Especialistas explicam os fatores que podem causar essa doença e como identificá-la
A gravidez e o pós-parto são o
período de maior risco para o surgimento de um quadro
de tromboembolismo venoso (TEV) na vida de uma mulher,
com taxa cerca de quatro vezes maior que em uma
pessoa não gestante da mesma faixa etária. A trombose acontece quando um coágulo de sangue
interrompe a circulação de alguma veia ou artéria, comprometendo a irrigação e
a função regular daquele órgão ou tecido.
A alta ocorrência de casos entre gestantes se
dá, a princípio, por uma maior tendência
de hipercoagulabilidade do sangue durante esse período da
vida da mulher, algo que pode ser fruto da evolução, como um mecanismo de
sobrevivência. “Durante o período de periparto, as gestantes estão mais
propensas a sofrer hemorragias. Estudos indicam que essa maior tendência de coagulabilidade do
sangue pode ter sido a resposta evolutiva para proteção da mãe e dos bebês”,
explica Dr. Marcelo Melzer Teruchkin, cirurgião vascular do Hospital Moinhos de
Vento, em Porto Alegre, e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e de
Cirurgia Vascular (SBACV) e da Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia
(SBTH).
Porém, o mesmo mecanismo de proteção, unido a
outros fatores adversos, pode ser o causador de trombos, que podem causar
desde tromboses de veias superficiais, à trombose venosa profunda até à embolia
pulmonar.
Pacientes que precisam ficar em
repouso no leito por mais de quatro dias, e ainda a presença
de obesidade, elevam o risco para o desenvolvimento de uma
trombose venosa. “Nesses
casos, o coágulo pode obstruir o vaso responsável por trazer o
sangue que está voltando de um órgão ou de um membro para o coração e
pulmão. O mais comum é a trombose das pernas e, nesse caso, pode ocorrer
uma inflamação local”, esclarece a Dra. Joyce Annichino, hematologista e
professora do departamento de clínica médica da Unicamp, Vice-presidente da
SBTH.
Pacientes que apresentaram hemorragia superior a um
litro de sangue no período de pós-parto também apresentam risco
aumentando de trombose. “Se a paciente tiver a
necessidade de realizar uma transfusão, já pode ser um fator
de risco para a formação de coágulos” afirma o Dr. Teruchkin.
A idade também é um fator de ameaça para
trombose, já que naturalmente o risco de desenvolvimento de um coágulo venoso
aumenta com o envelhecimento do corpo. “Gestantes que estejam acima dos 40 anos precisam
estar atentas, pois, em muitos casos, com a idade, aparecem outros
fatores de risco, como a obesidade e cardiopatias”, completa o cirurgião. “Há
ainda fatores, como desidratação, procedimentos cirúrgicos durante a gestação
ou puerpério, varizes, diabetes e tabagismo, que completam um quadro de maior
predisposição à trombose”.
Sintomas, prevenção e tratamentos
É importante ressaltar que não há motivos para
pânico, já que existem medidas eficazes de prevenção e tratamentos. “A
gestante e a puérpera devem estar atentas a sintomas como dores em pernas, coxas,
braços e abdômen, inchaço, endurecimento, mudança de coloração (azulada ou
avermelhada) e calor no local, pois esses podem apontar para uma
possível trombose venosa profunda”, ressalta a Dra.
Joyce Annichino. “E a dor torácica, falta de ar
e elevação da frequência cardíaca e respiratória podem ser sintomas
da embolia pulmonar”.
“A prevenção do TEV periparto tem seus
pilares no acompanhamento obstétrico regular, controle de peso,
prática de atividade física orientada, boa hidratação, uso de meias
de compressão e profilaxia medicamentosa em situações
específicas. Já a base do tratamento está no uso de anticoagulantes,
repouso, meias de compressão e acompanhamento com cirurgião vascular”,
salienta Dr. Marcelo Teruchkin.
Prevenção da trombose no pós-parto
Após o nascimento do bebê, existe um aumento de
risco de trombose, muitas vezes superior a 30 vezes. “Em geral,
é o momento de maior risco de trombose na vida da mulher”, comenta a
Dra. Venina Barros, presidente da Comissão Nacional de
Tromboembolismo e Hemorragia na Mulher da FEBRASGO, médica da Clínica
Obstétrica do Setor de Trombose e Trombofilias na Gravidez
do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e membro da
SBTH. “Nessa fase, os fatores de risco para trombose precisam ser
avaliados em todas as pacientes. Desta forma, as mulheres de alto risco
para trombose devem receber, quando necessário, tratamento
preventivo com anticoagulantes, ou, quando não for
possível, devem ser orientadas para o uso de meias elásticas
e a iniciar movimentação o mais precoce possível após o parto”,
completa.
O risco de trombose também deve ser avaliado
quando a gestante precisa ficar internada no hospital por outro motivo
além da concepção, visto que mesmo após o parto normal, o risco de
trombose é grande – especialmente se o processo tiver sido muito
prolongado ou muito difícil. “A Federação Brasileira
das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) publicou
neste ano um manual de como prevenir trombose na hospitalização de gestantes e
puérperas, que está disponível para todos os ginecologistas. É muito
importante que a gestante peça uma avaliação do seu risco de trombose na
gravidez e no seu parto para o seu obstetra”, finaliza.
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