma taxa de inadimplência mais pressionada.
“Na medida do possível, o
melhor é depender menos de crédito na hora de vender e de comprar. Se precisar
de recursos para capital de giro, é bom fazer pesquisa entre os bancos.”
O e-commerce, que foi a boia de
salvação de muitos lojistas, especialmente durante a fase mais crítica da pandemia,
diz, deve ser considerado por lojistas de todos os portes.
“O varejista deve continuar
apostando no e-commerce, mesmo considerando o que aconteceu com a Lojas
Americanas. Outros players devem assumir.”
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/lojista-vai-ter-de-conviver-com-inflacao-e-juros-altos-em-2023
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