- Segundo
dados do TSE, serão 1.866 candidatos em 2022 contra 1.469 em 2018
- Em
média, 6,6% das candidaturas nos Estados são de profissionais do setor
- Amazonas
e Distrito Federal têm maior número relativo de candidaturas policiais
- 94,9%
das candidaturas policiais são ligados a partidos do espectro da direita
Levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública aponta que o número de policiais candidatos nas eleições
gerais do Brasil cresceu 27% em relação às eleições de 2018. Em 2022, foram
registrados 1.866 candidatos oriundos das forças de segurança pública e defesa
contra 1.469 em 2018. Os números foram obtidos a partir de dados preliminares
do Tribunal Superior Eleitoral. O levantamento também mostra que se forem
consideradas as proporções de candidatos dessas categorias em relação ao total
de candidaturas em cada Unidade da Federação, teremos uma média de 6,6% de
participação de policiais nas eleições em 2022.
“Quando falamos em ‘politização’ das forças de
segurança, há uma acepção do termo que é positiva, ou seja, há a aposta da
Constituição de que todos os brasileiros se tornem cidadãos ativos e
conscientes de seus deveres e obrigações, bem como busquem defender seus
projetos políticos e interesses. Ruim é a radicalização partidária e ideológica
desses profissionais e a politização das instituições policiais, como se elas
fossem propriedade desse ou daquele grupo de pressão e/ou político”, diz o
diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de
Lima.
Os Estados com os maiores percentuais de candidatos
das forças de segurança são o Amazonas e Distrito Federal, com 11,3% e 10,1%,
respectivamente, do total das candidaturas locais. Em sentido contrário,
aparece o Ceará, que foi palco de fortes disputas políticas em torno da agenda
das polícias e que culminaram no motim da PMCE em 2021. No estado nordestino,
apenas 4,3% de todas as candidaturas registradas no TSE são, até o momento, de
profissionais da segurança pública. Já em termos absolutos, o estado com o
maior número de candidaturas é o Rio de Janeiro, com 251 nomes, seguido por São
Paulo, com 238, e por Minas Gerais, com 126. Vale lembrar, porém, que esses
três estados são os que têm os maiores efetivos de policiais militares e civis
do país.
Se as 1.866 candidaturas forem separadas por
corporações, a grande maioria é composta por policiais militares (807),
seguidos pelos policiais civis (188). As demais ocupações consideradas são:
Bombeiro Militar (117), Militar reformado (245), Membro das Forças Armadas (60)
e outras ocupações (449) – os últimos foram aferidos pelo nome de urna do
candidato. Os candidatos policiais foram identificados a partir da ocupação e
do nome de urna informados no cadastro disponibilizado pelo TSE em seu Portal
de Dados Abertos (dados gerados às 18h35 do dia 15/8).
No caso dos candidatos oriundos das PMs, observa-se
um crescimento de 8,8% em relação a 2018. “Ao contrário dos integrantes do
Ministério Público ou do Poder Judiciário, que precisam abrir mão de suas
carreiras caso queiram se candidatar, a legislação brasileira permite que
policiais disputem eleições sem a necessidade de saírem de suas carreiras nas
polícias e/ou estejam sujeitos a regras de transição. A legislação acaba por
privilegiar as carreiras policiais em relação às demais e isso facilita
candidaturas e protagonismo”, aponta o diretor-presidente do Fórum Brasileiro
de Segurança Pública.
Na prática, a autorização para militares das Forças
Armadas ou das Polícias Militares com mais de dez anos de serviço concorrerem às
eleições, sem precisar renunciar ao posto militar, está prevista na
Constituição de 1988. Só devem renunciar se forem eleitos, entrando
automaticamente para a reserva. Já os militares, sejam eles federais ou
estaduais, com até dez anos de serviço precisam se afastar permanentemente do
posto antes de se candidatar.
Perfil ideológico das candidaturas
Lima agregou as agremiações partidárias em que
policiais concorreram nas eleições ocorridas entre 2010 e 2018 nas categorias
esquerda, centro-esquerda, centro-direita e direita. Em média, 81,0% dos
profissionais das forças de segurança do Brasil que concorreram durante as
eleições no período concorreram por partidos de direita e centro-direita,
tradicionalmente mais vinculados às bandeiras conservadoras da sociedade.
Em 2018, esse número foi de 89,9% e agora em 2022
subiu para 94,9% das candidaturas de policiais e demais profissionais da área.
O PL, partido pelo qual Jair Bolsonaro concorre à reeleição, aparece com 232
nomes, seguido pelo PTB, com 140 policiais candidatos, seguido do Republicanos,
com 137. Em sentido oposto, também é válido notar que, em 2018, os partidos à
esquerda conquistaram 2,9% das candidaturas de policiais para as suas fileiras.
“Ao invés de se reaproximarem do universo policial e realizarem um trabalho de
base e formação política que pudesse rivalizar com a narrativa de
centro-direita e direita, partidos de esquerda buscam lançar candidatos
policiais sem, no entanto, construírem um discurso alternativo sobre ordem e
segurança”, diz Lima. “A depender dos planos de governo protocolados no TSE, há
um horizonte novo que talvez rompa essa tendência. Há o reconhecimento de que é
preciso falar de reestruturação das carreiras policiais e de se pensar a
segurança pública como direito fundamental. Isso implica propostas que não se
encerrem na atividade policial e, ao mesmo tempo, não caiam as armadilhas de
pautas corporativistas apenas”, conclui o diretor.
Sobre o Fórum Brasileiro de Segurança Pública:
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública foi constituído
em março de 2006 como uma organização não-governamental, apartidária e sem
fins lucrativos, cujo objetivo é construir um ambiente de referência e
cooperação técnica na área de atividade policial e na gestão de segurança
pública em todo o País. Composto por profissionais de diversos
segmentos (policiais, peritos, guardas municipais, operadores do sistema
de justiça criminal, pesquisadores acadêmicos e representantes da
sociedade civil), o FBSP tem por foco o aprimoramento técnico da atividade
policial e da governança democrática da segurança pública. O FBSP faz uma
aposta radical na transparência e na aproximação entre segmentos enquanto
ferramentas de prestação de contas e de modernização da segurança pública, compreendida
como direito fundamental e condição para o exercício da cidadania e para
justiça social.
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