Pesquisa mostra que a queda no desempenho escolar, dificuldade na prática de atividades físicas e isolamento são os gatilhos.
Meta-análise de 36 estudos recentemente publicada
na revista Ophthalmology indica que entre os problemas de visão mais frequentes
na infância, a miopia sem correção é a que tem maior impacto no desenvolvimento
de depressão e ansiedade. Para os pesquisadores estes dois distúrbios têm como
gatilhos a queda no desempenho escolar, dificuldade n prática de atividades físicas
e o isolamento imposto pela dificuldade de enxerga à distância que caracterizam
a miopia. A pesquisa também mostra que
a correção cirúrgica do estrabismo, bem menos frequente que a miopia, melhora a
autoestima. Por isso, diminui a depressão e a ansiedade que aumentaram mais de
25% no mundo durante a pandemia, de acordo com o novo Relatório de Saúde Mental
divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Em poucas palavras, corpo e
mente trabalham sincronizados.
Nova
Academia no Brasil
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto,
presidente do Instituto Penido Burnier de Campinas e membro da ABRACMO
(Academia Brasileira de Controle da Miopia e Ortoceratologia) instituição
recém-criada com o objetivo de desenvolver pesquisas sobre miopia, no Brasil
mais da metade das crianças nunca foi ao oftalmologista. “Nós da ABRACMO
estamos trabalhando para criar a cultura de prevenção, mas sabemos que isso não
acontece do dia para a noite”, pontua. Crianças raramente reclamam que estão
com dificuldade de enxergar porque não têm parâmetros do que é uma visão
límpida, salienta. Resultado: com a diminuição da pandemia muitas estão
chegando ao consultório com diagnóstico de TDAH (Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade) e até autismo por já estarem com miopia moderada que
dificulta a interação com o meio ambiente. Outras trazem uma carta do professor
que suspeita de alguma alteração na visão por aproximarem muito o rosto do
caderno ou livro.
Fatores de
risco
O oftalmologista afirma que dezenas de variantes
genéticas estão associadas à miopia. Por isso, quando o pai e a mãe são míopes
o risco de miopia é três vezes maior. Mas hoje o imperativo é a mudança no
estilo de vida. “Na pandemia, o
isolamento rigoroso, a falta de exposição ao sol que estimula células da retina
a produzirem dopamina, hormônio que regula o crescimento do olho maior na
miopia e a exposição prolongada às telas digitais, em um período que os únicos
companheiros foram o celular e o computador, também contribuíram com o incremento
de 40% da miopia infantil no País”, comenta.
Dá para
prevenir a alta miopia?
Queiroz Neto afirma que na miopia o mais
importante é prevenir sua progressão. O oftalmologista explica que até os dois
anos de idade toda criança tem hipermetropia, dificuldade de enxerga de perto,
porque o globo ocular está em processo de crescimento. “Continuar hipermetrope
depois dessa idade indica propensão à alta miopia. Isso porque, sinaliza que o
comprimento axial, distância entre a córnea e a retina, continua crescendo, uma
característica da alta miopia”, alerta.
Por isso a prevenção começa aos dois anos com uma biometria, exame que
mede o comprimento axial do olho.
O oftalmologista afirma que detectar a
predisposição à alta miopia, estabelecer sua correção traz 7 benefícios à
criança:
·
Melhora o desenvolvimento cognitivo.
·
Permite o controle da evolução para alta miopia que pode alterar a
massa cinzenta do córtex cerebral.
·
Faculta o diagnóstico e tratamento da ambliopia ou olho preguiçoso,
maior causa de cegueira monocular na infância.
·
Facilita o aprendizado e interação com o meio ambiente.
·
Previne 4 doenças que podem cegar: glaucoma, descolamento de retina,
catarata subcapsular e degeneração mióptica.
·
Reduz custos de tratamento.
·
Preserva da integridade da visão.
Controle do
grau
O maior desafio no tratamento da miopia é evitar a
alta miopia, acima de 6 graus, afirma Queiroz Neto. Isso porque a progressão
não deve ultrapassar 0,75/ano. Além disso se a biometria aumentar antes dos 10
anos mais de 0,3 mm/ano, ou depois dos 10 anos mais de 0,2 mm/ano indica miopia
descontrolada que aumenta o risco de maculopatia miópica 41 vezes, descolamento
de retina 22 vezes, catarata subcapsular posterior 6 vezes e a chance de
evoluir para glaucoma triplica. A boa notícia é que nos últimos anos as
terapias para manter a miopia sob controle tiveram grande evolução. Queiroz
Neto afirma que as principais são:
Colírio de
atropina – Indicado para crianças que começam com miopia mais
cedo é a terapia de menor custo, mas não deve ser utilizado em crianças
atópicas ou que tenham astigmatismo. Isso porque, o colírio pode provocar
reação alérgica intensa e uma protrusão na córnea que desencadeia astigmatismo.
Por segurança, Queiroz Neto afirma que só indica o medicamento após biometria e
topografia da córnea. O tratamento é de longo prazo, e deve ser instilado todas
as noite antes de ir dormir porque provoca a dilatação da pupila e embaçamento
da visão.
Lente de
contato gelatinosa
de descarte diário desenvolvida com uma tecnologia especial desenvolvida para conter o crescimento
do olho. A tecnologia não corrige astigmatismo. Apenas a miopia das crianças.
Óculos com
lentes especiais são a opção menos invasiva de controle da miopia.
Lente de
contato ortoceratológica que aplana a córnea durante a noite e elimina a
necessidade do correção visual durante o dia.
Queiroz Neto afirma que toda miopia estaciona com
o passar do tempo, mas não há uma regra para todos, depende sempre da avaliação
do oftalmologista que acompanha o caso.
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