Poluição oferece risco ao
desenvolvimento de doenças pulmonares, cardiovasculares e neurológicas.
Populações de grandes cidades e de regiões com alta incidência de queimadas
estão entre as mais afetadas
Líder mundial no desmatamento e nas emissões associadas
ao uso da terra, o Brasil é o quarto país que mais emitiu gases poluentes, ou
seja, responsável por 5% de todas as emissões desde 1850, conforme o
levantamento da Carbon Brief. Além dos prejuízos para o planeta, a poluição
também afeta o nosso corpo, aumentando o risco de desenvolvimento de doenças
pulmonares, cardiovasculares e neurológicas.
“Existem evidências de que a poluição está relacionada a
diversas doenças, especialmente cardiovasculares (infarto agudo do miocárdio),
respiratórias, além de desregular o sistema nervoso central, com alterações
cognitivas e acidente vascular cerebral. Também está associada a alterações
para o desenvolvimento fetal na gravidez, diabetes mellitus, hipertensão
arterial e doenças do colágeno”, alerta a Dra. Blenda Endlich, pneumologista do
Hospital Santa Catarina -- Paulista.
Pesquisas, como a da World Resources Institute, mostram
que 51 mil brasileiros falecem todo ano em decorrência da poluição. Entre as
principais doenças relacionadas estão o câncer de pulmão, traqueia e doença
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Grande parte das populações afetadas está
nos centros urbanos e nas regiões com alta incidência de queimadas.
“Nas metrópoles, as pessoas têm mais estresse, são mais
sedentárias e a taxa de obesidade é maior. Fatores de risco que, somados à
poluição, acarretam inúmeras enfermidades”, explica o Dr. Nilton Carneiro,
cardiologista do Hospital Santa Catarina -- Paulista.
O principal responsável pela poluição no ar é o monóxido
de carbono, que pode ser emitido a partir da combustão de motores automotivos e
de queimadas. Esse poluente prejudica a oxigenação do corpo e causa diminuição
do reflexo e da visão. Na cidade de São Paulo, principal polo econômico do
país, 90% do gás é enviado para o ar por meio dos motores dos veículos
automotores.
“O sistema respiratório é um dos mais afetados pela poluição do ar devido à inalação de partículas que levam a alterações nas nossas defesas naturais e à formação de processos inflamatórios na via aérea”, diz a pneumologista. “No sistema cardiovascular, ocorre uma série de cascatas mecanísticas, que favorecem a coagulação, levando ao aumento no risco de trombose. Também há propensão de arritmia, por meio de uma inflamação e de uma vasoconstrição”, complementa o Dr. Nilton Carneiro.
Poluição é a quinta maior causa de mortes no mundo
De acordo com a Global Burden of Diseases, frente
internacional voltada à análise de impacto das mortes e riscos das doenças nos
sistemas de saúde, a poluição é a quinta maior causa de mortes no mundo, com
cerca de 7,6% dos óbitos. As populações que mais sofrem com os efeitos da
poluição do ar são os idosos, crianças e cidadãos de baixa renda. Durante o
inverno, as consequências para a saúde em decorrência dos poluentes tendem a
crescer, já que a concentração de componentes aumenta por conta da falta de
chuva.
“Todas as faixas etárias são afetadas pela poluição do
ar. Desde as crianças, com sintomas irritativos da exposição aguda, crises de
asma, infecções respiratórias e até alterações no desenvolvimento pulmonar.
Pessoas mais idosas, com período de exposição mais prolongado, estão
susceptíveis aos sintomas agudos e relacionados à exposição crônica”, afirma a
Dra. Blenda.
População que convive com índices mais altos de
poluentes, os moradores de grandes centros urbanos podem realizar pequenas
ações para diminuir a concentração de partículas poluidoras ao utilizar de
transporte público, especialmente trens e metrôs, menos poluentes, ou uso de
bicicletas, deixando de circular com carros particulares, contribuindo para a
redução da poluição.
“O objetivo final é a prevenção de doenças em grandes
cidades. Quando o indivíduo não tem escolha, ele precisa evitar outros fatores
de risco, tendo um cuidado maior com o sobrepeso, tabagismo, check-up do
sistema cardiovascular, mais vezes ao ano, e, principalmente, cobrança do poder
público sobre a mensuração da qualidade do ar”, reforça o cardiologista do
Hospital Santa Catarina - Paulista.
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