Especialistas na área de Direito e Tecnologia analisam e dão dicas de como se proteger e o que fazer em situações de contas invadidas
Atualmente, uma das maiores constatações no mund
o virtual é o número de golpes que as redes
sociais vêm contabilizando ano após ano. No período de janeiro de 2020 a
janeiro de 2021, as reclamações e relatos de contas hackeadas no Instagram e Facebook quase
dobraram. Mas, afinal, o que desperta o interesse desses criminosos? E o que
podemos fazer para evitar ou tentar diminuir as chances de ser enganado? O
professor do mestrado em Direito da Universidade Positivo (UP), Gabriel
Schulman, e o coordenador da Escola de Tecnologia da Informação da UP, Kristian
Capelini, respondem a essas e outras perguntas.
Prevenir
é melhor que remediar
“Quando
um serviço não é cobrado, o produto é o próprio usuário”. Com essa máxima sobre
proteção de dados pessoais, Schulman diz que sob o manto da gratuidade das
redes sociais, se esconde a circunstância que permite o enriquecimento de todas
elas, que se beneficiam com os dados pessoais e a intensa atividade
publicitária. Dessa forma, um dos grandes alvos de criminosos atualmente é,
justamente, as contas comerciais e com muitos seguidores.
Um
dos golpes mais comuns atualmente é o sequestro de conta para vendê-la
novamente para o próprio titular, ou para terceiros com outro nome (usando como
"benefício" o grande número de seguidores que o perfil possui). O
golpista coloca à venda produtos falsos com pedido de depósito em conta.
Sabendo de tudo isso, e tendo em vista que o Instagram e outras redes deveriam
também aumentar os mecanismos de segurança, Schulman alerta para alguns meios
de prevenção que podem ajudar a driblar os criminosos e proteger suas
informações, como a dupla autentificação, uso de senhas mais complexas, e muito
cuidado com pedidos de clicar em links ou enviar códigos. “Algumas podem
parecer básicas demais, mas são a porta de entrada para muitos crimes
cibernéticos ainda hoje”, garante.
1.
Não ter a mesma senha para o e-mail e para a rede social
Esse
é o princípio básico de segurança. Segundo Capeline, normalmente, a forma de
recuperação de senha mais simples nas redes sociais é pelo e-mail. “Se você tem
a mesma senha para os dois e sua conta é hackeada, acaba perdendo o acesso de
tudo”, alerta.
2.Trocar
a senha periodicamente
O
professor indica fazer essa alteração, pelo menos, a cada seis meses, para
aumentar a segurança dos dados pessoais.
3.
Não clicar em links suspeitos
A
grande maioria dos golpes se dá por meio de links de acesso que roubam senhas.
“Nesses casos, o ideal é falar com a pessoa por outro meio que não seja pelo
qual ela fez o envio e pedir que ela confirme por áudio, se possível, pois a
voz é mais difícil de ser fraudada”, aconselha Capeline.
4.
Habilitar a autenticação de dois fatores
Essa
é uma medida que a maioria das redes sociais possui e que aumenta, e muito, a
segurança da conta, pois, além de digitar a senha tradicional, a autenticação
solicita uma outra confirmação de acesso. “O recebimento de SMS pode ser uma
forma de ter uma verificação de duas etapas em sua conta, mas lembre-se que
essa opção não é infalível. De todas as formas, sempre faça a programação para
ter uma camada de segurança adicional quando novos logins forem solicitados”,
sugere Schulman.
5.
Controlar onde acessa as contas
Evitar
o acesso a e-mails, redes sociais, conta de bancos etc. em computadores de uso
público, como em hotéis, bibliotecas, empresas, e instituições de ensino, por
exemplo.
6.
Desativar as senhas automáticas do celular e dos computadores
Essa
é uma praticidade que encontramos hoje, mas que pode ser um facilitador para
alguém mal-intencionado que tem acesso a esses aparelhos.
Recuperando
a conta
Só
quem tem a conta roubada sabe a dor de cabeça que isso significa. O
cibercriminoso começa a manter contato com os seguidores assim que invade a
conta, se fazendo passar pelo proprietário do perfil e aplicando golpes. Às
vezes, o impacto é tão grande que o prejudicado não sabe por onde começar a
resolver o problema. Kristian Capeline explica que existem algumas formas de
tentar a recuperação das contas.
- Procure encontrar as causas do
problema: esse é o primeiro passo para
tentar resolver a situação. Se uma pessoa está se passando por você na
internet, provavelmente sua senha foi descoberta, ou então, depois de
autorizar o login com sua conta, algum sistema passou a realizar postagens
programadas para promover um produto ou serviço. A boa notícia é que se
você ainda tiver acesso ao e-mail no qual sua conta está conectada, é
possível recuperar a senha e expulsar invasores. Portanto, altere a senha
original ou então, envie um e-mail de recuperação para si mesmo para que,
dessa forma, você consiga acabar com o problema.
- Solicite um link de login: mesmo que não tenha mais a senha da conta, é possível
solicitá-la. Basta clicar em “Esqueceu sua Senha?” na página de login do
próprio Instagram. Será necessário confirmar o usuário da conta do
Instagram hackeado para então fazer as devidas alterações. Mas também é
possível confirmar que é dono de uma conta por meio da digitação do e-mail
cadastrado. Caso os dados realmente estejam conectados com algum usuário
da rede social, basta acessar o e-mail cadastrado para fazer o login. Uma
mensagem chegará ao endereço eletrônico oficial em segundos. Se tiver
optado por receber um SMS, o mesmo link será enviado para o celular.
- Salve os códigos de reserva: também disponível para quem usa Facebook, os códigos
de reserva, como o nome diz, são uma forma de conseguir recuperar a conta
no caso da senha original ter sido alterada. É importante que a senha seja
salva em um local que não é acessado por outras pessoas. Para saber quais
os códigos de reserva, é preciso seguir os seguintes passos: acessar as
Configurações e clicar em Segurança. Após, em Autenticação de dois fatores
e depois em Outros Métodos. Já em uma nova tela, o próximo passo é clicar
em Códigos de Reserva para que os números sejam exibidos. Antes disso,
será necessário conectar a conta com algum aplicativo de autenticação de
dois fatores para que os códigos de reserva sejam exibidos. Depois que a
conexão for estabelecida, os mesmos códigos podem ser consultados caso o
perfil do Instagram seja invadido. "É importante fazer uma captura de
tela ou anotar esses números em um documento que apenas você tem
acesso", ressalta Capeline.
- Acione empresas e pessoas
especializadas em recuperação de contas: Schulman considera essa uma boa opção, principalmente
para contas empresariais que não têm mais acesso aos seus perfis e que
podem ter grandes prejuízos com a perda do usuário. Nesse caso, um
especialista na área pode tentar recuperar o acesso.
Golpes
abrem espaço para mercado de empresas especializadas
É o
caso do Luiz Henrique Pereira, estudante de Engenharia Civil, que já recuperou
mais de 200 contas no Instagram apenas em 2022. O trabalho especializado
começou ajudando uma amiga que, na época, tinha 13 mil seguidores e teve a
conta invadida. “Ela contratou um advogado, mas pediu ajuda por conta da minha
facilidade com tecnologia. Fiz várias pesquisas e, após 16h, conseguimos
recuperar a conta. Enxerguei como uma oportunidade e minha amiga, feliz com o
resultado, começou divulgar meu trabalho no instagram dela como recuperador de
contas. Cinco dias depois, tive minha primeira cliente e, desde então, me
divido entre a rotina de estudos e o trabalho”, explica. O especialista também
recomenda a autenticação de dois fatores, a remoção do número de telefone do
Instagram, além de não deixar a conta do Facebook vinculada. Mais informações
@recupera_luiz
Juridicamente,
quais cuidados tomar
De
acordo com Gabriel Schulman, a pessoa que foi enganada pode reclamar com o
Instagram, mas normalmente não se cogita ação contra o dono do perfil hackeado.
“Ele também foi vítima de um golpe, ou seja, são duas pessoas lesadas”, avalia.
Para os perfis de empresas, o professor lembra que existe o Código de Defesa do
Consumidor; já para os perfis pessoais, a Justiça é que deve ser acionada.
Algumas
leis já foram criadas para punir os crimes cibernéticos, com penas mais duras.
É o caso da Lei Carolina Dieckmann, sancionada em 2012 para tipificar os
chamados delitos ou crimes informáticos. Segundo Schulman, algumas atualizações
em 2021 alteraram a pena de invasão de dispositivos informáticos alheios de um
para quatro anos de prisão e, havendo prejuízo econômico, a pena é aumentada.
Outro crime é o de fraude eletrônica, quando ocorre a utilização de informações
da vítima, obtidas por redes sociais ou contato telefônico, por exemplo. A pena
é de quatro a oito anos de reclusão.
Schulman
também alerta que a chance de recuperar valores depositados em contas bancárias
é muito pequena. “Embora não seja impossível, é difícil a vítima conseguir o
dinheiro de volta, pois os criminosos costumam sacar imediatamente as quantias,
impossibilitando de cancelar a transação. Além disso, as contas nunca estão nos
nomes dos próprios criminosos e sim, de laranjas”, esclarece.
Universidade Positivo
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