De acordo com dados do Anuário de Segurança Pública houve um agravamento de todos os indicadores de violência de gênero
Em 1983, Maria da Penha foi vítima de dupla
tentativa de feminicídio por Marcos Antonio Heredia Viveros, à época seu
marido. Na primeira, ele simulou um assalto e lhe desferiu um tiro nas costas
enquanto ela dormia, deixando-a paraplégica. Na segunda, com Maria da Penha já
em uma cadeira de rodas, ele tentou eletrocutá-la durante o banho. Ela tinha 38
anos de idade e três filhas com seu algoz.
Esse terrível trecho da história da farmacêutica e
bioquímica cearense mudou toda sua trajetória e a tornou um símbolo do combate
à violência doméstica. Sua luta fez com que, em 7 de agosto de 2006, fosse
sancionada uma lei com seu nome para garantir proteção para mulheres contra
qualquer tipo de violência doméstica - seja física, psicológica, patrimonial ou
moral.
No aniversário de 16 anos da Lei Maria da Penha,
pouco se tem a comemorar uma vez que o cenário da violência contra a mulher no
País ainda assusta. De acordo com o Anuário de Segurança Pública, houve um
aumento generalizado nos indicadores de violência de gênero no Brasil no último
ano: para os casos de agressões (0,6%), ameaças (3,3%), chamadas ao 190 (4%) e
pedidos de medidas protetivas de urgência (13,6%) de mulheres vítimas de
violência doméstica e violência psicológica (17,6%). Já a agressão sexual aumentou
4,2% em relação ao último ano, sendo que 75,5% das vítimas eram vulneráveis,
sendo que 61,3% delas tinham até 13 anos de idade e em 79,6% dos casos o autor
do crime era conhecido da vítima.
Pela primeira vez, o estudo reuniu informações
sobre perseguição (stalking) e o número também assusta:
houve um crescimento de 35,8% nas denúncias.
Apesar das estatísticas, é impossível negar os
avanços trazidos pela lei, tanto em forma de encorajamento para as mulheres que
passaram a denunciar seus agressores, quanto no engajamento político para a
elaboração de fragmentos para aperfeiçoá-la. Em 2015, a Lei Maria da Penha foi
reforçada pela Lei do Feminicídio e o assassinato de uma mulher cometido por
razões da condição de sexo feminino passou a ter pena prevista de 12 a 30 anos
de reclusão.
Rede de proteção
“A Lei Maria da Penha, de fato, não evita que a
violência contra mulher aconteça. Mas é importante avaliar que antes não
existia uma rede de proteção, tampouco mecanismos eficientes de denúncia.
Antes, por exemplo, agressores eram punidos simplesmente com penas
alternativas, como com pagamento de cestas básicas ou pequenas multas”, explica
a advogada Débora Ghelman, especialista em Direitos de Família e sócia da Lemos
& Ghelman Advogados.
Uma das grandes conquistas da lei Maria da Penha
foi possibilitar que os agressores de mulheres no âmbito doméstico e familiar
fossem presos em flagrante ou tenham prisão preventiva decretada podendo ter
pena entre seis meses a três anos de detenção.
“A violência contra a mulher não é apenas um
problema de ordem privada ou individual, mas um fenômeno estrutural e de
responsabilidade da sociedade como um todo”, completa a advogada e sócia da
Lemos & Ghelman, Bianca Lemos, que finaliza dizendo que “a Lei Maria da
Penha é reconhecida pela ONU como uma das três melhores legislações do mundo no
enfrentamento à violência contra as mulheres e considerada por juristas como
uma ‘ação afirmativa’, ou seja, uma medida criada para combater desigualdades
sociais que persistem há anos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário