Especialista
orienta como os pais devem administrar esse instrumento de educação financeira
Muitos adultos ainda acreditam que dinheiro não é
assunto para as crianças, que elas devem se preocupar apenas em brincar e
estudar, imaginando que são os estudos que as tornarão indivíduos bem-sucedidos
futuramente. Mas uma das bases para um futuro melhor passa pela educação
financeira, que deve estar presente na vida de todos desde cedo. Por isso, é
fundamental ensinar crianças e adolescentes não apenas a economizarem, mas
também fazer com que aprendam corretamente o manejo do dinheiro em busca de uma
vida melhor e sem sobressaltos.
Ao ensinar uma criança a lidar com o dinheiro,
quando adulta, certamente, ela terá maiores chances de administrar melhor o
salário, empreender e organizar a vida. Vai saber guardar para comprar mais
tarde ou no momento certo, e também a guardar para poupar mais e mais. De
acordo com o consultor pedagógico da Conquista Solução Educacional, Fernando
Vargas, a mesada é um poderoso instrumento de educação financeira, pois
possibilita à criança a capacidade de ordenar o orçamento, definir escolhas
sobre como usar o dinheiro e desenvolver um plano de poupança, uma espécie de
"bê-á-bá" das finanças.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha em
todo o Brasil aponta que apenas 16% dos jovens entrevistados recebem dinheiro
mensal dos pais. "Em primeiro lugar, é essencial entender que, em cada
idade do desenvolvimento, a visão da criança com relação ao dinheiro muda. Em
segundo, é preciso ter consciência de que as crianças estão expostas, desde os
primeiros anos de vida, a uma cultura consumista e embasada na ideia de que o
dinheiro é mais importante que a ética e os princípios morais", acrescenta
Vargas.
Para ajudar os pais nessa missão tão importante que
é a de construir as bases para a maturidade financeira dos filhos por meio da
mesada, o educador dá algumas orientações.
Regularidade
Segundo Vargas, a mesada só faz sentido se for dada
com regularidade, sempre na quantia e na data combinadas, para que a criança
seja capaz de planejar os gastos, organizar e ter controle de sua poupança.
"Gosto da ideia de 'semanadas' para crianças dos 3 aos 10 anos de idade
pois, nessa faixa etária, a noção de tempo é mais curta. Dos 3 aos 5 anos, os
pais terão a função de habituá-las a esperar para receber e gastar o dinheiro.
Deve ser fixado um dia específico e manter a disciplina de respeitar esse prazo
para ensinar a criança a lidar com a ansiedade." A partir dos 11 anos é
possível introduzir a mesada. Nessa fase, a noção de tempo já é maior.
Montante
Para o especialista, não existe valor certo nem
definido para uma mesada. O montante ideal é aquele que vai ao encontro do
orçamento e da realidade de cada família, sem excessos e variações, para que
possa atingir os objetivos da educação financeira. "Sugiro o seguinte
cálculo: R$ 1,00 por idade, semanalmente. Por exemplo, cinco anos = R$ 5,00 por
semana. E quando passar a ser mensal, multiplicar o valor semanal por 4",
aconselha. Com o tempo, e a partir do cenário econômico e familiar de cada um,
esse valor pode ser revisto e acordado entre pais e filhos.
Evitar barganhas e castigos
Vargas destaca que é importante nunca usar a mesada
como forma de ameaça ou castigo: “Se você não melhorar suas notas eu corto sua
mesada” ou “Só lhe darei a mesada se você me ajudar a arrumar a casa”. O
objetivo da mesada é ensinar educação financeira para a criança e jovem,
deixando que vivam as primeiras escolhas em relação ao dinheiro, não uma troca
ou instrumento para chantagem e barganhas. Eles não podem aprender que o
dinheiro depende desses subterfúgios.
Dar sentido e significado à prática
Outro ponto fundamental é sempre justificar o
motivo da mesada (ou semanada) no dia do pagamento: “Essa mesada é para que
você aprenda a lidar com seu dinheiro desde já”. Ao destacar isso todas as
vezes, os pais deixam claro que não estão dando aquele valor simplesmente por
dar e sim, com o objetivo de aprendizado, delegando assim responsabilidade no
uso do dinheiro.
Manter ao alcance dos olhos
A criança deve colocar o dinheiro guardado em um
pote de vidro transparente e com tampa para que ela possa ver o dinheiro
aumentando gradativamente, descobrindo, dessa forma, o prazer de poupar e que
quem poupa sempre tem. O cofrinho fechado, segundo o especialista, não é uma
boa opção, pois impede a criança de avaliar a sua poupança e a quantidade guardada.
Registrar os gastos
Dos 6 aos 10 anos, os pais devem estimular a
criança a registrar, todos os dias, seus gastos em um caderno, no computador ou
até mesmo utilizar algum aplicativo para esse fim. O registro possibilitará à
criança dar concretude ao vai-e-vem financeiro. A maioria das pessoas não
descobre o motivo de suas dificuldades financeiras porque não registra e não
utiliza os dados a seu favor.
Ensinar a poupar e também a gastar
Quando já são um pouco maiores, também é importante
que os adultos fiquem atentos em relação à total ausência de gastos, pois, se a
criança não usa e não gasta em nada, a educação financeira também se dará de
forma incompleta e sem equilíbrio. "Se os adultos pagam tudo para a
criança e não são estabelecidos objetivos, a criança terá dificuldades em saber
aplicar e usar bem o dinheiro a seu favor no futuro, além de desfrutar a vida
em plenitude emocional", alerta Vargas.
Permitir os tropeços
Um dos benefícios da mesada é propiciar à criança
que ela experimente o susto e angústia de falir. Tendo aprendido as
consequências do uso precipitado ou displicente do pouco dinheiro que possui,
os filhos aprenderão a evitar, no futuro, tropeços mais graves, com quantias
significativamente maiores. "Um dos pontos mais importantes nesse processo
de aprendizagem é a falência. Se os pais adotam o sistema de mesada, estão
dando chance aos filhos de, ocasionalmente, perderem tudo e aprenderem de
maneira prática, antecipada e significativa. E se há uma fase boa na vida para
ir à falência é na infância. Diante dessa situação, a criança passará a ter
mais controle e disciplina com seus gastos para não deixar acontecer novamente,
ou seja, é um aprendizado para toda vida", explica.
"O principal objetivo de educar os filhos em
relação ao dinheiro é levá-los a atingir a maturidade financeira, isto é, a
capacidade de adiar desejos de agora em função de futuros benefícios. A
educação financeira para crianças e jovens deve ser um projeto permanente, não
existe idade certa para começar, mas é desejável que seja iniciada o quanto
antes. A mesada, desde que bem administrada entre pais e filhos, pode ser um
poderoso aliado nesse processo de aprendizagem", conclui o educador.
Conquista
Solução Educacional
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