Medidas de reclusão social podem
mascarar sintomas de depressão e distúrbios psiquiátricos; atenção durante a
pandemia da covid-19 deve ser redobrada
Desde a chegada da pandemia do novo coronavírus ao Brasil, a
população com idade acima de 60 anos tem sido o foco da preocupação, uma vez
que esse é o grupo mais vulnerável à doença. Os cuidados com o distanciamento
social para esta população é a melhor forma de evitar o contágio, mas os
cuidados com a saúde mental precisam ser redobrados.
Por isso a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)
chama atenção para a necessidade de focar a atenção na saúde mental dos idosos
durante o confinamento, pois as medidas de reclusão social podem mascarar
sintomas de depressão e de ansiedade e trazer à tona distúrbios psiquiátricos
já existentes. Características naturalmente atribuídas ao isolamento social
podem ser sinais de quadros mais graves, que podem colocar saúde e a vida
do idoso em risco.
“Quem já faz tratamento de quadros mais graves, como depressão e
ansiedade, inclusive que necessitam de acompanhamento medicamentoso, precisa de
um cuidado adicional agora, pois neste momento existem mais motivos para uma
piora desses tipos de quadros”, afirma a psicóloga, especialista em
Gerontologia e membro da diretoria da SBGG, Dra. Valmari Aranha.
De acordo com a especialista é preciso ficar muito atento a
mudanças muito bruscas de comportamento e da personalidade desta população. “A
quarentena pode mascarar sintomas de depressão na medida em que força as
pessoas a se manterem isoladas dentro de casa e perderem controle sobre sua
rotina, tais como alimentação, sono, realizar menos atividades físicas e de
lazer e também terem menos contato com amigos e familiares que poderiam lhes
ajudar com as dificuldades”, explica.
Além da depressão é preciso que as famílias fiquem muito atentas
com outras doenças que podem se agravar devido o excesso de tempo dentro de
casa, como o transtorno de ansiedade generalizada e a síndrome do pânico. “Além
disso, é necessário prestar atenção nos idosos que moram sozinhos e que podem
acabar tomando medicamentos em associação ao consumo de álcool”, alerta a
psicóloga e especialista em gerontologia.
Idosos lideram casos de depressão
No Brasil, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), existem cerca de 30 milhões de pessoas com 60
anos ou mais. Entre os idosos de 60 a 65 anos, 1,2% tinha depressão em 2017, de
acordo com a OMS, representando a faixa etária com mais pessoas depressivas no
Brasil.
Por isso esse cuidado é urgente, uma vez que, além de serem a
população mais atingida pela doença, também representam uma das faixas etárias
mais vulneráveis ao desenvolvimento de quadros graves de depressão. “Não é
porque o momento justifica inseguranças, medos, tristeza e desesperança que não
precisamos cuidar, que podemos deixar de prestar atenção em sinais de
agravamento destes sintomas nos idosos da nossa família”, conclui a
especialista.
SBGG - A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia
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