Quando uma pedra é jogada na superfície de um lago,
por exemplo, ela gera uma série de ondas em sequência, que se espalham em todas
as direções e podem ser vistas por qualquer pessoa que esteja por perto do
ponto em que ela caiu. Esse é um fato científico reconhecido e imutável. Uma
pedra atirada sobre a água sempre terá essa consequência. Mas, assim como isso
é verdade, também é fato científico que essas ondas são mais grossas, fechadas,
rápidas e fortes imediatamente após a queda da pedra. Conforme as ondas se
afastam do centro, elas se tornam cada vez mais finas, abertas, lentas e
fracas. Por fim, acabam desaparecendo.
O mesmo acontece com um fato histórico da dimensão
da pandemia de covid-19. Significativo, suas consequências são inevitáveis em
todas as direções, da saúde à economia, passando pela redução da qualidade de
vida das pessoas e pelas demissões que atingem os mais diversos setores.
Acompanhamos esses efeitos globais ao longo dos últimos dois anos, desde que os
primeiros casos da doença foram identificados do outro lado do mundo. No
entanto, assim como acontece com as ondas formadas sobre a água quando uma
pedra é jogada, essas consequências também tendem a se tornar cada vez mais
esparsas, até que possamos finalmente considerar que elas desapareceram.
Neste período de incertezas e adaptações, o mercado
automotivo vem lutando bravamente e se preparando para uma retomada que, aos
poucos, vem acontecendo, apesar das adversidades. As cadeias produtivas em todo
o planeta ainda estão sofrendo os impactos de uma pandemia não totalmente
controlada. Quando essa retomada começava a se tornar mais perceptível, novos
eventos mundiais adicionaram novas ondas à superfície já conturbada desse lago.
Com a guerra na Ucrânia, a crise de insumos que já tinha sido registrada devido
à pandemia se tornou ainda mais preocupante. Os componentes são escassos e,
quando existem, têm seus custos cada vez mais altos e uma logística cada vez
mais complexa.
Diante de tantos desafios, as empresas que quiserem
ser bem sucedidas precisarão aprender a lidar com incertezas e imprevistos,
planejando e replanejando suas ações, tentando antecipar o reflexo dessas
mudanças globais. Com esse plano de fundo, montadoras e concessionárias em todo
o planeta foram compelidas a rever processos, enxugar quadros de funcionários,
reduzir custos e, em muitos casos, paralisar suas operações. Embora esses não
sejam tratamentos agradáveis para o problema, eles foram extremamente
necessários.
No caso das concessionárias, os problemas globais
aceleraram um processo que já vinha acontecendo. É uma realidade urgente o fato
de que elas precisam renovar seus modelos de negócio, principalmente via
digitalização. A barreira a ser rompida ainda é a resistência de um mercado tão
tradicional. Entretanto, é notável que esse mercado está começando a entender
essa necessidade. Em um momento de transição, como é o atual, é ainda mais
fundamental que esses empresários se sintam seguros para fazer esse movimento.
Isso só pode ser feito por meio de alianças com parceiros que efetivamente têm
a experiência necessária para compor uma estratégia digital completa,
especificamente desenhada para o mercado automotivo.
Para lá dos muros das empresas, que estão fazendo
todo o possível para garantir uma recuperação mais robusta a partir de agora,
também é preciso contar com um estofo que venha de outras áreas. Há, por
exemplo, questões de foro político que poderiam dar um impulso tanto para a
indústria quanto para o mercado brasileiro. Isso pode ser feito por meio da
redução de impostos e encargos trabalhistas, mas também com um maior
investimento em pesquisa e desenvolvimento, com a abertura de créditos para
inovação e com a oferta de crédito para capital de giro.
Já sabemos que as ondas causadas pela pandemia de
covid-19 estão cada vez mais fracas, finas e abertas. E, enquanto elas não
desaparecem, podemos erguer barreiras para que nossa cadeia automobilística
seja cada vez menos impactada por elas.
Marcos Pavesi - head comercial
da DealerSites.
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