A matriz elétrica brasileira ainda está predominantemente baseada no uso de hidrelétricas de grande porte, que representam cerca de 60% de toda a capacidade de geração de eletricidade. Infelizmente, as grandes hidrelétricas dependem de chuvas no lugar certo e no momento certo, e ainda enfrentam competição pelo uso da água com outras atividades essenciais para a sociedade, como abastecimento humano, agricultura, pecuária, comércio, serviços e indústria.
Atualmente, quando falta água nos reservatórios das hidrelétricas brasileiras,
entram em cena as termelétricas a combustíveis fósseis. Mais caras, poluentes e
emissoras de gases de efeito estufa, elas formam o suporte emergencial de
geração do País. No entanto, essa antiga estratégia está desgastada e já
mostrou seus limites e efeitos colaterais: os aumentos nas contas de luz dos
brasileiros, com bandeiras amarelas e vermelhas, que prejudicam a economia do
País e pressionam a inflação, impactando inclusive os preços dos alimentos e
outros produtos essenciais.
Este cenário desafiador, porém, está em franca transformação: desde o início
dos anos 2000, houve um importante avanço rumo às fontes renováveis
não-hídricas. Estas fontes, limpas e competitivas, são baseadas em recursos
renováveis amplamente abundantes em várias regiões brasileiras, com destaque
para o Nordeste, que possui os melhores recursos solar e eólico do País.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico projeta que até o final de 2021 a
energia solar em usinas de geração centralizada representará 2,4% da matriz
elétrica brasileira. Adicionalmente, na geração própria em telhados e fachadas
de edificações ou pequenos terrenos, a fonte solar fotovoltaica é líder por
ampla margem, com 6 GW de potência operacional.
Em 2020, o Brasil recuperou seu protagonismo entre os “top 10” países que mais
instalaram energia solar no ano, tanto em grandes usinas quanto nos telhados e
pequenos terrenos. Foram cerca de R$ 15,9 bilhões em novos investimentos e 3,15
GW em potência adicionada no período. Dados da Agência Internacional de Energia
compilados pela ABSOLAR - Associação Brasileira de Energia Solar mostram hoje o
País na nona colocação do ranking anual global, no qual os cinco
primeiros são China, Estados Unidos, Vietnã, Japão e Alemanha.
Nesse cenário, o Nordeste se destaca em projetos de todos os portes e perfis. A
região conta com 2,4 GW em usinas fotovoltaicas em operação, o que representa
70% de toda a capacidade instalada da fonte em geração centralizada no Brasil.
Também é a principal região em termos de novos empreendimentos, alcançando 13,9
GW dos 24,3 GW de projetos em desenvolvimento.
Já na geração solar distribuída, são 1,1 GW de potência instalada e mais de 90
mil conexões operacionais. O Ceará é o primeiro colocado da região nesse
segmento (à frente de Bahia e Pernambuco), com mais de 14 mil conexões e 206,3
MW instalados, que beneficiam 18,4 mil consumidores em 98,4% dos 184 municípios
cearenses. O Ceará também está hoje na nona posição do ranking
nacional da ABSOLAR, respondendo por 3,4% de toda a potência instalada em
energia solar FV distribuída.
Dada a importância da geração própria de energia renovável no cenário econômico
e social do Brasil, a Câmara dos Deputados está em vias de aprovar o PL nº
5.829/2019, que estabelecerá o marco legal do segmento. Ele cria um arcabouço
legal para a modalidade, trazendo segurança jurídica e garantindo, em lei, o
direito do consumidor de gerar e consumir a própria energia a partir de fontes
limpas e renováveis. Isso contribui para reduzir os custos da conta de luz dos
consumidores, diminuindo o uso das termelétricas fósseis e as perdas elétricas
do sistema, entre diversos outros benefícios.
Com este novo marco legal, o setor solar deve trazer mais de R$ 139 bilhões em
investimentos e gerar mais de um milhão de novos empregos no Brasil nos
próximos anos.
Os benefícios da energia solar fotovoltaica estão presentes de forma
transversal na sociedade. As vantagens vão muito além da redução na conta de luz,
alívio necessário para a situação financeira das famílias brasileiras, cada vez
mais impactadas pela crise atual. Incluem, também, o cuidado com o aspecto
ambiental e promovem o desenvolvimento socioeconômico descentralizado, pois a
maioria dos negócios da geração distribuída são promovidos por pequenos
negócios.
No horizonte do setor elétrico brasileiro os rumos apontam, cada vez mais, para
as fontes renováveis, tendo o Nordeste como grande contribuinte e protagonista
desta transformação.
Jonas Becker – diretor-presidente da ECO Soluções em
Energia e coordenador estadual da ABSOLAR no Ceará
Rodrigo
Sauaia – CEO da ABSOLAR
Ronaldo
Koloszuk – presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR
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