Relatório
recente do Banco Mundial alerta que, se os trabalhadores do Século 21 pretendem
competir com as máquinas, é melhor reduzirem salários, cortar direitos
trabalhistas e tornar custos humanos mais "baratos".
Particularmente, sou um
dos que o relatório produzido pelo Banco Mundial no dia 20 de abril de 2018,
chama de "criadores de cenários catastróficos". Esse apartado é
importante pois, as opiniões que expressarei aqui levam em consideração essa
"pecha" criada pelos estudiosos do Desemprego do Século 21.
Interessantíssimo
observar que, gradativamente, órgão oficiais, que até há pouco tempo,
sinalizavam que existia um exagero sobre a ascensão da tecnologia sobre o
trabalho humano, comecem a divulgar, em doses homeopáticas, novos relatórios
com análises "já não tão boas" sobre o futuro do trabalho.
Continuam a insistir que
não precisamos nos preocupar com a tecnologia ascendente na substituição dos
trabalhadores humanos e baseiam-se nos estudos de grandes e brilhantes
escritores e analistas DO PASSADO, para fundamentar que, apesar de todos os
alardes, nada foi como previram esses "catastróficos". Concordo!
Realmente, nos séculos
anteriores, as previsões relativas as 3 revoluções industriais pareciam
exageradas e traziam consigo muito mais um discurso de resistência socialista,
em contraposição a exploração humana pelo capital e o trabalho. Marx, Keynes…
todos "supervalorizaram" os danos, para justificar os prejuízos. E
naquela altura, o recurso aplicado e a ruptura de mercado causada comportavam
tais discussões nesse âmbito. O mundo era menor, a globalização ainda era um
conceito e a conectividade humana muitas vezes não ultrapassava as cartas
manuscritas entre as pessoas.
Será que algo mudou para
o mundo de hoje? Será que o trabalho, como o conhecemos, sofreu mudancas
impactantes? Sinceramente, tentaremos explicar um fenômeno nunca antes
vivenciado pela humanidade, sob a ótica dos estudiosos que igualmente não
vivenciaram nossa atual (e dura!) realidade? Em que medida isso agrega valor,
esclarece o cenário e alinha o futuro? Olhar para a frente, pelo retrovisor,
não parece uma atitude lógica…
E é isso que tenho
visto! Desde que iniciei uma página específica sobre o Desemprego
no Seculo 21, tenho dedicado algum tempo a refletir e buscar matérias e
estudos que possam ajudar o mercado a explicar e a se preparar para esse
impacto social. Afinal, desemprego, seja qual for a maneira como ele foi
gerado, é uma questão social! Mas nem sempre compreendem a finalidade.
Em uma outra
oportunidade, tive de esclarecer em um dos posts da página, que não sou contra
os robôs, tampouco sou socialista ou comunista ou o que quiserem me chamar, que
defende que tudo precisa ser proibido para que se preservem os empregos. Que
era "hipocrisia minha falar de desempregos causados pela tecnologia
postando do meu Iphone"… ledo engano!
Minha posição é
justamente trazer reflexões sobre os impactos da tecnologia no mundo do
trabalho e que estão acontecendo de forma silenciosa, sem que Governos e Instituições
se deêm conta de que, o agora, é bem diferente dos escritores e revolucionários
dos séculos passados.
Pensar as consequências
e malefícios que a adoção e crescimento desenfreado das tecnologias terá sobre
o trabalho assalariado é uma questão de política pública!
Não é "drama,
catástrofe ou exagero", é vida real, entendem? Afinal, querendo ou não, os
robôs estão ai, chegando e tomando espaço: quando iremos aceitar a realidade?
Quando iremos aceitá-los?
É muito bonito falar
sobre os "pequenos" impactos que a robotização, a I.A. e a automação
inteligentes trarão ao mercado, para quem esta EMPREGADO. Porém, tente vender o
mesmo discurso para o pai ou mãe de família que acabou de perder seu emprego
porque o "robozinho" novo da fábrica trabalha 24h por dia e produz o
mesmo que 20 trabalhadores ao mesmo tempo, com erro e desperdicio praticamente
zero, sem regras trabalhistas ou exigências burocráticas insustentáveis. Apenas
a título de sugestão, assistam um trecho do filme "A
fantástica fabrica de chocolate", quando o pai do protagonista é
substituído na colocação de tampas de pasta de dentes…
Na vida real, os robôs
já estão tomando conta dos trabalhos.
As evidências estão ai…
só não estamos prestando atenção nelas porque o ganho de agilidade,
conectividade e conveniência estão enchendo os olhos do mercado, mas basta
olhar em volta. Bancos estão se desintegrando fisicamente, demitindo milhares
de pessoas. Fábricas automotivas, que já foram a locomotiva de geração de
empregos mundo afora, demitem e reduzem a cada ano, enquanto mantêm a produção
e a melhoria contínua dos carros. Call centers praticamente se tornaram uma
salinha com um super servidor com assistentes virtuais e "bots" que
respondem a praticamente tudo!
E isso é só o começo! Eu
sou um entusiasta da inteligência artificial e tenho visto projetos que vão do
maravilhoso ao estarrecedor! Não sou um pesquisador, sou apenas um curioso! Mas
existem estudos para otimizar praticamente TUDO que fazemos em forma de
trabalho hoje (pelo menos da forma como o conhecemos). Alguns estudos ainda
mais embrionários, mas que na teoria da evolução dos sistemas e algoritmos,
serão possíveis em pouquíssimo tempo. A China tem demonstrado que, um bom banco
de dados, um governo autoritário e sistemas de inteligência artificial, podem
ser utilizados para controlar uma sociedade de maneira muito mais eficaz do que
por leis antiquadas.
Algumas coisas me causam
tanta preocupação, que sempre compartilho reportagens que mostram setores de
mercado que estão desenvolvendo tecnologias para que não dependam de
mão-de-obra humana direta. E isso é fato, não é estudo teórico! Não é alarde, é
evidência! Porque resistimos tanto em aceitar que a vida real passa pela
aceitacão dos nossos novos parceiros de trabalho?
Vejo em vários eventos
que participo, dezenas de palestrantes dizendo que o número de empregos que
SERÃO (sim, no futuro do presente do indicativo!) gerados pelas tecnologias e
robóticas vindouras, serão maiores do que o desemprego causado. Um discurso
bastante parecido com esse do Banco Mundial, de que com o tempo, tudo se
ajeita! E tenho sempre aproveitado o gancho para questioná-los das evidências,
dados e análises que fundamentam isso. Em sua maioria, deixam a pergunta em
aberto… ou se remetem, novamente, aos críticos da evolução das maquinas do
passado…
Esse último relatório do
Banco Mundial é um alerta velado, mas um alerta!
Talvez por politica
interna eles não possam ou não devam criar alarde, mas na prática, dizer que
"é melhor reduzir salários para que os trabalhadores possam competir com
as maquinas"… meu amigo, tem coelho nesse mato! E uma instituição da
envergadura do Banco Mundial tem sim o potencial de causar preocupação em
governos do mundo todo. Afinal, você, ai na sua vida, no seu dia a dia, tem visto
alguma política pública, ou alguém da estrutura estatal, apresentando projetos
ou falando como vai lidar com essa questão?
Todos sabemos em sã
consciência que não podemos COMPETIR com máquinas. Temos sim de nos UNIR a
elas… mas disputar espaço… é entrar em campo já com 7x1 no placar inicial
contra! E mais: o desemprego atual já está praticamente impossível de ser
revertido, não só no Brasil como no mundo todo. Aqui, o índice entre 12 e 13
milhões praticamente ja integrou as estatísticas… e ninguem sabe como resolver,
a verdade é essa! As possíveis soluções são as de sempre: aquecer a economia
para gerar empregos… só que ninguém diz COMO.
Políticas educacionais
que criem capacitação de curto prazo, em habilidades específicas e de
treinamento de máquina (sim, podemos ser bons "treinadores" para
robôs!) seriam bem vindas. Mas para isso, os atuais gestores teriam que se
preocupar menos em dar benefícios sociais, aceitar o fato de que o desemprego é
endêmico e preparar as pessoas para o mundo real que nos aguarda, e que está
bem perto.
Querendo ou não, só na
educação estruturada poderemos encontrar algum alento a essa dura realidade e
tornar, aí sim, seus impactos menores. Fora isso, ao menos diante dos estudos
que tenho visto até hoje, continuamos olhando o cenário com
"romantismo" exagerado, ancorando nossa segurança nos erros de
previsões do passado… e um passado bem diferente da nossa atual realidade.
É mais ou menos assim:
eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem!
Vinicius Carneiro Maximiliano - advogado corporativo e gestor contábil. Com MBA em Direito
Empresarial pela FGV e especialista em Direito Eletrônico pela PUC/MG, atuou
como advogado de Propriedade Intelectual no Brasil para a Motion Picture
Association (MPA), Associação de Defesa da Propriedade Intelectual (ADEPI) e
também para a União Brasileira de Video (UBV). Em seguida, foi gestor de
projetos especiais na Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) - e
Business Software Alliance (BSA). Nomeado pela OAB/SP para a Comissão de
Mercado de Capitais e Governança Corporativa. É diretor executivo da Etecon
Contabilidade, escritório especializado em questões fiscais e contábeis para
empresas tradicionais e da nova economia digital. Autor do livro "Dinheiro
na Multidão" – Oportunidades x Burocracia no Crowdfunding Nacional",
obra em que analisa o mercado de financiamento coletivo no Brasil e as questões
fiscais e burocráticas que podem impactar esse segmento de mercado.
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