Depressão e ansiedade são efeitos
colaterais das bebidas alcoólicas Divulgação |
Isolamento social,
insônia, medo de contrair o novo Coranavírus e ansiedade podem ser gatilhos
para consumir ás bebidas alcoólicas para relaxar e esquecer dos problemas, no
entanto, o alcoolismo desencadeia a depressão
Apesar de trazer uma sensação de relaxamento, o
consumo de bebidas alcoólicas possui um efeito colateral: pode agravar os
quadros de depressão e ansiedade – principalmente em tempos de isolamento
social. Quem faz o alerta é a psiquiatra Alessandra Diehl, especialista em
dependência química e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos Sobre
o Álcool e Outras Drogas (ABEAD).
Segundo ela, é importante prestar a atenção nessa
duplicidade do álcool: a princípio, confere momentos de euforia, deixando a
pessoa animada. Mas esse prazer tem curta duração: é quase imediato e, na
sequência, piora os efeitos de ansiedade e depressão. “Portanto: buscar refúgio
na bebida nessa quarentena está longe de ser uma solução para aliviar o sintoma
de tristeza, provocada pelo confinamento”, afirma Alessandra.
Ela acrescenta que todo esse sentimento de
incertezas e inseguranças inerentes á pandemia, além da solidão, causada pelo
confinamento, são gatilhos para consumir bebidas alcoólicas. No entanto, todas
essas emoções vão continuar existindo quando o efeito do álcool acabar. “Além
disso, na memória das pessoas, o ato de beber está associado a momentos de
lazer, como os encontros com os amigos no happy hour ou nos churrascos em
família. As pessoas precisam ter noção de que, nessas ocasiões, a diversão está
na confraternização, nas brincadeiras nas rodas de conversa, e que o álcool é
apenas mais um ingrediente e não o único responsável pelo entretenimento. Por
isso, consumir bebidas alcoólicas (principalmente em excesso) para tentar
resgatar e vivenciar momentos de prazer na quarentena não vai devolver essa a
sensação de bem-estar que experimentamos quando estamos na companhia de quem a
gente gosta. O álcool é apenas uma fuga da realidade, que traz consequências
nocivas para nosso organismo e nossa saúde. O alcoolismo está associado a
doenças do fígado e do aparelho digestivo, câncer, comportamento violento e
depressão”, reflete Alessandra.
Para não ficar deprimido dentro de casa, a
recomendação da psiquiatra é encontrar alternativas para não perder o contato
com o mundo fora dos muros de casa. Aproveite a tecnologia e abuse das chamadas
de vídeo para se comunicar com os amigos e familiares. “Além disso, é
importante que as pessoas continuem trabalhando em seus projetos pessoais e
profissionais. Ocupar a mente com atividades de lazer e inclusive com o
autocuidado, como a preocupação com a alimentação equilibrada e com novas
propostas de atividades físicas são muito importantes nesse período. Meditar,
ler, cozinhar, assistir filmes e séries na tv e brincar com as crianças – no
caso de quem tem filhos – ajudam a aliviar o estresse coletivo de medo, que
podem resultar em diversos transtornos psicológicos. Definitivamente, beber não
é uma solução viável. Ao contrário: é contraindicada para a saúde mental na
quarentena”, avalia a vice-presidente da ABEAD.
Lives de artistas preocupam
especialistas
A pandemia nos apresentou um mundo novo: os
próprios artistas estão se adaptando para manter o contato com seu público fiel
enquanto os shows foram suspensos. As lives na internet ganharam ainda mais
popularidade e agora são protagonizadas com frequência por estrelas da música
sertaneja, entre outros estilos musicais. E para manter os contratos
publicitários com as indústrias de bebidas, muitos cantores estimulam o consumo
do álcool nas apresentações nas plataformas online e já houve casos de
integrantes de duplas sertanejas se apresentarem completamento alcoolizados.
A preocupação dos especialistas agora é com esse
tipo de propaganda, disseminada no que eles chamam de “botecos virtuais”. “A
Legislação, de 2015, permite a propaganda comercial por meio de pôsteres,
painéis e cartazes, na parte interna dos locais de venda, mas não pode induzir
as pessoas ao consumo. E agora, nos deparamos com a figura dos cantores,
promovendo marcas de cervejas nas lives, que chegam a ter 2,6 milhões de
visualizações simultâneas. Esse tipo de veiculação das marcas de cervejas causa
danos reais com a promoção da ingesta abusiva de álcool”, argumenta Alessandra.
Na opinião dela, esse é um momento oportuno para
apoiar o PLC 83/15 - projeto de lei com origem na Câmara de São Paulo, em
tramitação no Senado – que altera a Lei n° 9.294, de 15 de julho de 1996, para
vedar a propaganda comercial de bebidas alcoólicas nos meios de comunicação
social.
Além das propagandas, os deliverys de bebidas são
mais um incentivo para as pessoas consumirem álcool na quarentena e, em países
como os Estados Unidos, esse comportamento já está na mira das autoridades de
saúde. O Center of Desease and Control (CDC), órgão do governo americano
semelhante à ANVISA no Brasil, publicou um alerta quanto ao risco de aumento do
consumo de álcool e outras drogas durante o isolamento social.
Conforme o CDC, o aumento no consumo de bebidas
alcoólicas surge em paralelo a outras alterações emocionais e de comportamento
- dificuldade para dormir, ansiedade, medo de contrair a doença ou que pessoas
amadas as contraiam – e essa pode ser uma maneira perigosa de lidar com o
estresse. “Vale lembrar que as pessoas lidam de formas diferentes contra o
estresse e possuem diferentes vulnerabilidades. O consumo de bebidas alcoólicas
ou outras drogas, embora possa produzir um relaxamento inicial naquele que
consome, provoca uma série de prejuízos à saúde física e mental. E não se pode
atribuir um nível seguro de consumo quanto ao uso de substâncias. "Álcool
e drogas não combinam com vida saudável", finaliza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário