Grupos de proteção animal aproveitam celebração
global para promover a ideia de tratamento igual a diferentes espécies de
animaisPixabay
Já
se perguntou por que amamos alguns animais e comemos outros? Neste 27 de
agosto, a campanha Dia Mundial pelo Fim do Especismo traz à tona esse
importante debate e ajuda a conscientizar sobre o impacto de nossas relações
com animais não-humanos. Dezenas de organizações e grupos ao redor do mundo convidam as pessoas a
reconsiderar o grau de empatia que sentem por diferentes espécies de animais.
O
termo “especismo” foi cunhado pelo psicólogo inglês Richard D. Ryder, nos anos
70, e popularizado pelo filósofo australiano Peter Singer em seu livro
“Libertação Animal”, publicado em 1975. Trata-se de uma linha de pensamento que
investiga e questiona as razões pelas quais a humanidade hierarquiza o valor
dos animais com quem dividimos o planeta, determinando quais espécies merecem
consideração moral — e quais não.
“Apesar
de não haver nenhuma diferença fundamental em sua capacidade de sentir dor e
ter emoções, na prática, sujeitamos os animais da pecuária a um sofrimento
muito mais intenso e prolongado. Esses animais — como vacas, porcos e galinhas
— são submetidos a práticas que em muitos países seriam consideradas cruéis e
chocantes se fossem cometidas contra animais de estimação, como serem
confinados a vida inteira em ambientes apertados e mutilados sem anestesia.
Então, esta é uma data importante para pararmos e refletirmos sobre isso”,
afirma Fernanda Vieira, diretora de bem-estar animal da organização
internacional de proteção animal Sinergia Animal.
Mais
que dois pesos e duas medidas
A
cada ano, mais de
70 bilhões de animais terrestres são mortos ao redor do mundo para
alimentação. São 50 vezes mais animais do que o atual número de pets. Para
Vieira, essa disparidade em si já deveria causar debate. “Estamos falando de
bilhões de seres sencientes. Estudos mostram, por exemplo, que porcos são tão inteligentes
quanto cães e eles certamente sofrem do mesmo jeito”.
O
nível de proteção oferecido a diferentes espécies varia imensamente entre
países, culturas e, também, com o tempo. Em alguns casos, em menos de um ano.
Em 2021, o Reino Unido
reconheceu legalmente todos animais vertebrados como seres sencientes, o
que significa que são capazes de ter sentimentos positivos e negativos, como
prazer, alegria, dor e angústia. Neste ano, o governo britânico
adicionou algumas espécies invertebradas à lista, como lagostas, polvos e
caranguejos. Isso ajuda a garantir que suas necessidades e capacidade de sentir
dor sejam consideradas na criação de novas políticas públicas.
E em
outras partes do globo, a lei também tem acompanhado a ciência. O Animal Rights Index
oferece uma visão geral de como várias espécies de animais são tratadas e
protegidas ao redor do mundo. O Brasil aparece em 32º lugar no ranking —
pontuando mal pelo alto consumo de carne e uso de animais para vestuário, mas
melhor em termos de reconhecimento do sofrimento animal e pelo seu apoio à
Declaração Universal de Bem-Estar Animal.
Des-traçando
a linha
Há
décadas, a psicologia por trás do especismo intriga pesquisadores. Em 2019, um estudo
mostrou que a empatia e compaixão por outras espécies aumentam a depender do
grau de parentesco evolutivo com os seres humanos e se têm características em
comum conosco. Resultados semelhantes já tinham sido observados por Janis
Driscoll em 1995, na Universidade do Colorado, quando a cientista demonstrou
que as pessoas
têm a tendência de classificar mais mamíferos como “amáveis” do que peixes
ou aves.
“O
fato de não-mamíferos não serem considerados amáveis pode dessensibilizar as
pessoas diante de seu sofrimento. Por exemplo, ainda que se tenha menos empatia
por galinhas, não significa que elas não possam sentir e sofrer, muito pelo
contrário. Inclusive, em números absolutos, elas são uma das espécies que mais
sofrem em nosso sistema de alimentação”, alerta a diretora da Sinergia
Animal.
De
acordo com o estudo de Driscoll, as espécies de não-mamíferos geralmente também
são consideradas menos “inteligentes” pela população. “Peixes são um bom
exemplo disso. Apesar das vastas evidências da sua percepção à dor e de suas
complexas habilidades cognitivas, incluindo o autorreconhecimento e a
competência matemática, eles são os menos protegidos por políticas de bem-estar
animal — em grande parte porque a sua senciência ainda é amplamente ignorada”,
afirma Vieira.
Segundo
ela, quanto mais conhecimento se tem sobre a senciência animal, mais as pessoas
acabam se deparando com um paradoxo em seus pratos: “se alguém se choca só com
ideia de matar um cachorro, como essa mesma pessoa pode comer uma espécie
comprovadamente igual em
complexidade cognitiva e comportamental, como os porcos?”.
Assim
como a saúde e as preocupações com meio ambiente, questionar o especismo é uma
das razões que têm levado tantas pessoas a
adotar dietas mais compassivas nos últimos anos. No Brasil, a ONG Sinergia
Animal mantém uma comunidade online de voluntários dedicados a promover a
compaixão e a proteção dos animais.
Para
saber mais, acesse:
www.sinergiaanimalbrasil.org/ativistas
Sobre
a Sinergia Animal
A Sinergia Animal é uma organização internacional que trabalha em países do Sul Global para diminuir o sofrimento dos animais na indústria alimentícia e promover uma alimentação mais compassiva. A ONG é reconhecida como uma das mais eficientes do mundo pela renomada instituição Animal Charity Evaluators (ACE).
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