Desde
que o coronavírus se tornou um problema emergencial de saúde pública mundial,
muitos pesquisadores vêm buscando encontrar a possível “cura” para a doença.
Muitos estudos sobre medicamentos e vacinas estão sendo desenvolvidos em
diversos países a fim de conseguir controlar a pandemia, que infelizmente já
fez milhares de vítimas em todo o mundo.
Correndo
contra o tempo, os pesquisadores buscam solução em medicamentos já existentes
no mercado, tentando assim reduzir os danos até que saiam os resultados das pesquisas,
uma vez que os medicamentos que já se encontram à venda atualmente já passaram
por diversos testes para garantir sua eficácia, toxicidade e possíveis efeitos
colaterais.
Porém,
recentemente noticiou-se sobre a compra e uso indiscriminado de determinados
medicamentos, que estão sendo pesquisados como possível tratamento para a
covid-19, demonstrando o uso não racional destas drogas. Segundo a Organização
Mundial de Saúde, uso racional de medicamentos é quando “pacientes recebem
medicamentos para suas condições clínicas em doses adequadas às suas
necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e
para a comunidade”. Será que em tempos de pandemia devido ao coronavírus,
tem-se promovido esta prática?
O
que temos visto aumentar diariamente, em meio ao cenário em que estamos
vivendo, é a busca incessante por informações sobre medicamentos na internet,
resultando no aumento da errônea prática da automedicação.
Por
sua vez, entende-se por automedicação o “ato de tomar medicamentos por conta
própria sem uma orientação médica”. Este ato parece ser a solução nos momentos
em que é preciso aliviar sintomas, como os de uma dor de cabeça ou uma dor
muscular por exemplo. Mas, e quando a população começa a se automedicar com
medicamentos destinados a doenças específicas, como é o caso do lúpus, artrite
reumatoide e a malária?
Estamos
falando da automedicação de hidroxicloroquina, popularizada em março, após ter
sido divulgado o artigo intitulado “Efficacy of hydroxychloroquine in patients with
COVID-19: results of a randomized clinical trial” sobre o uso de
hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19, realizado no Hospital
Universitário da Universidade de Wuhan, na China, onde os pesquisadores ainda
discutiam as evidências científicas. Após a divulgação deste trabalho nas
mídias mundiais, viu-se a população fazendo filas nas farmácias para garantir
acesso a este medicamento por conta própria, mesmo sem ter o diagnóstico de
covid-19. Porém, os pacientes que realmente precisam dessa medicação, como
pessoas com artrite reumatoide, por exemplo, podem ver sua patologia se
agravando pela falta do uso da medicação ou ainda identificar o retorno de
sintomas, como a queda de cabelo, dores articulares e aumento do processo
inflamatório.
Diante
disso, a fim de conter o consumo indiscriminado do medicamento por pessoas que
não possuem indicação de uso da hidroxicloroquina e da cloroquina e de modo a
assegurar o tratamento de pacientes que fazem uso contínuo dessa medicação sem
ameaça de desabastecimento, a Anvisa, por meio da RDC 351/2020 incluiu as duas
drogas na Portaria 344/1998, que dispõe sobre medidas de controle para produção
e venda de substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob
controle especial.
Dessa
forma, atualmente para comprar o medicamento e garantir o seu tratamento, o
paciente deve apresentar uma receita de controle especial em duas vias com
validade de 30 dias. Porém, a medida não é válida para programas públicos
governamentais. Esta medida garantiu estoque para os pacientes que necessitam
do medicamento, mas por outro lado aumentou o fluxo em clínicas e hospitais
para que estes pacientes conseguissem a receita médica.
A
venda descontrolada do medicamento gerou dois problemas: o primeiro foi o
desabastecimento do produto nas farmácias, deixando pacientes que realmente
precisam fazer uso contínuo do medicamento sem conseguir adquiri-lo. O segundo
foi entender quem estava tomando este medicamento e tentar identificar quais
efeitos poderiam aparecer. Um dos efeitos colaterais que pode ser causado pelo
uso inadequado da hidroxicloroquina são batimentos cardíacos irregulares, que
podem evoluir para arritmia cardíaca e eventualmente levar à morte. Ou seja:
este medicamento só deve ser utilizado com prescrição e indicação médica.
Houve
ainda outro medicamento que, após ser anunciado como possível tratamento para a
covid-19, também foi adicionado à portaria de medicamentos controlados para
evitar o desabastecimento e o uso irracional desta droga. A nitazoxanida,
conhecida pelo nome comercial de “Anitta”, é um antiparasitário (popularmente
conhecido como vermífugo) e que agora também precisa de receita médica para
poder ser adquirido.
Por
fim, ressalta-se que o uso de medicamentos deve sempre ser feito com orientação
de um profissional de saúde, pois o seu uso indiscriminado pode trazer
problemas graves à saúde. Use medicamentos apenas quando necessário, e não
deixe quem realmente precisa sem poder utilizá-los. O dia 5 de maio é
lembrado por ser o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamento, data que tem
como objetivo alertar a população quanto aos riscos à saúde causados pela
automedicação.
Vinícius Bednarczuk de
Oliveira - farmacêutico, Doutor em Ciências Farmacêuticas — Coordenador do
Curso de Farmácia do Centro Universitário Internacional Uninter.
Patrícia Rondon Gallina -
farmacêutica, MBA em Farmácia Estética — Professora do Curso de Farmácia do
Centro Universitário Internacional Uninter.
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